O desenvolvimento técnico ocorrido no setor florestal entre a década de 1980 e os anos 2000 foi fantástico. Conseguimos ganhos de produtividade em madeira que chegaram a 100% e 200%. Foi uma revolução produtiva. Sem exageros, podemos dizer que cruzamos uma linha de produtividade que nem mesmo os mais otimistas acreditariam nos números que foram alcançados.
Isso foi um passaporte para os ganhos de escala que seguiriam os próximos anos. Para as décadas de 2010 e 2020 vimos grandes projetos sendo implantados com muito sucesso. Empresas do segmento florestal têm ampliado a sua produção, mas nada comparável com as empresas de celulose. As fábricas são cada vez maiores, com escalas que aumentam a viabilidade e competitividade das empresas.
Não há como fugir da responsabilidade, temos vocação para plantios florestais e temos a tecnologia de geração de produtos florestais de qualidade com custos competitivos.
Deparamo-nos todos os dias com grandes oportunidades em diversos segmentos que são supridos por nossas florestas plantadas. A captura dessas oportunidades implica em grande desafio ao gestor florestal. Uma coisa é ter vocação, a outra é desenvolver de forma adequada os dons e as dádivas que recebemos.
O grande desafio é não perder o nosso potencial produtivo. O potencial está consolidado, ninguém duvida mais de produtividades de 35 a 60 m³ de madeira por hectare ano, a depender do sítio de produção. Não há dúvida quanto à viabilidade e à competitividade do setor florestal. Os desafios também já estão mapeados, já é de conhecimento onde é necessário investir.
A sustentabilidade da produção florestal é um desafio que deve ser vencido atuando nos fundamentos da silvicultura. Não é uma tecnologia nova, mas a repetição consistente dos fundamentos que foram lançados por aqueles que nos precederam.Quando os fundamentos da boa silvicultura são relativizados, nos tornamos mais fracos frente ao desafio da sustentabilidade da produção florestal.
Deveríamos olhar com cuidado os fundamentos que nos trouxeram até aqui, adotá-los como uma lei inviolável, para que o grande desafio de escalar a nossa produção florestal se consolide, pois o jogo nunca está ganho.
Creio que não é demais relembrar os fundamentos da boa silvicultura. O casamento perfeito ocorre na cooperação entre as áreas técnica e operacional. Nossas especialidades técnicas são: melhoramento genético, solos e nutrição, e proteção florestal. As áreas de operação são: preparo de solo e plantio, controle a pragas e doenças, controle de matocompetição, e adubação. Além das áreas de apoio e pré-operacionais: conservação de solo e estradas, planejamento florestal e desenvolvimento da mecanização. É fundamental a atuação das áreas socioambiental e segurança, pois, sem elas, não há como perpetuar o negócio.
Toda empresa florestal que busca escalar sua produção conta com essas áreas bem-estruturadas, mas isso por si só não é o suficiente. Colocar esse time para trabalhar com o objetivo comum é o grande desafio do gestor florestal. Muito tempo, energia e dinheiro são gastos para colocar essa seleção de profissionais trabalhando de forma produtiva.
Grandes nomes da silvicultura deveriam ser lembrados pela sua simplicidade e objetividade, pois foram esses que fizeram a diferença quando ainda não sabíamos o caminho. Pensar em Edgar Campinhos nos ensinado sobre clonagem, nos professores Nairam e Novaes nos ensinando sobre solos e nutrição, em Teotônio nos ensinando sobre melhoramento, no professor Ronaldo sobre p roteção contra incêndios, em Gualter Moura sobre empreendedorismo florestal, e tantos outros que merecem o nosso reconhecimento.
O meu objetivo é honrar esses nomes pela simplicidade associada à sua genialidade, pois os gênios que não abraçaram a simplicidade não perpetuaram resultados nem mesmo deixaram legado consistente. A produtividade das florestas é o que gera valor, pois florestas produtivas geram um ciclo virtuoso de desenvolvimento.
A consistência de resultados no setor florestal depende de investimentos sistemáticos nas áreas técnicas, operacionais e de apoio ao desenvolvimento do empreendimento. Os inventários florestais deveriam ser mais apreciados do que relatórios bem descritos e ilustrados.
Não há problema com um belo relatório, mas ele se torna dispensável quando não é acompanhado de produtividade que expressa o potencial do sítio de produção. As ferramentas digitais, georreferenciadas e conectadas são excelentes apoios à gestão,
bem como as poderosas ferramentas de análise e planejamento.
Tudo isso associado à presença nos talhões e à visão de campo enriquece muito o processo de decisão e é extremamente benéfico ao desenvolvimento do empreendimento. O comentário parece obvio, mas muitas vezes renunciamos à visão crítica do gestor presente nos talhões e abraçamos os números áridos dos nossos sistemas modernos. Acabamos perdendo a sensibilidade e, por fim, decisões simples, de baixo custo e alto impacto.
A reflexão mais importante é que a altivez é sempre um forte inimigo. Não é sem razão que os provérbios citam que “adiante da honra vai a humildade” e que “a soberba precede a ruína”.
Sempre temos diante de nós restrições que nos levam a eleger prioridades, e é justamente aí que temos de ser muito criteriosos. Em cenários de stress e restrições, cometemos erros, mas também aprendemos sobre tomada de decisões. Aprendemos que uma empresa que não tem caixa, não tem escolha e, sem escolhas, perece.
As florestas atravessam crises hídricas, crises políticas, crises financeiras, crises de governança e, no final, mostram suas perdas. As operações que deveriam ser realizadas são suprimidas, e a produtividade se vai. O desafio do gestor florestal é protegê-las das decisões de curto prazo e levá-las ao final de seu ciclo da melhor forma possível. Pois a produtividade final dos nossos talhões é que gera valor para todas as partes interessadas de nossa sociedade.
Assim, plantar e conduzir florestas produtivas é um exercício de unidade, humildade e responsabilidade do empreendedor florestal. As comunidades e cidades do entorno da floresta são profundamente beneficiadas por empreendimentos prósperos e consistentes.
O objetivo é estimular e encorajar o nosso leitor a se tornar um empreendedor melhor. Aprendendo com o passado e inspirado por aqueles que fizeram o caminho, lançando mão das modernas ferramentas, de forma criteriosa e sistemática, e zelando pelo futuro promissor das nossas florestas plantadas.