O setor de suprimento de madeira, dentre os que compõem todo o ciclo produtivo florestal, certamente foi o que recebeu o maior e mais rápido aporte de tecnologia em máquinas e equipamentos. A colheita mecanizada foi a pioneira nesse setor, onde a escassez e o alto custo de mão de obra, aliados às grandes expansões fabris, à demanda de madeira e à melhoria nas condições de segurança do trabalho, fizeram com que grandes fabricantes de máquinas florestais desembarcassem aqui, na década de 1990, com suas opções vindas da Finlândia, da Suécia, dos Estados Unidos e do Canadá.
A customização foi imediata, principalmente para as operações com eucalipto sem casca, integradas a equipamentos da linha de construção civil, basicamente escavadoras hidráulicas, como máquina-base, a fim de reduzir custos de investimento e manutenção, visto que boa parte das áreas colhidas não possuíam restrições de relevo, e seu uso já era comum em outros setores. A mudança deu certo e, até hoje, esse conjunto apresenta ótima performance e custo-benefício, sendo que os principais fabricantes já possuem máquinas de esteiras totalmente projetadas para o trabalho florestal.
Os equipamentos importados, e até alguns nacionais que surgiram no caminho, rapidamente se espalharam entre as médias e grandes empresas do setor, proporcionando melhor produtividade, menores custos operacionais, redução significativa da gravidade e da quantidade de acidentes e, principalmente, a garantia de escala de produção para o abastecimento de suas fábricas. Atualmente, até mesmo pequenas unidades já mecanizaram ou estão em processo.
Quase em paralelo com a colheita florestal, porém em escala menor, a modernização dos pátios de madeira foi também uma forte evolução no setor, trazendo também uma ampla diversidade de equipamentos, tendo em operação nas fábricas, especialmente de celulose, os mais variados sistemas. Da grua florestal convencional, passando pelos manipuladores sobre pórticos, até as imensas logstackers. Além disso, é possível dizer que todas as médias e grandes fábricas de base florestal na América Latina já possuem manipuladores elétricos e até híbridos em suas linhas de recebimento de madeira.
Isso é modernização e evolução tecnológica; cada solução, adequada à sua necessidade e momento. O transporte de madeira certamente foi o que mais evoluiu nos últimos anos, saindo da sombra principalmente do transporte canavieiro. Até pouco tempo, as grandes implementadoras eram muito resistentes em soluções customizadas ao setor, inicialmente pela menor escala de demanda e pela dificuldade de adaptação das linhas de produção, o que abriu oportunidades para as pequenas e médias implementadoras inovarem e atenderem prontamente ao setor. A área florestal se tornou um nicho de alta especialização e demanda de tecnologia.
A evolução partiu da redução de tara com uso de ligas metálicas especiais e continua evoluindo até os mais modernos sistemas de segurança veicular. Nas unidades tratoras ou cavalos mecânicos, ainda estamos um pouco no rastro de outros setores, como mineração e canavieiro, porém já com alguma e crescente luz própria. Nesse caso, devido à forte similaridade de condições operacionais, não há dificuldades em compartilhar projetos, tendo, no momento, atendido, de forma satisfatória, à boa parte das soluções disponíveis no mercado – a combinação entre os implementos mais leves e a configuração mais adequada de cavalo mecânico ao percurso a ser utilizado, seja por diferenças em tipo ou percentuais de pavimentação e relevo predominante.
Tal estratégia propicia uma melhor eficiência energética ao conjunto, maior produtividade, além de ganhos em consumo de pneus e componentes mecânicos. A eletrificação de caminhões bem como a busca por outras fontes de combustível, como gás natural e biodiesel, têm tornado essa corrida “verde” cada vez mais ágil.
Na área de estradas e malha viária, evoluímos pouco em tecnologia e equipamentos. A grande modernização vem sendo em telemetria e apontamento eletrônico das atividades, proporcionando, agora, melhor controle da produtividade dos equipamentos e da gestão da frota. Precisamos evoluir ainda em tecnologias e técnicas construtivas, redução do uso de recursos naturais, como água e materiais de revestimento (argila, areia, cascalho, britas, etc.), e eficiência energética. Daí a importância de se aproximar de empresas especializadas e instituições de pesquisa.
Nessa linha de compartilhamento, o setor florestal possui muitas similaridades com outros de maior porte, como mineração, agrícola e construção civil. Devemos fortalecer a interação e a troca de conhecimento com as empresas e as instituições ligadas a eles, pois é certo que sempre conseguiremos aproveitar algo novo que se pratica nesses setores para testarmos e aplicarmos em nossas operações. Por exemplo, o que a mineração faz para controlar poeira nos acessos, pátios e pilhas de estocagem de minério? O que o setor agrícola vem fazendo de bom ou novo na manutenção mecânica das grandes e modernas colhedoras de cana e grãos? O que a construção civil oferece de oportunidades em revestimentos de estradas? Precisamos evoluir muito nessa interação. Ir além das florestas.
Assim, evoluímos e modernizamos nossas máquinas e veículos, iniciamos o mundo “digital” com a comunicação de dados, uso de machine learning, automação de processos e emplacamos a eficiência energética como uma das principais metas de sustentabilidade do negócio. No entanto, hoje e nos próximos anos, estaremos com um dos maiores desafios do setor para seu pleno desempenho: pessoas qualificadas.
Passamos, hoje, por forte escassez de mão de obra para os mais variados níveis técnicos e de gestão. Faltam profissionais qualificados para os perfis técnicos da indústria e da manutenção automotiva, como também perfis operacionais direcionados ao trabalho em campo, como operadores de máquinas e motoristas de caminhão. A disputa entre empresas e até entre diferentes setores da economia tem intensificado o que já estava bem difícil.
Nesse contexto, cabe às grandes demandantes desses profissionais aprimorar os processos seletivos, buscando uma maior assertividade nas admissões e longevidade nas relações de trabalho, reduzindo turnover e aumentando a regularidade das operações. Pensando nisso, a Bracell inaugurará o Bracell Learning Institute, estrutura física e organizacional, que visa à qualificação contínua tanto dos seus colaboradores como dos moradores das comunidades e cidades circunvizinhas, a unidade de Lençóis Paulista, em São Paulo. É na prática a intensificação da regionalização da mão de obra e a busca por estabilidade.
A modernização das operações de suprimento de madeira está acelerada, surgindo, a cada dia, mais tecnologias e aplicações dedicadas ao setor florestal. Aproveitar todos esses avanços só será possível se investirmos ainda mais em qualificação de mão de obra e na sua retenção nas empresas e nas regiões de atuação. Será um grande desafio materializar essas inovações em ganhos de qualidade, produtividade e custo.