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João Fernando Borges

Diretor Florestal da Stora Enso Latin America Division

Op-CP-27

Inovação tecnológica

Sempre que os gestores de empresas olham para o futuro, deparam-se com a questão fundamental de o que fazer para sobreviver, crescer e perpetuar-se. Esse é um desafio permanente também das espécies e das organizações sociais ou, extensivamente, de todos os seres vivos.

Naturalmente, as estratégias para ser bem-sucedido nessa busca podem ser inúmeras. O certo é que, de alguma forma, a estratégia implica ser capaz de fazer alguma coisa melhor ou de forma diferente, visto que o ambiente está em contínua mudança.  Se as coisas continuarem a ser feitas como antes, podemos assegurar, com alguma sorte, a sobrevivência, mas dificilmente o crescer e perpetuar-se.

O crescimento econômico dos setores produtivos – o setor florestal entre eles – resulta de novas combinações de produtos, processos, mercados, recursos e organizações. Essas novas combinações são o que podemos chamar de inovações ou, mais especificamente, inovações tecnológicas.

As inovações podem decorrer de um “estalo”, mas, na maioria das vezes, é fruto de trabalho persistente e determinação das organizações. A inovação é o motor que move as empresas para o futuro em condições de competir e manterem-se sólidas. A atividade florestal como atividade empresarial diz respeito à utilização dos recursos florestais, que, diferentemente de outros recursos naturais, como o petróleo, o carvão mineral e os minerais, são renováveis. 

No passado, aceitava-se que a utilização dos recursos florestais fosse feita de modo similar à mineração, no sentido de que os recursos florestais eram explorados e exauridos, e as áreas de florestas, convertidas predominantemente para uso agrícola.

O fato é que, hoje, não é mais concebível tratar do uso dos recursos florestais sem levar em conta o desafio que a sociedade moderna tem pela frente, que é deter as mudanças climáticas, garantir a disponibilidade de água potável, estabilizar a população humana e criar condições para que todas as nações tenham a possibilidade de se desenvolver.


A utilização dos recursos florestais deve estar alinhada a essas necessidades. Nos diferentes segmentos da indústria florestal, os recursos florestais são constituídos, na grande maioria das vezes, pela madeira de uso industrial.

A madeira industrial tem dois grandes usos, os materiais destinados à construção, como madeira sólida, móveis e toda a gama de produtos de madeira, e os produtos à base de fibras, como são os papéis de imprimir e escrever e papéis para embalagens, por exemplo, e os cartões.

Esses usos da madeira respondem por cerca de 50% do total de madeira consumida no mundo; os outros 50% são utilizados para geração de energia (lenha e demais usos associados à queima da madeira). Em relação à fonte de madeira, as florestas plantadas respondem, atualmente, por aproximadamente um terço do suprimento mundial de madeira industrial.

Pelas necessidades de conservação das florestas nativas – que se impõem pela preocupação da sociedade moderna com os temas de sustentabilidade do planeta –, a madeira industrial terá como fonte, cada vez mais, as florestas plantadas, que, devidamente manejadas, podem produzir madeira de forma sustentada e utilizando menor área.

Além disso, colher madeira em florestas nativas e de ciclo longo como as do hemisfério norte será cada vez mais difícil e mais caro. As florestas plantadas, além de possibilitarem maior volume de madeira por área cultivada, permitem melhor logística para acessar e transportar a madeira, bem como favorecem ganhos nas operações de estabelecimento das plantações, sua manutenção e colheita. Plantações com espécies de rápido crescimento também podem se beneficiar mais das pesquisas em genética e redução de ciclos de corte.

O conjunto desses fatores induzirá ao conceito de fazendas florestais ou de produção intensiva de fibra. Além das inovações tecnológicas necessárias para tornar a produção florestal sustentável e rentável, a política e as legislações que regulamentam e interferem na produção florestal devem criar condições para a produção de madeira industrial, principalmente nos países com vocação para a produção de madeira, como é o caso do Brasil e de outros países da América do Sul.

Tradicionalmente, as inovações e as novas tecnologias no setor florestal têm tido origem no desenvolvimento de pesquisa e de operações das próprias empresas florestais e nos fornecedores de máquinas, equipamentos e insumos. Infelizmente, ainda não temos quantificado o impacto das inovações no setor florestal brasileiro.

Temos exemplos de novos serviços e produtos que resultaram em mudanças significativas nas operações e nos processos florestais, mas não temos estudos avaliando a sua natureza, intensidade e impacto.

O mesmo se aplica à identificação dos atores e veículos que promovem as inovações (trabalhadores, gestores de empresas florestais ou de fornecedores, instituições de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, universidades, especialistas, feiras e seminários, viagens técnicas, etc.) e à caracterização do perfil das empresas e proprietários florestais.

O entendimento e a análise de como as inovações tecnológicas acontecem e seus impactos no setor florestal brasileiro são necessários para que nos posicionemos em relação a outros setores da economia e aos países com os quais competimos. Nossas vantagens competitivas no presente, resultado do desenvolvimento de tecnologia para plantações florestais e das condições favoráveis para a produção florestal industrial no Brasil, posicionam-nos bem no cenário mundial, mas não garantem que seremos competitivos nas próximas décadas.

É necessário que tenhamos políticas de país para estímulo à inovação e que, dentro de nossas empresas, incluamos nas metas dos nossos gestores indicadores de contribuição à inovação. Estudos desse tema na área florestal revestem-se também de importância, pois possibilitariam nos posicionar em relação a outros setores e orientar nossas ações futuras nessa área.