Gosto de pensar na inovação como a transformação de uma ideia em algo rentável. Colocando dessa forma, podemos mais facilmente trabalhar a inovação em setores tradicionais, deixando por terra a ideia de que somente algo novo, tecnológico e extraordinário é uma inovação.
Dessa feita, fica evidente que a inovação está no DNA das empresas de base florestal, desde a nítida evolução dos processos industriais, com ganhos de eficiência, qualidade de produto e a redução importante de impactos ambientais e sociais, até a base florestal, onde a inovação excede processos, ao tratarmos da biologia dos indivíduos.
Por meio da inovação, temos conseguido manter a competitividade do setor frente à imensa pressão inflacionária da última década no Brasil. Em verdade, os insumos florestais tiveram um incremento de preço acima da inflação. Mesmo com o aumento expressivo do custo de fertilizantes e defensivos químicos, conseguimos frear o crescimento do custo do hectare plantado. Colhemos praticamente com o mesmo custo por metro cúbico há 10 anos, mesmo com o aumento do custo de materiais e serviços.
E, apesar do aumento de 85,24% do preço médio do óleo diesel de janeiro de 2010 a fevereiro de 2020, não refletimos 50% desse aumento no custo R$/m³/km de transporte da madeira. Sem falar do desafio de ganhar, ou até mesmo manter, a produtividade das florestas plantadas, superando as adversidades das mudanças climáticas e a expansão em novas fronteiras.
Nas operações, houve resultado de ganhos de produtividade decorrentes de ações nas áreas de desenvolvimento operacional, engenharia de manutenção e processos, refletidas no aumento dos índices de mecanização, na redução do consumo de combustíveis, no aumento da disponibilidade mecânica e na eficiência operacional.
Com a intensificação do uso de máquinas, passa a ser essencial a maximização do uso desses ativos, atrelada à confiabilidade mecânica, com custo competitivo. Encontrar e atuar na zona ideal de custo de manutenção versus disponibilidade e ações preditivas versus corretivas tem sido a agenda dos gestores operacionais. ERPs específicos foram adotados para suportar essas decisões e monitorar as atividades.
A pauta de inovação nesse âmbito está na telemetria dos equipamentos, que objetiva coletar dados sobre o desempenho mecânico vis-à-vis ao uso da máquina. Em sequência, reportar primeiramente ao operador, quando do uso fora dos parâmetros preestabelecidos, e, em caso de não adequação, a liderança imediata, escalando, caso entenda-se necessário.
O próximo passo será a manutenção preditiva (estimar quando o componente mecânico irá falhar, dadas as condições de operação), com o uso da grande massa de dados coletados dos equipamentos e operações. Não tomamos mais decisões com base empírica. Temos, cada vez mais, ampliado o monitoramento das atividades e dos recursos da cadeia produtiva florestal. Perguntas foram feitas, dados coletados, processados e organizados e, por fim, análises têm nos permitido ser muito assertivos nas decisões operacionais. Agora, buscamos desenvolver modelos e algoritmos para encontrar padrões que fogem à percepção humana. Buscamos especialistas em data science (cientistas de dados), e não mais analistas, para encontrar oportunidades de ganhos de produtividade.
Não obstante, tenho certeza de que o sucesso dessa etapa se dará ao encontrarmos ferramentas amigáveis aos usuários para a análise de dados complexos. Somente com a democratização desse conhecimento, nos níveis operacionais, iremos ter ganhos mais expressivos.
Damos passos largos para viabilizar a conectividade em campo, permitindo instalar sensores diversos nas máquinas, no ambiente operacional e até mesmo nas árvores, permitindo ampliar o acompanhamento das atividades e o comportamento da floresta em tempo real e avaliar como ganhar ainda mais eficiência. Os ganhos auferidos nas provas de conceito são surpreendentes, indicando que ainda temos muito espaço com tempos ociosos e vazamentos de produção.
Na área de melhoramento genético, temos nos debruçado em entender a interação genótipo-ambiente quando adentramos novas fronteiras. O melhor clone de eucalipto de uma região pode ser o pior de outra, em decorrência da mudança do ambiente em que ele está inserido. Ao mesmo tempo, buscamos, com dificuldade, materiais (clones) plásticos, tolerantes às variações climáticas, cada vez mais pronunciadas, e, ao mesmo tempo, resistentes à crescente de pragas e doenças. Com tantos fatores bióticos e abióticos ameaçando a produtividade florestal, garantir os níveis produtivos já alcançados já é um desafio. Seguimos na busca por materiais genéticos adaptados às realidades locais, é assim que alcançaremos incrementos produtivos.
No processo de melhoramento genético tradicional, o ciclo é longo. Desde a hibridação, teste de progênie, produção de mudas e testes clonais, são aproximadamente 12 anos para a seleção de um clone de eucalipto. Objetivando reduzir esse tempo de resposta, estão sendo realizados experimentos de seleção genômica ampla (SGA), buscando desenvolver um modelo de predição com base em marcadores genômicos para seleção, em menor tempo, de indivíduos superiores, com a otimização de testes de progênies e aceleração na seleção de testes clonais.
Com a biotecnologia, também temos uma boa promessa de resultados, além dos GMOs: experimentos de poliploidia, na expectativa de que, aumentando a quantidade de genomas no núcleo, consigamos efeitos de incremento vegetativo (gigantismo) ou alteração de propriedades específicas, como de qualidade da madeira. Na área da metagenômica, buscamos prospectar microrganismos associados à cultura do eucalipto (biodiversidade microbiana) e propor formulações de comunidades sintéticas, visando ao incremento de produtividade e tolerância ao estresse hídrico. Em uma linguagem mais simples, desenvolver “probióticos” florestais.
A inovação também está presente no manejo integrado e sustentável das florestas. Condição sine qua non para atingirmos os níveis esperados de produtividade e competitividade, desde a recomendação técnica de fertilizantes e defensivos e seu correto emprego ao controle de pragas e doenças, preconizando o uso racional dos recursos, de forma minimamente invasiva, a custos competitivos. Nesse front, em face das adversidades climáticas, projetos de ecofisiologia (estudo da diversidade fisiológica em relação ao ambiente e seu impacto nos organismos) para entender o estresse hídrico e térmico das plantas estão em curso. Na ação contra as pragas e doenças florestais, biofábricas estão sendo construídas para reproduzir inimigos naturais das pragas de maior relevância, reduzindo o uso de químicos e garantindo maior estabilidade das populações.
Mas, por fim, por trás de todos esses processos de inovação, estão as pessoas. Nada disso será possível se não as engajarmos nesse propósito. Se inovação é a transformação de uma ideia, para que ideias surjam, é necessário que criemos um ambiente propício. Se o indivíduo está em um lugar em que ele não gostaria de estar, mas o faz estritamente por questões financeiras, de subsistência, o único pensamento que o vai cercar é de que o tempo passe rápido para que aquele período de “sacrifício” encerre. Não podemos crer que alguma ideia criativa será expressa nesse contexto.
Não basta mais motivarmos com recompensas financeiras em troca de cobranças rígidas de resultado. Precisamos dar propósito às pessoas. Elas precisam sentir-se parte integrante e essencial do negócio, ter orgulho do que fazem e de onde estão, em um espaço diverso e de reconhecimento, para que, então, estejam engajadas com o sucesso coletivo. Certamente, nesse ambiente, fomentaremos as boas ideias, inovadoras e rentáveis.