Diretor Florestal da Stora Enso Latin America Division
Op-CP-19
A engenharia florestal no Brasil completa seu primeiro jubileu neste ano de 2010. Como evoca o termo “jubileu”, é um ano de alegria. Nesses 50 anos, foram muitos os avanços e conquistas, porém maiores são os desafios nas próximas décadas por conta da criticidade da gestão dos recursos naturais para a sociedade. Em maio de 1960, foi criada a primeira Escola Nacional de Florestas, instalada inicialmente na Universidade Rural do Estado de Minas Gerais, hoje Universidade Federal de Viçosa, e transferida em 1963 para Curitiba, na Universidade Federal do Paraná, que formou os primeiros engenheiros florestais do Brasil em 1964.
A engenharia florestal - denominação que utilizamos no Brasil - como ensino universitário é, no entanto, bem mais antiga. A primeira foi criada em 1787, na cidade de Dillenburg, Alemanha. Nas Américas, as primeiras escolas foram estabelecidas nos EUA, em 1898, na Carolina do Norte e em Nova York. A Escola Nacional de Florestas brasileira foi a primeira da América do Sul.
Em 2006, o Brasil já contava com 37 cursos de engenharia florestal. Uma das mais importantes contribuições da engenharia florestal é a formação de profissionais dedicados ao uso sustentável dos recursos florestais. Todas as áreas que compõem a engenharia florestal, como a silvicultura e manejo florestal, a ecologia, economia e proteção florestal, o manejo de bacias hidrográficas, a tecnologia de uso da madeira e produtos florestais e a colheita florestal, têm como norte a sustentabilidade da produção e das condições ambientais desses recursos.
Nesses 50 anos, o Brasil tem ganho cada vez mais importância no cenário florestal mundial. Temos a mais vasta reserva de floresta tropical do planeta, e nosso setor de florestas plantadas atingiu produtividade excepcional. A aplicação do manejo adequado às florestas nativas, principalmente na Amazônia, é de fundamental importância para conter sua redução e propiciar às comunidades locais desenvolvimento socioeconômico, sem reduzir a área de florestas.
Nas florestas plantadas, o modelo desenvolvido incorporou a proteção das reservas legais e das áreas de preservação. A observância da legislação florestal ensinada às centenas de turmas de engenheiros florestais cristalizou a cultura de que todo projeto florestal deve considerar as reservas, com fins de preservação ambiental.
As práticas silviculturais atuais prescrevem a mínima interferência no solo, o uso racional de químicos no controle de ervas daninhas e pragas, a utilização de equipamentos de mínimo impacto no solo e a seleção de áreas, levando em conta o manejo de recursos hídricos e da paisagem. A silvicultura e o melhoramento genético têm tido um excepcional avanço com as espécies introduzidas de rápido crescimento, destinadas à produção de madeira para as indústrias, e são animadoras as perspectivas na silvicultura e no manejo das nossas espécies nativas.
Paralelamente à abertura de novos cursos, surgiram instituições de pesquisas vinculadas às universidades, como o IPEF, SIF, Fupef e Cepef e a Embrapa Florestas. O setor privado também desempenhou papel fundamental no desenvolvimento da engenharia florestal. Além dos investimentos realizados nas atividades de pesquisas e no desenvolvimento operacional, houve investimentos das empresas na capacitação dos profissionais florestais.
A política florestal oficial, embora possa não ter sido a ideal, também tem estimulado o desenvolvimento do setor. A soma de vários esforços, iniciativas e dedicação nos trouxeram até essa primeira década do século XXI. A engenharia florestal deu passos expressivos e tem contribuído de maneira significativa para a evolução do Brasil. Precisamos agora olhar as próximas décadas, com a visão de crescimento sustentável do setor florestal. Temos que proteger e utilizar os recursos florestais com ciência.
Nossa legislação florestal ainda necessita de ajustes. Há, inegavelmente, que se agir de forma a assegurar às próximas gerações o acesso aos bens florestais no seu sentido amplo, que inclui a diversidade biológica e da paisagem, a proteção dos mananciais, a absorção de carbono, sua contribuição para a redução dos efeitos das mudanças do clima e para a mitigação da pobreza no meio rural.
Outro desafio importante é conciliar os diversos interesses das comunidades rurais com a produção sustentável de madeira e produtos florestais. No setor de florestas plantadas, é preciso assegurar a produção de madeira para os diversos segmentos da indústria de base florestal, com plantios sustentáveis, produtivos e que gerem emprego e renda no campo.
A função social das áreas florestais nativas e plantadas, na proteção de mananciais de água, por exemplo, terá importância vital para a sociedade. Os bens, produtos e serviços florestais contribuem de forma inequívoca para o bem-estar, educação e cultura da sociedade e têm o mérito de serem gerados a partir de recursos naturais renováveis. Esses são desafios motivadores para as próximas décadas da cinquentenária engenharia florestal brasileira.