Gerente de Meio Ambiente e Qualidade da Cenibra
Op-CP-31
“Viabilizar economicamente ações sociais e ambientais”. Uma primeira leitura dessa frase possivelmente irá resultar, em boa parte das pessoas, num entendimento de como sendo originada de intenções e ações do terceiro setor, ou seja, iniciativas da sociedade civil organizada, ou talvez do primeiro setor (o público); dificilmente ocorrerá uma imediata associação com o segundo setor (o privado).
Mas para quem conhece e vivencia o setor de florestas plantadas no Brasil em seu atual nível de desempenho, em termos de contribuição para o desenvolvimento e o bem-estar das comunidades, certamente a leitura e o entendimento serão um pouco diferentes.
Os relatórios empresariais de sustentabilidade e os de performance setorial são uma interminável fonte de bons exemplos de como o setor tem elaborado e conduzido projetos sociais e ambientais que geram valor para a sociedade, e o que é mais importante, de forma sustentável.
Ou seja, os projetos desenvolvidos por empresas florestais, que há uma década poderiam ser entendidos como filantropia, hoje são voltados para a indução de novos negócios, com geração de trabalho e renda, melhoria na qualidade de vida e conservação do patrimônio ambiental das empresas, de forma participativa, com o manejo adequado dos recursos naturais.
Neste artigo, queremos demonstrar como a Cenibra desenvolve projetos sociais e ambientais com foco na sustentabilidade, dando condições para que os projetos, uma vez iniciados com a participação e o fomento da empresa, se perpetuem na geração de valor para a sociedade.
Para conduzir esses projetos, foi criado, em 2002, o Instituto Cenibra, que tem, dentre suas várias estratégias, as de “realizar ações e firmar parcerias que contribuam para o desenvolvimento integrado e sustentável das comunidades inseridas em sua área de atuação” e “identificar e estimular potenciais de desenvolvimento regional”.
Ou seja, a empresa possui uma estrutura organizacional específica, cuja função é identificar os potenciais de um território, promover a capacitação de atores locais e atuar como elemento fomentador para que os projetos, legitimados pela percepção de potencial e oportunidade das pessoas que vivem nesse território, se concretizem e se sustentem.
Atualmente, o Instituto Cenibra viabiliza 32 projetos voltados para a geração de trabalho e de renda, envolvendo as comunidades vizinhas das florestas da empresa. Um desses projetos é a Parceria Apícola. O Instituto mantém contratos de parceria com associações de apicultores, permitindo o acesso e o uso das florestas nativas para instalação de apiários.
O projeto possui grande significado social e econômico, pois cria novos postos de trabalho e uma fonte alternativa de renda para pequenos e médios proprietários rurais.
Do ponto de vista ambiental, os apicultores, que têm na natureza a fonte de matéria-prima, colaboram com a Cenibra na proteção das propriedades, ajudando a coibir o corte ilegal de árvores nativas, incêndios florestais e a caça e a pesca predatórias. Os apicultores têm os seus apiários com localização georreferenciada e circulam pelas áreas da empresa com crachá de identificação e selos nos veículos.
Atualmente, onze associações de apicultores integram o programa, beneficiando 512 produtores rurais, e o programa conta com assistência técnica da Emater-MG. A Associação Regional de Apicultores e Exportadores do Vale do Aço, de Ipatinga, inclusive obteve certificado internacional de mel orgânico, exportando parte de sua produção para o mercado europeu, com alto valor agregado.
Outro bom exemplo é o Projeto Chapeleiras, baseado no manejo da palmeira-indaiá para a obtenção de palha utilizada na confecção de chapéus. Partindo de uma vocação econômica e cultural da região da Serra dos Cocais, no município de Antônio Dias, o Instituto Cenibra firmou parceria com a Associação de Artesãos para organizar e viabilizar a geração de trabalho e de renda com as folhas da palmeira, envolvendo cerca de 500 pessoas.
A coleta das folhas da palmeira para confecção de chapéus é uma atividade costumária, existente desde a colonização da região, há 200 anos. As folhas são colhidas mantendo a planta viva e permitindo a realização de coletas periódicas.
Um plano de manejo está sendo viabilizado, em parceria com a UF-Viçosa, de forma a garantir que a coleta das folhas se mantenha como uma atividade viável e sustentável. Uma premissa desse plano é a de que as coletas serão feitas, preferencialmente, em palmeiras que regeneram no interior das plantações de eucalipto, evitando intervenções nas áreas protegidas e mantendo populações estáveis da palmeira-indaiá.
Estão sendo também elaborados estudos para avaliação de outros potenciais ativos das áreas preservadas da Cenibra para geração de trabalho e de renda, como a candeia, o palmito, fármacos, fibras, etc.
Com esses dois exemplos, percebe-se claramente um novo paradigma relacionado ao desenvolvimento de projetos sociais e ambientais por empresas do setor de florestas plantadas, com evolução para uma nova abordagem, baseada na sustentabilidade de negócios, envolvimento das comunidades vizinhas com geração de trabalho e de renda e uso sustentável dos recursos naturais.
Os arranjos institucionais necessários para o desenvolvimento desses projetos propiciam uma condição de legitimação das ações das empresas pela sociedade, o que contribui positivamente para a manutenção de um ambiente seguro de atuação dos empreendimentos.