O Brasil é líder mundial na produtividade florestal do eucalipto, sendo essa espécie a de maior destaque no cenário florestal nacional, com 5,7 milhões de hectares cultivados em diferentes biomas brasileiros. Temos a maior produção mundial de biorredutor (carvão vegetal) para indústria siderúrgica e uma indústria de celulose de destaque internacional, detentora da maior exportação de celulose de eucalipto do mundo. Minas Gerais possui maior área plantada do Brasil, com aproximadamente 1,4 milhão de hectares de eucaliptos.
O tema produtividade florestal tem abrangência em diferentes áreas do conhecimento florestal e as inter-relações entre essas são importantes para o seu entendimento. A produtividade é o resultado do potencial genético e sua interação com os fatores edafoclimáticos associados ao pacote de práticas silviculturais aplicados na condução dos plantios florestais.
A compreensão e aplicação desses conhecimentos e uma gestão adequada dos recursos é que permitirão o sucesso e o alcance de resultados superiores, tendo sempre como alvo a produtividade potencial de cada site. A produtividade florestal brasileira mais que dobrou com os programas e técnicas de melhoramento genético e com a evolução das práticas silviculturais, sendo que o advento da clonagem permitiu multiplicar rapidamente ganhos expressivos da seleção de genótipos superiores.
Contudo, os melhoristas continuam sendo desafiados a cada dia, ora por variações climáticas que fogem dos padrões históricos, ora por novas pragas que ameaçam constantemente os povoamentos florestais, comprometendo a manutenção da produtividade. No centro-norte de Minas Gerais, as variações climáticas têm causado preocupações aos empresários florestais devido à escassez de chuvas.
Ao final da última década, os efeitos dessa seca já eram fortemente sentidos causando grande mortalidade de plantios. Dados da Emater – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais comprovam que cerca de 150 mil hectares cultivados com eucalipto foram afetados. Nessa região, tem-se observado, nos últimos cinco anos, uma grande irregularidade na distribuição de chuvas, mas será que estamos fazendo o dever de casa corretamente?
O primeiro ponto que merece a nossa reflexão é o critério na escolha das variedades de clones para implantação dos empreendimentos florestais. Observa-se uma alta severidade em parte dos plantios afetados com déficit hídrico, evidenciando uma grande inadaptabilidade dos materiais às condições que foram expostos, o que nos leva a pensar que não houve uma escolha adequada dos materiais genéticos, assim como a população adequada para cada sítio.
Os maiores bancos genéticos de eucalipto estão nas empresas do setor florestal e essas procuraram nos últimos anos expandir seus bancos, buscando inserir genes de tolerância à seca através de diferentes espécies que possuem essa característica. Esses bancos genéticos têm apresentado variabilidade genética adequada para a superação desses desafios. Empresas que estão atentas e trabalhando de forma ágil já conseguem plantar novos clones mais tolerantes a déficit hídrico.
Outra linha de trabalho importante nesse sentido é o retorno e expansão dos trabalhos com o gênero Corymbia. Atualmente os híbridos desse gênero têm apresentado bom crescimento e boa adaptabilidade em regiões com períodos secos bem definidos, além de possuir características importantes de qualidade da madeira para produção de biorredutor.
Alguns híbridos, por exemplo, apresentam densidade da madeira acima de 600 kg/m³. Iniciativas de projetos como o coordenado pela SIF da Universidade Federal de Viçosa, para desenvolvimento de materiais mais tolerantes à seca e o TECHS (Tolerância de Eucalyptus Clonais aos Estresses Hídrico e Térmico) coordenado pelo IPEF – Instituto de Pesquisas Florestais, apresentam-se como importantes iniciativas na evolução do entendimento dos fatores que interferem no crescimento de povoamentos submetidos a um déficit hídrico intenso.
O segundo ponto que merece nossa atenção é em relação à regulação hídrica nas propriedades. Você, empresário florestal, esteve atento às medidas de controle da erosão e regulação hídrica nos seus plantios? Entender o posicionamento de sua propriedade dentro da bacia e da microbacia hidrográfica, a ocupação da bacia com os plantios e adotar medidas como plantio em nível, população adequada para o sítio, proteção das matas ciliares, construção de caixas de contenção de água para proteção das estradas e barraginhas para auxiliar na infiltração da água no perfil do solo é de suma importância e um diferencial em situações de seca intensa.
Outros pontos importantes relacionados ao manejo tornam-se fundamentais visando minimizar os efeitos da seca, dentre eles o conhecimento adequado do tipo de solo e o manejo nutricional aplicado aos povoamentos florestais. O mapeamento de solos é uma ferramenta utilizada para identificar os tipos de solo de cada propriedade, permitindo a classificação, separação e manejo adequado a cada site, assim como auxiliando na definição da população adequada para cada ambiente em função dos recursos de crescimento. O manejo operacional e nutricional dos povoamentos de eucalipto evoluiu significativamente nas últimas décadas com técnicas e procedimentos consolidados.
O cultivo mínimo por meio da subsolagem, por exemplo, com aplicação de fertilizantes de alta tecnologia, permitiu um arranque rápido e homogêneo dos plantios, e, atualmente, já são testadas adubações mais concentradas visando ainda à redução do número de intervenções. Para região com déficit hídrico intenso, a utilização do boro pulverizado tornou-se prática fundamental para continuidade do crescimento em épocas secas, evitando-se a seca de ponteiros e deformações na madeira, além de permitir maior vigor das florestas plantadas.
O elemento potássio também mostra sua relevância nesses ambientes, sendo responsável por um melhor controle estomático e proteção das plantas em épocas críticas. Uma equilibrada disponibilidade de nutrientes é regra básica para alcançar produtividades superiores.
A evolução das técnicas de monitoramento nutricional já permite o acompanhamento das florestas em diferentes idades e cabe aos silvicultores tomadas de decisão ágeis para correção de desvios. Novos estudos continuam sendo importantes para evolução dessa área e o aprofundamento dos estudos fisiológicos permitirá, em um futuro próximo, identificarmos marcadores fisiológicos de tolerância à seca.
Já não bastasse o cenário de mudanças climáticas com forte estresse hídrico no centro-norte de Minas Gerais, as pragas que entraram no Brasil nesta última década adaptaram-se muito bem a esse tipo de ambiente. No momento temos três importantes pragas causando prejuízos e interferindo na produtividade dos povoamentos florestais, todos insetos sugadores, sendo eles o psilídeo de concha (Glycaspis brimblecombei), os psilídeos de ponteiro (gênero Ctenarytaina) e o percevejo bronzeado (Thaumastocoris peregrinus), este último causando perdas na ordem de 15% da produtividade florestal na região do cerrado.
Os protocolos de monitoramento são suficientes para o momento, sendo o controle biológico a principal linha adotada. Os inimigos naturais multiplicados em laboratórios e liberados em plantações de eucaliptos pelo Brasil tornam as florestas plantadas socialmente mais aceitáveis e equilibradas do ponto de vista da sustentabilidade ambiental. Outra importante saída está no melhoramento genético com desenvolvimento de clones tolerantes ou resistentes às principais pragas e doenças do eucalipto.
Novas tecnologias estão sendo trazidas para o setor e vão em direção do aumento da produtividade florestal. Indicadores de homogeneidade e crescimento como o PV50 e Altura Potencial estão sendo utilizados em idades jovens dos plantios e permitem identificar e tratar desvios.
O aumento do nível de mecanização e automação, a evolução nas práticas silviculturais e o melhor nível de controle com o mundo digital invadindo as florestas são muito bem- -vindos para apoiar o silvicultor em sua rotina diária nos plantios florestais. Porém, o alcance de produtividades superiores requer disciplina, conhecimento, agilidade, capacitação do corpo técnico e uma forte gestão de todos os fatores de interferência.
De nada adiantará a melhor tecnologia, os melhores hardwares, softwares e ferramentas se não estivermos com as pessoas certas nos lugares certos, com autonomia e conhecimento para tomadas de decisão ágeis e precisas. As pessoas e suas atitudes, ou a falta dela, são os principais responsáveis por mapear os riscos e tomarem todas as medidas de controle visando ao sucesso ou até mesmo ao fracasso do negócio florestal.
Enquanto alguns empresários, por causa dessas ameaças, estão desistindo dos investimentos no setor florestal, temos empresas que estão aproveitando o aprendizado gerado nos momentos de variações climáticas e, com agilidade, estão crescendo com maior segurança e controle dos riscos aos quais estamos expostos.