Professor de Fertilidade do Solo da Universidade Federal de Viçosa
Op-CP-14
A sustentabilidade da produção florestal, ou seja - “a manutenção da produtividade florestal, podendo haver acréscimo, ao longo de rotações ou de colheitas sucessivas” - é fundamental para a competitividade do setor. Esta sustentabilidade é função, nas regiões tropicais, com solos altamente intemperizados, principalmente, da existência e da manutenção de fluxos de água e nutrientes no solo em níveis adequados à satisfação das respectivas demandas pelas árvores.
É bem sabido que os ganhos de produtividade em povoamentos florestais são dependentes de adequado manejo silvicultural, de modo a poder expressar o potencial do material genético utilizado. Por sua vez, esse manejo compreende uma série de práticas ou de técnicas, que visam, direta ou indiretamente, aumentar a disponibilidade e/ou a eficiência de uso dos recursos água e nutrientes para as plantas, e, conseqüentemente, elevar e manter em níveis altos a produtividade das florestas, de modo a alcançar a capacidade produtiva do sítio florestal, primariamente determinada pelo clima e fisiografia do terreno.
Nesse manejo, a aplicação de fertilizantes tem se mostrado a técnica mais efetiva para acelerar o crescimento e elevar a produtividade de florestas plantadas na região tropical úmida. A efetividade dessa técnica varia com uma série de fatores e de práticas adotadas no manejo silvicultural, podendo-se destacar: qualidade do sítio, material genético, tipo de preparo da área e do solo, competição com plantas invasoras, uso anterior do solo, aspectos relacionados à própria técnica de adubação, escolha de espaçamentos e desbastes.
No Brasil, os maiores ganhos de produtividade em resposta à fertilização mineral ocorrem em áreas de implantação, para a aplicação de fertilizantes fosfatados, mas, com o aumento do número de rotações, a resposta a outros nutrientes tem se intensificado. A exportação de nutrientes pela colheita é alta nos povoamentos florestais de curta rotação, e, em geral, é baixa a reposição de nutrientes pela ação do intemperismo, tornando a suplementação nutricional, via aplicação de fertilizantes e corretivos, essencial para aumentar e manter a produtividade em altos níveis, mesmo em condições de disponibilidade hídrica elevada.
Muito se avançou em termos de recomendação de adubação para povoamentos florestais, no Brasil. Por exemplo, para eucalipto, nas décadas de 60 e 70, com produtividades em torno de 20m³/ha/ano, apenas se adubava por ocasião do plantio, ocasião em que eram utilizadas nas fertilizações praticamente as mesmas quantidades de nitrogênio, fósforo e potássio, em geral 100 a 150 g/planta de NPK 10-28-6 ou de fórmulas similares, independentemente das condições de solo e do material genético.
Atualmente, com produtividades alcançando 60 m³/ha/ano, as quantidades de nutrientes usadas nas adubações podem ser determinadas por meio de modelo - também disponível para povoamentos de Pínus e de Teca, que realiza o balanço entre o suprimento de nutrientes pelo solo e a demanda de nutrientes pelas árvores.
Além disso, essas quantidades de nutrientes são aplicadas não apenas por ocasião do plantio, havendo também fertilizações de manutenção, em cobertura, ao longo de parte do ciclo de crescimento da floresta. No modelo, o referido suprimento de nutrientes é obtido com base em resultados de análise de solo e no volume de solo explorado pelas raízes absorventes das árvores. Já a demanda de nutrientes é obtida em função da produtividade esperada e da eficiência nutricional do material genético.
Por sua vez, essa produtividade pode ser estimada, inclusive, por meio de modelos baseados em eficiência de uso de radiação solar e água e de partição de carbono, ou seja, modelos baseados em processos, dotados, assim, de capacidade preditiva. A propósito, a utilização crescente de modelos na silvicultura brasileira insere-se em importante e salutar mudança de enfoque, qual seja, de constatação empírica, baseada em observação e medição de experimentos para previsão, sendo que muitas das informações obtidas nos experimentos já realizados são utilizadas visando à parametrização e calibração dos modelos.
Uma vez seguidas as recomendações, realizadas as fertilizações de plantio e implantada a cultura, é importante, durante a fase inicial de crescimento, no primeiro ano, que os plantios sejam observados e avaliados periodicamente, o que se constitui em um inventário da qualidade da implantação do povoamento florestal. Nesse tipo de inventário, em uso cada vez mais freqüente nas empresas, é atribuída grande importância à nutrição, sendo as plantas avaliadas quanto ao crescimento, em altura, e quanto à freqüência e severidade de sintomas de deficiência, e amostradas visando análise química da folha.
São também avaliados fatores de natureza não nutricional, tais como competição por plantas invasoras, existência de condições de encharcamento de solo, dentre outras, que interferem no crescimento dos plantios. Afinal, a boa nutrição é condição necessária, mas não suficiente, à obtenção de altas produtividades, havendo, para tal, que se ajustar todos os fatores que interferem no processo produtivo.
As informações obtidas desses inventários em plantios jovens são úteis, para que se proceda, se necessário, as correções de rumo, inclusive no que tange às fertilizações de manutenção, no sentido de melhor atingir a capacidade produtiva do sítio, realizando-se, assim, um “ajuste fino” no programa de fertilizações, de modo a otimizá-lo tanto do ponto de vista técnico, como econômico.
A idéia subjacente à análise de nutrientes no tecido vegetal é a de que os teores de nutrientes na planta refletem os fluxos de nutrientes e, assim, fornecem idéia do suprimento efetivo do nutriente do solo para as plantas. Mas, qual órgão da planta deve ser analisado? Trabalhos de pesquisa têm concluído que, em plantios florestais jovens, os teores de nutrientes nas folhas correlacionam com o crescimento futuro do povoamento, enquanto que, em plantios adultos, os teores no lenho correlacionam melhor com o crescimento já obtido.
Outra questão que se impõe é quanto ao grau de universalidade dos valores de referência utilizados para interpretação do estado nutricional das plantas. Como, em um mesmo sítio florestal, diferentes materiais genéticos podem apresentar distintas taxas de crescimento e eficiências nutricionais, há a necessidade de se dispor de valores de referência específicos para cada material genético ou grupo de materiais genéticos similares.
Mas, as normas e os valores de referência - que consistem de teores e faixas de teores (de modo a que seja avaliado o balanço nutricional, ou seja, o grau de saciedade da fome da planta em cada um dos nutrientes) e relações ótimas entre nutrientes (para avaliar o equilíbrio nutricional, ou seja, a qualidade da dieta) - variam não apenas com o material genético, mas, também, com o sítio, com a idade dos plantios, com a estação climática (seca ou chuvosa), e com o manejo dos recursos água e nutrientes.
Logo, a utilização de valores de referência genéricos, que não contemplem esses efeitos, pode resultar em diagnósticos equivocados, com conseqüências negativas importantes no manejo nutricional, na produtividade e na economicidade das fertilizações, e prejuízos relevantes à sustentabilidade da produção florestal.
A propósito, a utilização de valores de referência obtidos, na região do Vale do Rio Doce, MG, para plantios de eucalipto na idade de 2 anos, visando diagnosticar o estado nutricional de plantios com 1 ano, resultou em 51% de diagnósticos equivocados, em termos de médias de todos os macro e micronutrientes envolvidos na diagnose, ou de 79% de diagnósticos equivocados, quando foram considerados apenas os nutrientes limitantes por falta, sem dúvida, daqueles mais merecedores de atenção para fins de correção.
Cabe ressaltar que os diferentes métodos tradicionalmente utilizados para interpretar os resultados das análises foliares, sejam aqueles que informam sobre o balanço ou o equilíbrio, realizam apenas a diagnose do estado nutricional da cultura, não fornecendo, explicitamente, informações quantitativas que permitam a correção dos problemas detectados, o que sempre foi objeto de crítica.
Recentemente, nosso grupo de trabalho conseguiu estabelecer essa ligação quantitativa entre os resultados da diagnose foliar, considerando balanço e equilíbrio nutricional, e a recomendação de adubação, para otimizar a produtividade e o aproveitamento dos nutrientes pelas árvores, e minimizar perdas. Estes são aspectos de suma importância, especialmente nos dias atuais, dado o alto custo dos fertilizantes, já estando disponíveis sistemas para eucalipto - fase de viveiro e plantios jovens no campo, e para teca.