Me chame no WhatsApp Agora!

Rodrigo Zagonel

Gerente de Silvicultura e Viveiro ES/BA da Fibria

Op-CP-51

Tendências e necessidades para a evolução da mecanização do plantio florestal
A área florestal é, sem dúvida, um dos mais importantes segmentos do agronegócio do Brasil. Segundo informações do relatório da Indústria Brasileira de Árvores, temos 7,84 milhões de hectares de árvores plantadas e possuímos a maior produtividade média mundial, graças aos avanços em manejo, ao melhoramento genético e ao clima favorável. 
 
Essa posição nos deixaria confortáveis se fosse a única preocupação do setor. Apesar de estarmos em primeiro lugar na produtividade da floresta, não vimos grandes mudanças nesse indicador na última década. 
 
Segundo nota econômica divulgada pela Confederação Nacional da Indústria, a indústria brasileira tonou-se menos competitiva nos últimos 10 anos. Um dos indicadores avaliados é o Custo Unitário do Trabalho (CUT), no qual tivemos um aumento de 136% entre 2002 e 2010, taxa cerca de duas vezes superior à da Austrália, que foi de 67% no mesmo período. Um outro comparativo divulgado pela Folha de S. Paulo em 2017 avalia a produtividade do brasileiro com a de outros países.

São necessários quatro brasileiros para produzir o mesmo que um americano, e, quando nos comparamos a outros países em desenvolvimento, o trabalhador brasileiro é mais produtivo que o indiano (2,09 indianos/brasileiro) e o chinês (1,2 chinês/brasileiro), mas, para esses dois, houve evolução positiva de 383% e 422%, respectivamente, nos últimos 15 anos, deixando clara a estagnação da evolução da produtividade dos setores produtivos brasileiros.
 
Algo que também serve de alerta é a tendência de redução da disponibilidade de mão de obra no campo. De acordo com um estudo publicado pela Organização das Nações Unidas para os Assentamentos Urbanos, a população rural brasileira deve chegar a 2030 a 9,9%, indicando uma redução de quase 50% na participação da população rural quando comparados aos 15,6 % de 2010.
 
Nesse cenário, a busca do setor florestal por inovações e tecnologias que tragam aumento efetivo da produtividade das atividades é crucial para a manutenção da competitividade, e o grande desafio está na mecanização das atividades de silvicultura. 
 
Uma das operações mais importantes na formação de uma floresta é uma das que menos sofreu evolução nos últimos anos. O plantio é uma atividade que, ao longo dos últimos 10 anos, pouco evoluiu em sua forma de execução. Basicamente, é realizado de forma manual, semimecanizada e/ou mecanizada, sendo a operação mecanizada utilizada em maior escala apenas na implantação de novos povoamentos (1º Ciclo), com raras iniciativas em áreas de reforma, principalmente pensando no desafio de povoamentos de três ou mais ciclos.
 
Considerando o cenário apresentado anteriormente, a grande questão é como podemos mudar o modelo atual de plantio e torná-lo mais eficiente e produtivo. O setor vem buscando avanços significativos para o plantio e outras atividades, seja por meio de iniciativas internas ou por programas cooperativos, como o Programa Cooperativo sobre Mecanização e Automação Florestal (PCMAF), que nasceu do interesse das empresas filiadas ao Programa de Cooperativo sobre Silvicultura e Manejo (PTSM), conduzido pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (IPEF) e as empresas parceiras.

As iniciativas no geral têm sido voltadas principalmente a três linhas para atingir esse objetivo: modelos de preparo de solo que possibilitem a realização das operações de plantio mecanizado, desenvolvimento de equipamentos e modelos que tornem o plantio mecanizado viável em áreas de reforma onde já se passaram mais de 2 ciclos de formação de floresta e no planejamento operacional das atividades, melhorando seus indicadores operacionais, principalmente a eficiência operacional.
 
Por que o preparo de solo interfere na evolução do plantio mecanizado? É a atividade chave para a formação de florestas e, basicamente, a que direciona o nível de desafio para o desenvolvimento e para o sucesso dos novos equipamentos e tendências do plantio mecanizado. Afinal, um preparo de solo que garanta o paralelismo das linhas, o georreferenciamento, a redução dos impedimentos nas linhas (tocos e cascas) e um bom acabamento pode ser determinante.
 
O grande desafio do plantio mecanizado, hoje, está em áreas com mais de dois ciclos de florestas. Os tocos antigos, resíduos e espaçamentos irregulares não permitem uma operação economicamente viável, principalmente se utilizarmos os modelos atuais de plantadeiras disponíveis no mercado. 
 
O setor florestal tem trabalhado muito no desenvolvimento de novos equipamentos que possibilitem a execução do plantio de forma mecanizada em condições adversas e, também, resgatando alguns projetos passados considerados inviáveis, conquistando alguns resultados positivos. 
 
Já é possível, por exemplo, definir um espaçamento entre plantas e controlar a quantidade de mudas por hectare com o auxílio de computadores de bordo, reduzindo, ao mesmo tempo, a frequência de quebra nas plantadeiras em áreas com mais de dois ciclos. Na Europa, na América do Norte e no Chile, os cabeçotes plantadores estão sendo utilizados em escala operacional, porém esses equipamentos não atingiram uma produtividade adequada para garantir viabilidade econômica em diferentes cenários e em larga escala nas nossas condições.
 
Olhando para o futuro, boa parte dos esforços estão concentrados em viabilizar a operação de plantio mecanizado conjugando o máximo de atividades e a geração de informações. Algumas das novas linhas de desenvolvimento são promissoras e demonstram grande evolução nos implementos de plantio. 
 
Os avanços variam desde implementos acoplados a tratores florestais, desenvolvimento de tratores/plantadeiras específicas para o plantio e até equipamentos que possibilitam o plantio de várias linhas de forma simultânea, sem esquecer das tecnologias embarcadas que permitem a geração de informações como o georreferenciamento das mudas, o que pode possibilitar o desenvolvimento de outras aplicações, como a irrigação mecanizada automatizada.
 
E essa evolução não fica somente no nível tecnológico. Todo esse investimento necessário em equipamentos mais robustos e eficientes para o preparo de solo ou do plantio mecanizado tem sido traduzido na necessidade de um planejamento e uma eficiência operacional similares aos patamares alcançados hoje pela colheita. Os grandes conceitos de plano de manutenção, operação 24 horas e plano de abastecimento têm sido aplicados aos módulos de silvicultura, elevando a eficiência das operações e deixando de lado aquela visão de máquinas quebradas e ineficiência do início da mecanização. 
 
A grande mudança já se iniciou, e é fundamental que os profissionais do setor, prestadores de serviços e parceiros atentem para esse novo cenário.