Oficial de Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Op-CP-11
O Relatório de Desenvolvimento Humano 2007/2008, do PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, coloca o tema das Mudanças Climáticas como central para o desenvolvimento humano no século XXI, afetando todos os países e setores da economia mundial. Uma das lições mais duras que aprendemos com as alterações do clima é que o modelo econômico vigente é ecologicamente insustentável e está sobreexplorando os recursos do planeta.
O maior desafio imposto agora é o de redirecionar as atividades econômicas para que caminhem em sintonia com a capacidade de fornecimento de bens e serviços ambientais do planeta. O impacto das mudanças climáticas afetará a todos na Terra. Porém, os efeitos imediatos serão sentidos com maior intensidade nas populações mais pobres, aprofundando ainda mais o abismo entre aqueles que desfrutam de alto e de baixo desenvolvimento humano.
Os grupos sociais mais vulneráveis são aqueles que estão mais expostos aos riscos, são mais sensíveis a eles e que têm menor capacidade de resposta ou habilidade para se recuperar. Secas, enchentes e intempéries já diminuem as oportunidades de desenvolvimento das populações mais vulneráveis e reforçam a desigualdade.
A vulnerabilidade dependerá não somente das alterações no clima, mas também da capacidade dos países em usar seus recursos naturais, inteligentemente. As modificações climáticas colocam no centro do debate o papel fundamental das florestas no desenvolvimento humano, que se refere à ampliação do leque de escolhas das pessoas e às suas liberdades individuais. O tratamento que as florestas recebem no presente determinará a amplitude de opções de usos futuros.
Nesse contexto, o desmatamento é certamente a alternativa que mais diminui essas opções futuras. A forma preponderantemente predatória como as florestas são utilizadas no Brasil é insustentável, afetando negativamente a biodiversidade, os recursos hídricos, o solo e a forma de vida de populações tradicionais.
Enquanto as mudanças no uso das terras e a destruição de florestas respondem por cerca de 20% das emissões mundiais de gases causadores do efeito estufa, no Brasil esse valor sobe para 70%. Embora grandes esforços tenham sido feitos para conter a redução das florestas nativas, as taxas de desmatamento continuam elevadas, diminuindo o impacto dos bens e serviços, que os ecossistemas florestais podem fornecer.
A mitigação climática é apenas um dos muitos bens e serviços públicos fornecidos pelas florestas. Três papéis principais são desempenhados pelas florestas nas alterações climáticas. As florestas regulam o regime hídrico, contribuindo para a recarga de aqüíferos e cursos de água, reduzindo o assoreamento, erosão do solo e as enchentes.
Também têm potencial para armazenar parcela significativa das emissões globais de carbono, contribuindo para a redução dos estoques de carbono na atmosfera. Além disso, são fontes de produtos como óleos, frutos, madeiras, fibras, lenha, medicamentos e caça, que desempenham importante papel como fonte de renda e segurança alimentar, contribuindo para a sobrevivência e o modo de vida das populações tradicionais.
O desaparecimento das florestas utilizadas pelas comunidades locais reduz as opções de sobrevivência, comprometendo, assim, o desenvolvimento humano. Três boas práticas no setor florestal podem contribuir para a mitigação das mudanças climáticas, e estão diretamente relacionadas à redução ou eliminação do desmata-mento e ao reflorestamento.
A primeira envolve a redução das emissões de dióxido de carbono, que pode ser obtida com redução de desmatamentos e queimadas. A segunda refere-se a reduções na emissão de outros gases causadores do efeito estufa, como metano e óxido nitroso, que podem ser obtidas com melhor uso da água de irrigação e adubação, com fertilizantes nitrogenados. E a terceira relaciona-se ao seqüestro de carbono, através do plantio de florestas em áreas degradadas.
Nos trópicos, a vegetação cresce em menor espaço de tempo que nas regiões temperadas e assim remove carbono da atmosfera mais rapidamente e, desta forma, o plantio de árvores pode contribuir para a redução de quantias significativas de carbono da atmosfera, em pouco tempo. Há uma oportunidade única para agregar esforços de mitigação às alterações do clima, com alternativas de desenvolvimento, que promovam sociedades mais prósperas e sustentáveis.
No Brasil, o setor florestal, além de implementar as boas práticas para o setor, deve também juntar esforços para promover o desenvolvimento humano, reduzindo as disparidades sociais e econômicas. Além disso, deve dar especial atenção à conservação da biodiversidade, ao manejo dos recursos hídricos e às populações tradicionais. Essas três variáveis são interdependentes, e a promoção do desenvolvimento sustentável das comunidades locais produz benefícios também na conservação da biodiversidade e proteção dos recursos hídricos, que geram benefícios locais e globais.
As oportunidades para o crescimento econômico do setor florestal são enormes, porém não menores são os desafios para que o setor contribua para o desenvolvimento humano. As taxas elevadas de desmatamento e emissões dão uma idéia do desafio a ser enfrentando na transição de um modelo predatório no uso das florestas, para um modelo que considere o balanço entre as variáveis econômicas, sociais e ambientais.