Diretor Florestal da Stora Enso
Op-CP-08
A indústria de celulose e papel é expressiva na economia de vários países, contribuindo para o desenvolvimento da sociedade, quer pela atividade econômica que sua cadeia de produção gera, quer pelos seus produtos, que são importantes para o desenvolvimento e bem-estar da sociedade.
Fabricar papel é uma indústria muito antiga: começou há cerca de dois mil anos na China. Da China, avançou lentamente para a Europa, através do Uzbequistão, Bagdá, Egito, Marrocos e depois Espanha e sul da França. Chegou na Alemanha no século XIII e na Inglaterra no século XV.
A primeira fábrica nos Estados Unidos foi construída em 1690, na Pensilvânia. No Brasil, tem-se registro de que a primeira fábrica foi construída em 1809, no Rio de Janeiro. Na fabricação de papel, foram usadas várias fontes de fibras: árvores de diferentes espécies, linho e algodão. A abundância de recursos florestais no hemisfério norte, principalmente as florestas de coníferas (pinheiros), fez com que as grandes empresas produtoras de papel tenham se estabelecido nos países escandinavos, Estados Unidos e Canadá.
Os países industrializados, que também estão concentrados no hemisfério norte, têm sido, pela sua pujança econômica, os grandes mercados para os produtores de papel. Essa distribuição geográfica da indústria e mercado de celulose e papel, dominante nos últimos 100 anos, no entanto, começa a mudar. O rápido crescimento da China e da Índia, os custos crescentes da madeira na Europa, o acesso aos recursos florestais da Rússia, os custos cada vez mais competitivos na produção de fibras na América do Sul e a questão energética são os fatores determinantes para o futuro desenvolvimento da indústria mundial de celulose e papel.
Os custos de madeira na Europa têm subido significativamente nos últimos anos. O preço da madeira de Pinus para polpa na Finlândia em 2001 era de cerca de US$ 22 por metro cúbico, em 2006 esse valor atingiu US$ 33/m3. O metro cúbico de eucalipto para celulose em Portugal, há 5 anos, era vendido a US$ 50 (madeira exportada, preço CIF na Espanha) e no final de 2006 estava a US$ 70. No Brasil, o custo médio de madeira de eucalipto para celulose está entre US$ 25 e US$ 30 por m3 (madeira colocada na fábrica).
Ainda que os preços mais elevados de madeira sejam verificados na Europa, os aumentos dos preços de madeira para celulose, madeira serrada e demais produtos, têm ocorrido, de maneira geral, em todos os países. Na Europa, esse aumento tem decorrido basicamente da elevada demanda de madeira serrada para atender o mercado chinês – a Suécia e Finlândia são importantes exportadores de madeira serrada – e da incerta disponibilidade de madeira para atender às indústrias florestais da Europa Central e países escandinavos.
A Rússia, que tem sido um fornecedor importante de madeira para esses países e para a China, vem implementando uma política restritiva às exportações da madeira em toras, com aumentos expressivos no imposto de exportação, que passará de 20% (Jan-2007) para 80% (Jan-2009). Outra pressão importante para o aumento dos preços de madeira é a intensa competição que vem ocorrendo, por exemplo, na Suécia e Europa Central, com o setor de biocombustíveis.
O uso da madeira como matéria-prima para o etanol tem sido intensamente estudado e é certo que o etanol celulósico será importante como combustível de fontes renováveis. A possibilidade de integrar a indústria de celulose tradicional a novas oportunidades que se abrem no setor de geração de energia, no entanto, pode se transformar numa excepcional oportunidade para a indústria florestal e em especial para os países do hemisfério sul, que tem como fonte de fibra, plantações florestais de rápido crescimento.
Além de novas oportunidades de negócio, há outros fatores que beneficiam a indústria florestal: há uma demanda crescente de produtos e energia produzidos com respeito ao meio ambiente, a indústria apresenta um balanço neutro em relação às emissões e seqüestro de carbono e conta com uma logística adequada para os fluxos de matéria-prima.
Nesse contexto, a América do Sul continuará a ter uma considerável vantagem no custo de produção de celulose, em relação às demais regiões produtoras, em especial na celulose de fibra curta. O aumento do consumo de papel na Ásia – principalmente na China e Índia – manterá a tendência de que esse continente torne-se um grande importador de fibra para a produção de papel.
O Brasil pode tornar-se um dos líderes da indústria florestal mundial e, para isso, conta com o interesse de tradicionais grupos mundiais investirem no país, além de já contar com empresas nacionais competitivas. É provável que, para o fortalecimento do setor, ocorram fusões e aquisições; reestruturação produtiva por parte dos grupos que operam no país, isto é, foco em setores mais específicos, como celulose de mercado, papéis de imprimir ou embalagens; e ampliação das bases florestais, com crescente participação de produtores florestais independentes.
A capacidade de investir, gerir recursos e inovação tecnológica, tem sido demonstrada pela indústria florestal. Resta aos países da América do Sul – o Brasil entre eles – criar um ambiente favorável para a indústria florestal desenvolver-se de forma sustentável, com regras claras para o setor operar e infra-estrutura adequada. A indústria florestal pode contribuir de maneira expressiva para que muitas regiões dos países em desenvolvimento melhorem os seus indicadores de qualidade de vida.