Governador do Estado de Santa Catarina
Op-CP-09
A tarefa do homem, ensina o Gênesis, é “encher a terra e submetê-la”. Coerente com essa pregação bíblica, a argumentação dos ingleses recém-chegados a Massachusetts, em defesa da ocupação dos territórios indígenas, baseava-se na idéia de que quem não tem capacidade de, por si mesmo, submeter e cultivar a terra, não tem o direito de impedir que outros o façam.
Dois séculos depois, em 1854, ao conhecer a carta do cacique Seatle, da tribo Duwamish, ao presidente dos EUA, Franklin Pierce, a humanidade começou a perceber que havia algo de muito sério nas suas palavras: “Há uma ligação em tudo. O que ocorrer com a terra, recairá sobre os filhos da terra”. Pouco antes, na França, o filósofo Voltaire já intuía a mesma coisa: “O homem argumenta, a natureza age”.
Apesar desses insights isolados, a lógica de converter natureza em cultura ainda perduraria por mais um século. A conscientização ecológica só começou a surgir quando a destruição tornou-se visível, concreta, palpável, acarretando graves mudanças climáticas e severos prejuízos ambientais. A humanidade passa do estágio da violência contra a natureza, para o da preocupação com a sua proteção.
Começa a ficar claro que a vida na Terra é um projeto micro e macro ao mesmo tempo, cuja complexidade inicia-se nos núcleos das células e se espalha no cosmos, e que, como ensinava o saber histórico do velho cacique, “há uma ligação em tudo”. Fruto desse longo processo de amadurecimento, hoje, já está disponível a tecnologia adequada e suficiente, para garantir uma exploração sustentável dos nossos recursos naturais.
Em função disso, ao discursar no I Congresso Internacional do Pinus, em Joinville, ponderei: como pode alguém dizer que ninguém se alimenta de pinus e usar esse argumento como defesa para a invasão de terras? Como, se só a Klabin gera 14 mil empregos, entre diretos e indiretos? Indaguei, também: como pode alguém falar em agressão ao meio ambiente, se é sabido que, enquanto as florestas nativas crescem de três a quatro m³ por ha/ano, nossas florestas de pinus crescem, em média, 30 m³ por ha/ano, ou seja, cada hectare de pinus protege seis hectares de mata nativa? Conclui dizendo que só os mais radicais defensores do atraso ainda insistem em desconhecer que o Pinus é uma espécie já completamente adaptada às condições brasileiras, com enorme potencial para expansão.
Convencido de que vivemos uma nova realidade científica e tecnológica, que viabiliza a sustentabilidade do agronegócio, e, ao mesmo tempo, vigilante no cumprimento dos limites e parâmetros ditados pela normatização ambiental, o Governo do Estado de Santa Catarina apóia e incentiva, vigorosamente, o setor florestal, tendo em vista o desenvolvimento econômico e os interesses vitais do povo catarinense.
Detendo pouco mais de 1% do território nacional, temos mais potencial no setor florestal do que a Suécia. Com mais de 360 mil hectares de florestas plantadas, somos o terceiro maior produtor de celulose e papel, o primeiro produtor de celulose de fibra longa e o segundo maior produtor de derivados da madeira.
No início deste século, a área plantada com pinus no território nacional totalizava 1,84 milhão de hectares, dos quais mais de 318 mil estavam em território catarinense. Só a região de Lages tem, hoje, mais de 70 milhões de pés de pinus, o que faz dela a terceira maior área reflorestada do mundo, só perdendo para a Finlândia e a Suécia.
Ainda assim, as possibilidades de crescimento desse setor são enormes, haja vista a demanda por madeira certificada, ser bem superior à oferta. O Brasil refloresta apenas 250 mil hectares e consome 350 mil hectares de pinus por ano, sem falar da imensa procura externa e do novo filão representado pelo crédito de carbono.
Temos inúmeras vantagens competitivas:
Em termos energéticos, cada pinus equivale a um barril de petróleo. Um hectare de árvores adultas vale, em média, US$ 100 mil. Graças às mais modernas tecnologias, mudas geneticamente aperfeiçoadas, importadas da África do Sul, garantem qualidade e durabilidade equivalentes às das madeiras nobres. Como matéria-prima para o papel, o abate pode ser feito já a partir do sexto ano e, para móveis, a partir de vinte anos.
Com crescimento de 10%, em relação a 2005, as vendas externas de produtos de base florestal (madeira, móveis , papel e celulose) atingiram, no último ano, o volume de US$ 8,21 bilhões, com destaque para papel e celulose, cujas vendas cresceram 17,6%. No segmento de madeira, pelo sétimo ano consecutivo, as exportações brasileiras apresentam resultados positivos.
O volume total exportado em 2006 atingiu US$ 3.159.304.044, um aumento de 4,21%, em relação a 2005. O maior estado exportador continua sendo o Paraná, com US$ 1,05 bilhão, seguido por Santa Catarina. O segmento de móveis teve uma ligeira oscilação negativa de 2,58% nas exportações em 2006, totalizando US$ 720 milhões, ante os US$ 765 milhões do ano anterior. O maior estado exportador é Santa Catarina, com vendas de US$ 377 milhões. Tudo isso aponta, claramente, para uma excelente opção de Política Florestal, com grande potencial de geração de renda, empregos e divisas. Opção que o Governo do Estado de Santa Catarina incentiva e se dispõe a viabilizar, como facilitador.