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Antônio Sérgio Alípio

Diretor Florestal da Veracel Celulose

Op-CP-06

A tecnologia como fator de produção florestal

O Setor de Base Florestal vem confirmando sua condição de liderança do agronegócio brasileiro, alavancando as vantagens comparativas e competitivas, proporcionadas pelo seu know-how tecnológico silvicultural, pelas condições ambientais favoráveis à produção de biomassa e pela competência na gestão do recurso natural renovável.

Assim, para os próximos dez anos, o Setor de Celulose deverá dobrar a sua capacidade de produção, o que demandará um significativo aumento de escala nos processos de formação de florestas de alta qualidade. A base destes processos deverá estar alicerçada pelos pilares econômico, ambiental e social, como condição única para a garantia de sustentabilidade do negócio.

Os fatores críticos de sucesso serão: oferta de madeira de produtores florestais (fomento), certificação florestal, terceirização de operações, capacitação de pessoal, desenvolvimento de fornecedores, aperfeiçoamento de sistemas de planejamento e controle e mecanização da colheita.

Para garantir níveis adequados de suprimento de madeira de alta confiabilidade, com baixo custo de produção, baixo impacto ambiental e baixo risco de acidente do trabalho, os sistemas de colheita florestal, em grande escala, demandarão alto grau tecnológico de mecanização. Para atender a essa demanda, hoje utilizamos equipamentos fabricados, em geral, na Europa e nos Estados Unidos, uma vez que a participação brasileira no mercado mundial de máquinas e equipamentos florestais é ainda pequena, tornando pouca atrativa a fabricação em nosso país, colocando-nos em posição desfavorável, em termos de desenvolvimento de produtos mais adequados às características de nossas florestas (homogênea, produtiva e de manejo intensivo).

Entretanto, nos últimos anos, o Brasil vem sendo reconhecido como um grande player no mercado mundial de produtos de base florestal e, em particular, um centro de excelência em eucaliptocultura, o que vem permitindo o desenvolvimento de equipamentos mais adequados às nossas especificidades, gerando forte presença dos maiores produtores mundiais no país.

No entanto, para uma melhor competitividade, é determinante a necessidade de uma política de redução de impostos para importação de equipamentos, bem como a modernização dos portos brasileiros. Outro aspecto relevante e crítico na gestão de suprimento de madeira é a capacitação de pessoal. Por ser o Setor de Base Florestal gerador de divisas, de uso de capital intensivo e grande empregador de mão-de-obra, em sua maioria instalada em regiões onde a qualificação é escassa, é necessário um programa intensivo e continuado de formação de operadores e mecânicos e de um sistema de gestão de manutenção de máquinas eficiente, que permita uma operação ininterrupta.

A capacitação desses profissionais, embora já existam empresas especializadas, demanda um longo ciclo de aprendizagem e, normalmente, é gargalo em processos de expansão. Quanto à gestão de manutenção, a efetiva participação de grandes fornecedores de equipamentos nessa prestação de serviços é um modelo que começa a ganhar corpo no setor e é uma inovação brasileira.

Esta possibilita a utilização de toda expertise dos fabricantes em sistemas de manutenção, logística de suprimento de peças e desenvolvimento operacional, aproximando mais a engenharia da operação, permitindo, assim, soluções mais próximas da nossa realidade, reduzindo, significativamente, o tempo para a sua implementação.

Outra variável a ser considerada é a crescente oferta de madeira oriunda do fomento florestal, em sua maioria advinda de programas apoiados pelas empresas do setor, com a finalidade de propiciar diversificação de atividade e renda, em suas regiões de atuação. As áreas objeto do programa são dispersas e em pequenos módulos de produção, o que irá requerer o desenvolvimento de modelos de mecanização e terceirização apropriados, visto que a escala de produção individual e a necessidade intensiva de capital não permitirão uma solução única.

Considerando que essa fonte de suprimento de madeira deverá representar, em média, algo em torno de 20 a 30% na maioria das empresas, uma parcela expressiva do abastecimento, isso também demandará o envolvimento dos fabricantes de equipamentos e da capacidade empreendedora do mercado, para a geração de oportunidades inovadoras.

Outro fator importante no processo de suprimento de madeira das unidades industriais, por ser um segmento fortemente exportador, é a certificação florestal. O processo de certificação gera um efeito multiplicador de questões sociais e ambientais, intensificando demandas de diálogo com as comunidades, fornecedores, empregados, organizações não-governamentais, poderes e órgãos públicos, com reflexos na cadeia de custódia e controle de origem da madeira, introduzindo novas demandas, conceitos, relações e inter-relações, o que demanda a necessidade de atualização contínua dos processos produtivos.

O Brasil, com a sua capacidade ímpar e forte vocação florestal, baseada em florestas comerciais plantadas, de altas qualidade e produtividade, com tecnologia de ponta em toda a sua cadeia produtiva, com forte compromisso social e ambiental, definitivamente, se inseriu no seleto grupo dos países de base florestal sustentada. Os próximos anos apresentam-se com desafios do tamanho da expansão, modernização e profissionalização do setor florestal nacional.