O grande desafio à introdução e à utilização comercial de essências exóticas é a adaptação da espécie às condições edafoclimáticas. Espécies mal adaptadas, quando sobrevivem, ficam continuamente sob estresse e não expressam seu potencial genético máximo. A incidência de pragas e doenças podem ser limitantes, uma vez que a espécie introduzida não coevoluiu com grande parte das pragas e dos fitopatógenos locais.
São relativamente frequentes os problemas de doenças em plantios comerciais de eucalipto, e há várias doenças relatadas desde a expansão da eucaliptocultura para diferentes regiões do país. Existem doenças abióticas, causada por agentes não infeciosos e não transmissíveis de planta a planta que normalmente decorrem de intempéries ou manejo inadequado da cultura como, déficit hídrico, malformação radicular e toxicidade por herbicidas ou fertilizantes.
As principais doenças de causa biótica, na cultura, são incitadas por fungos como a ferrugem-do-eucalipto (Puccinia psidii), murcha-de-ceratocystis (Ceratocystis fimbriata) e mancha-de-teratosphaeria (Teratosphaeria nubilosa) e por bactérias como a murcha-de-ralstonia (Ralstonia solanacearum), murcha-de-erwinia (Erwinia psidii) e mancha foliar de bactérias (Xanthomonas axonopodis e Pseudomonas cichorri).
A sanidade e arquitetura dos ponteiros dos Eucalyptus, que possuem crescimento apical indeterminado e dominante, são aspectos que rapidamente atestam o vigor da planta e, sua deformação, seca ou morte envolve agentes causais abióticos e bióticos. Por isso, deparamos com muitos equívocos ao descreverem a causa primária de uma seca de ponteiros quando essa não é efetuada seguindo um processo rigoroso de diagnose fitossanitária e, muitas vezes, multidisciplinar.
A identificação errônea do agente causal de uma doença pode desencadear uma série de medidas de controle inadequadas e ineficazes. Para tanto, é primordial que o etiologista tenha conhecimento técnico em fitopatologia e experiência com a cultura e suas diferentes espécies, pois alterações fenológicas próprias do material genético, como queda natural de folhas ou desrama, podem ser confundidas com doenças. Caso comum é a seca de ponteiros seguida da morte de plantas em decorrência da inadaptabilidade da espécie ou do clone a uma determinada condição edafoclimática.
A doença, ainda abiótica, mais investigada na eucaliptocultura nas últimas quatro décadas é a Seca de Ponteiros do Eucalipto do Vale do Rio Doce (SPEVRD), descrita pelo professor Francisco Alves Ferreira, e com grande impacto econômico na região. Há outras doenças, também de causas abióticas e com as mesmas características sintomatológicas de SPEVRD, com incidência de lesões ou minicancros nas inserções dos ramos e folhas seguida por perda de dominância apical da planta, formação de brotações ao longo do tronco e morte no caso de materiais genéticos mais suscetíveis.
Elas vêm sendo registradas em diferentes estados e com distintas denominações em decorrência de um ou mais sintomas adicionais, a depender das condições ambientais do local. Assim, em eventos florestais, estando ou não relacionados à sanidade florestal, é comum ouvirmos nomes das doenças: distúrbio fisiológico do eucalipto, distúrbio abiótico do eucalipto, inadaptabilidade clonal e declínio clonal do eucalipto.
Em todas essas secas de ponteiros, tem sido relatada a presença e o isolamento de fungos das mais diversas espécies, mas sem comprovar seu papel como agente causal primário da doença. Outros fitopatógenos, como bactérias, vírus e fitoplasma, vêm sendo investigados, mas todos descritos como associados aos sintomas, não como agentes etiológicos primários.
Há pelo menos 4 anos, relatos e descrições de seca de ponteiros por causa biótica vêm aumentando em todos os estados brasileiros e em outros países, como Espanha, Portugal e Uruguai. Dentre aquelas comprovadas pelos métodos fitopatológicos e de importância epidemiológica, destacam-se a seca ou murcha por Erwinia psidii em várias espécies e clones de Eucalyptus, seca ou cancro por Pestalotiopsis sp. no estado de São Paulo, e, em Portugal, em clones híbridos da seção Maidenaria, seca ou cancro por Botryosphaeria spp. (= Dothiorella spp.) e a seca de ponteiros laterais no sul da Bahia e de São Paulo.
A “seca de ponteiros laterais”, inicialmente assim denominada pelos sintomas marcantes de seca, principal e inicialmente nos ponteiros laterais de plantas de alguns clones de eucalipto (Figura 1), tem como agente causal o fungo Pseudoplagiostroma eucalypti (= Cryptosporiopsis eucalypti). Até 2013, tal patógeno sempre esteve associado à mancha foliar e à desfolha de alguns clones de eucalipto, porém, com baixa severidade e importância econômica.
Em meados desse mesmo ano, no Sul da Bahia, observaram-se, em alguns clones híbridos de Eucalyptus urophylla x E. grandis, acentuada seca de ponteiros laterais em plantas com sete meses de idade. Sem aprofundar nas investigações, logo creditaram a enfermidade ao distúrbio fisiológico/abiótico do eucalipto e até mesmo a problemas nutricionais.
Todavia a doença apresentava padrão epidemiológico de disseminação clássico de envolvimento com um agente biótico, pois havia gradiente de dispersão do patógeno da bordadura do plantio para o centro do talhão e gradiente de pressão de infecção em clones de talhões vizinhos, potencialmente resistentes ao distúrbio fisiológico.
Posteriormente, em parceria com o Laboratório de Patologia Florestal da UF-Viçosa, inoculações em condições controladas confirmaram o postulado de Koch, comprovando P. eucalypti como agente causal da seca de ponteiros laterais do eucalipto no sul da Bahia.
Entre julho e setembro de 2014, a área afetada pela doença aumentou, e verificou-se que, na idade fenológica de dois a quatro meses, surgem os primeiros sintomas da doença no tecido juvenil de ramos e galhos. Observam-se pontos de escurecimento e depressão da casca seguida por trincamento, descolamento e formação de minicancros ao longo da lesão (Figura 2).
A morte de tecidos vasculares com a interrupção do fluxo de seiva e fotoassimilados pelo floema desencadeia o quadro sintomatológico de seca-de-ponteiros, que, inicialmente, são folhas murchas de coloração palha culminando na seca total dos ramos afetados e quebra no ponto de infecção.
Em materiais genéticos altamente suscetíveis, ocorre também seca do ponteiro apical e morte de plantas (Figura 3), causando elevado impacto econômico, seja pela perda de dominância e consequente redução de crescimento ou necessidade de reforma do plantio.
Assim, a seca de ponteiros laterais do eucalipto, ou seca por pseudoplagiostroma, é, definitivamente, uma nova doença emergente na eucaliptocultura nacional. Pesquisas conduzidas pela área de Proteção da Tecnologia Florestal da Suzano Papel e Celulose possibilitaram recomendar as medidas de controles via manejo integrado da doença:
1. controle genético mediante a seleção de clones resistentes (Figura 04/R);
2. plantio em microrregiões (escape pelo local) desfavoráveis ao patógeno; e
3. época do ano desfavoráveis ao crescimento do patógeno (assincronia fenológica).
Existem muitas especulações se o surgimento ou ressurgimento de doenças e pragas na eucaliptocultura estejam relacionados às variações climáticas, expansão dos plantios para novas áreas, base genética restrita dos clones comercialmente plantados ou aumento na variabilidade genética da população dos patógenos e insetos-praga.
Mas a certeza é que as plantações florestais são ecologicamente mais diversas e complexas que as culturas agrícolas, pois ocorrem mudanças nos estádios fenológicos da cultura e da composição da cobertura vegetal nativa ao longo do ciclo.
Esse exemplo de rápida detecção (pela operação), focado estudo e proposição de manejo integrado (pela pesquisa) e qualidade da transferência de tecnologia (pela extensão) evidencia a necessidade da total integração entre as áreas de sanidade, melhoramento, manejo, extensão tecnológica e silvicultura para que, de fato e rapidamente, as produtividades dos eucaliptais brasileiros sejam mantidas num patamar elevado.