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Luciana Duque Silva

Professora de Silvicultua e Manejo de Florestas Plantadas da Esalq-USP

Op-CP-54

Plantar florestas: risco ou desafio
O Brasil é conhecido internacionalmente como um país com excelente potencial edafoclimático para o cultivo de florestas plantadas, mas, para os nossos produtores rurais, a definição da espécie a ser cultivada e o local geram incertezas quanto à aposta de seu capital financeiro no setor. Ainda com essas incertezas, na última década, houve um movimento de mudanças com relação às espécies florestais cultivadas e aos sistemas de produção utilizados; as espécies dos gêneros eucalipto e pínus, bem como o sistema em monocultivo, passaram a não ser mais os “únicos” a atraírem o interesse de produtores.

Espécies como a teca (Tectona grandis), o mogno-africano (Khaya spp.) e o cedro-australiano (Toona ciliata) tiveram suas áreas de cultivo ampliadas significativamente, e, em muitos casos, as espécies florestais passaram a ser cultivadas em consórcio com culturas agrícolas e também com a criação de animais. 
 
A expansão de áreas cultivadas com florestas plantadas, em locais onde não havia muita experiência com a silvicultura, também ocorreu, como nos estados do Piauí, Maranhão, Tocantins, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Experiências negativas foram registradas, por uma combinação de fatores, como a escolha inadequada da espécie e/ou material genético, da aplicação incorreta das técnicas silviculturais necessárias para o bom desenvolvimento do cultivo, ou o atraso na realização das atividades, e até mesmo pela ausência de mercado consumidor.

Então, o que temos de informações para minimizar as incertezas dos produtores e evitar experiências negativas? Conhecemos os fatores que limitam a produção: clima, solo, material genético e a interação entre eles. As características climáticas que impõem maior limitação ao desenvolvimento de algumas espécies, no Brasil, são a ocorrência de geadas e de déficit hídrico. 
 
Solos com altos teores de areia, quando comparados a solos com maior teor de argila, e solos considerados rasos reduzem a produtividade das plantações florestais. A disponibilidade de materiais genéticos superiores, em termos de adaptação, crescimento e características relacionadas ao produto desejado, seja ele madeira, seus derivados ou produto não madeireiro, depende do desenvolvimento de bons programas de melhoramento genético, e, para isso, necessitam de uma ampla base genética da espécie para a realização de  recombinações, intraespecífica e, em alguns casos, interespecífica. Esses são aspectos a serem observados pelo produtor antes da sua decisão.
 
De forma geral, algumas espécies de eucalipto, as espécies de pínus tropicais, a teca, o cedro-australiano e o mogno-africano, não toleram geadas; em áreas com ocorrência de geadas, como nos estados do Sul do Brasil, as espécies mais recomendadas para cultivo são: Eucalyptus viminalis, Eucalyptus dunnii, Eucalyptus benthamii, Pinus taeda e Pinus elliotii, ou, no caso do eucalipto, clones híbridos testados, que tenham em seus cruzamentos essas espécies.  Quando o fator limitante é o déficit hídrico, a maioria das espécies apresentam limitações de crescimento e/ou de sobrevivência.

Nesses casos, é necessário que sejam realizadas seleções de materiais genéticos e/ou desenvolvimento de híbridos, mais resistentes a essa condição, porém esse problema pode ser, em alguns casos, minimizado e até mesmo sanado com a redução da densidade do plantio, podendo ser realizado consórcio com culturas agrícolas para que se obtenham melhores ganhos econômicos. 
 
Estamos desenvolvendo um projeto interinstitucional, com o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, no qual identificamos materiais genéticos com aptidão de cultivo para regiões com ocorrência natural de cerrado. Os resultados preliminares  mostram que estão sendo utilizados mais ou menos 30 clones de eucaliptos, para plantio nessas áreas.

A maioria desses clones são híbridos de E. urophylla, E. camaldulensis, alguns de E. brassiana e de E.grandis, e a capacidade de adaptação, crescimento e sobrevivência nessas áreas é muito variada: no estado do Piauí, por exemplo, identificamos apenas 3 clones com bom potencial produtivo; no Tocantins, Goiás, Mato grosso e Mato Grosso do Sul, esse número foi maior, e, entre os híbridos identificados, se destacam os cruzamentos em que são utilizados E. urophylla e E. camaldulensis − não necessariamente que ambos tenham sido utilizados para a geração do híbrido.

Nas áreas plantadas com as espécies que atualmente vêm sendo denominadas “madeiras nobres”, se destacam: mogno-africano em regiões dos estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e São Paulo; cedro-australiano, em Minas Gerais, tem se destacado, com o cultivo de clones geneticamente selecionados e protegidos, essa cultura apresenta potencial de plantio em algumas regiões de São Paulo e Goiás, mas é recomendada a realização de testes em campo antes da expansão para essas regiões; a teca apresenta bom potencial de cultivo no estado do Mato Grosso, porém mostra redução de produtividade quando plantadas em solos rasos e pobres. Algumas espécies de pínus tropicais, como P. caribea var. hondurensis, P. caribea var. caribea e P. tecunumanii, continuam a ser cultivadas nos estados de São Paulo e Minas Gerais; após o corte raso, a reforma da área tem sido realizada, utilizando mudas seminais e clonais, ambas oriundas de materiais genéticos selecionados, para a produção de resina e madeira.
 
Informações existem, nem sempre o produtor as encontra sistematizadas, de maneira que se facilite a tomada de decisão. Para evitar surpresas negativas, o ideal é conhecer experiências de outros produtores em áreas com características edafoclimáticas semelhantes ao local do futuro plantio e não optar pela aquisição de mudas apenas com base no preço, mas sim buscar uma fonte idônea e que esteja devidamente regularizada no MAPA. 
 
Vale destacar que a definição do material genético e o local correto de plantio não são os únicos fatores que definem o sucesso de um empreendimento florestal, pois a distância da propriedade ao mercado consumidor e/ou a quantidade e a qualidade do produto a ser ofertado podem tornar a produção inviável economicamente.

Assim, antes de iniciar o cultivo, é de suma importância avaliar se o material genético a ser utilizado na plantação atenderá às características do produto que se deseja comercializar, pois, ainda que se atinja boa produtividade na área definida para o plantio, a produção pode não ter boa aceitação ou valorização pelo mercado-alvo. Alguns materiais genéticos de espécies como eucalipto e pínus foram desenvolvidos para atender a mercados específicos (celulose e papel, carvão e derivados de resina); isso não significa que seja possível obter bons rendimentos com o plantio desses materiais, quando se deseja obter produtos que requerem outras características.
 
Estima-se que, atualmente, 30% das áreas plantadas com florestas estão em áreas de produtores independentes; uma boa alternativa para esses produtores é o múltiplo uso dessas culturas e/ou a utilização de outras culturas consorciadas. Essas alternativas devem resultar em menor risco ao investimento, visto que atenderá a diferentes mercados e, em uma possível redução de valor de um dos produtos, o produtor terá maior segurança.