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Carlos Frederico Wilcken

Professor de Entomologia Florestal da UNESP - Campus de Botucatu

OpCP82

O uso de bioinsumos na proteção florestal
Coautor: Murilo Fonseca Ribeiro, Coordenador Técnico Executivo do PROTEF/IPEF
 
As plantações florestais brasileiras são frequentemente afetadas por pragas e doenças. Em 2024, as três pragas mais importantes nos plantios de eucalipto, excetuando as formigas cortadeiras, foram o psilídeo-de-concha, com aproximadamente 860 mil ha, as lagartas desfolhadoras, em torno de 570 mil ha, e o besouro amarelo, com 148 mil ha, de acordo com dados do levantamento anual de pragas florestais, do Programa Cooperativo sobre Proteção Florestal (Protef) do Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (IPEF). As principais táticas de manejo das duas primeiras são o controle biológico, seguido do químico. 
 
Na cultura do Pinus, a principal praga é vespa-da-madeira Sirex noctilio, e o principal método de controle é o biológico, com uso do nematoide parasita Deladenus siricidicola.

O aumento das áreas afetadas por pragas gerou também aumento no registro e uso de inseticidas químicos e, principalmente, biológicos em plantios florestais, sendo considerados mais adequados quanto à sustentabilidade ambientais das florestas plantadas.

Segundo o sistema Agrofit, do MAPA, atualmente temos como bioinseticidas oficialmente registrados para controle de lagartas desfolhadoras: 19 produtos de Bacillus thuringiensis (Bt), 6 produtos de parasitoides de pupas e 1 produto à base de extrato de planta (oxymatrine); para o psilídeo-de-concha: 4 produtos à base de fungos entomopatogênicos (Beauveria bassiana e Isaria fumosorosea), um à base de bactérias e um de crisopídeo predador; para o gorgulho do eucalipto (Gonipterus platensis): 8 produtos de B. bassiana; e para o percevejo bronzeado temos um produto de B. bassiana.

Para o besouro amarelo Costalimaita ferruginea ainda não há nenhum inseticida químico ou biológico registrado. Para a vespa-da-madeira em Pinus, há apenas um produto registrado, que é o nematoide parasita específico da praga (Deladenus siricidicola). Isso totaliza 42 produtos, entre macro e microbiológicos. Há cinco anos não havia 25% dessa quantidade. 
 
Até 2025, segundo a Croplife (2025), temos 924 bioinsumos registrados no MAPA para a agricultura em geral. Desse total, 72% são produtos microbiológicos, 11% de macrobiológicos (parasitoides e predadores) e 11% de bioquímicos (toxinas e extratos botânicos). Considerando o tipo de alvo biológico, 508 são bioinseticidas (45,2% do total). Portanto, bioinseticidas para uso florestal são apenas 8,3% do total registrado no Brasil, mas que está acima da proporção de inseticidas químicos registrados para florestas plantadas.
 
Os bioinseticidas têm menos restrições pelos sistemas de certificação florestal principalmente pelo FSC. Outra vantagem dos bioinsumos é a rapidez na aprovação do registro, levando aproximadamente 1 ano, enquanto o registro de agrotóxicos químicos leva entre 5 e 8 anos. 

Esse cenário demonstra o aumento expressivo de bioinseticidas registrados e que deve seguir em crescimento após a aprovação da lei dos bioinsumos em dezembro de 2024 e em fase final de regulamentação até o final de 2025. A lei de bioinsumos permite também a produção própria do agente de controle biológico pelos produtores e empresas agrícolas e florestais, chamada de produção “on farm”.

A produção on farm é particularmente importante para as empresas que cultivam eucalipto, pois várias pragas são exóticas (não-nativas do Brasil) e já realizamos a introdução de parasitoides específicos para o controle do psilídeo-de-concha, percevejo bronzeado e vespa-da-galha. Geralmente, esses parasitoides não são alvo de interesse das empresas de bioinsumos por serem muito específicos quanto à praga-alvo (não é possível produzi-los com hospedeiros alternativos ou com meio de cultura sintéticos) e à cultura (eucalipto). Dessa forma, as próprias empresas florestais os produzem em biofábricas nas suas áreas florestais. 

Em 2025, o Protef realizou o 1º levantamento da produção de inimigos naturais pelo setor florestal. Em 2024, foram produzidos mais de 752 milhões de insetos visando o controle de lagartas desfolhadoras, entre parasitoides de pupas e de ovos e percevejo predadores. Para o psilídeo-de-concha foram produzidos 7,3 milhões de insetos, sendo o crisopídeo Chrysoperla externa (predador) o mais produzido (aproximadamente 97% do total), seguido de joaninha, do parasitoide de ninfas Psyllaephagus bliteus e do percevejo predador Atopozelus opsimus.

Para o percevejo bronzeado, foram produzidos 4,4 milhões do parasitoide de ovos Cleruchoides noackae (introduzido da Austrália). Números que evidenciam o comprometimento do setor florestal com a adoção do controle biológico.

As plantações florestais são um agroecossistema adequado para o uso de controle biológico aplicado direto, pois são culturas perenes e têm um microclima propício para o controle, considerando o sombreamento das copas e maior umidade relativa, em comparação com as culturas agrícolas anuais.
 
O manejo florestal também é importante para manter a resiliência desses inimigos naturais no campo, adultos de parasitoides e de alguns predadores se alimentam de néctar, e a oferta de alimento no interior do plantio florestal permite que estes insetos permaneçam no sistema. 

Há várias pesquisas do Brasil e no mundo sobre manutenção de sub-bosque nos talhões e/ou proximidade de fragmentos de nativas como locais de abrigo e multiplicação de predadores e parasitoides. Algumas empresas florestais estão conduzindo experimentos com redução de aplicações de herbicidas em plantios de eucalipto a partir de 2 anos de idade para verificar se há aumento nas populações de inimigos naturais e redução na infestação das pragas, associado a liberações de inimigos naturais produzidos nas biofábricas.

Apesar dos progressos expressivos, desafios persistem. Com destaque especial se encontra a obtenção de bioinseticidas eficazes para o manejo das formigas cortadeiras em campo, as principais pragas da silvicultura brasileira e que hoje têm seu manejo totalmente dependente do controle químico.

Para isso, é necessária a continuidade de pesquisas e cooperação entre o setor produtivo, instituições científicas e órgãos reguladores. Espera-se que a regulamentação da lei de bioinsumos atue de modo a fortalecer as estratégias atuais empregadas no controle químico e possibilite o desenvolvimento de novas ferramentas para um manejo de pragas cada vez mais desafiador.