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Thais Cunha Ferreira

Gerente de Planejamento Florestal da BSC/Copener Florestal

Op-CP-52

Geotecnologias e a gestão de ativos florestais
Coautores: Humberto Justo Amoedo e Mauro Quirino, Coordenador de Geotecnologias e Diretor Florestal da BSC/Copener Florestal

Drones, georreferenciamento, LIDAR, Silvicultura de Precisão... a lista de palavras, expressões e siglas que se tornaram comuns no meio florestal, nos últimos vinte anos, não para por aí. São muitas as ferramentas e os equipamentos que, aos poucos, ganham espaço e popularidade, tanto na operação quanto na gestão de ativos florestais em todo o mundo.

O Brasil tem seguido de perto essa tendência, e o conceito de Indústria 4.0, quando aplicado à área florestal, tem, nas geotecnologias, um forte aliado para suporte à tomada de decisão, à agilidade na obtenção e na disponibilização de informações e também ao controle de processos, tendo como resultado a redução de custos. 
 
Geotecnologias são um conjunto de poderosas técnicas e ferramentas para coletar, manipular, processar, analisar e disponibilizar imagens e informações digitais geograficamente referenciadas. Utilizam hardware (satélites, sensores, radares, GPS, computadores e câmeras), software e “peopleware”. 
 
A gestão dos ativos florestais vem sendo positivamente impactada pela introdução das geotecnologias, principalmente por apoiar a tomada de decisão, para planejar estrategicamente os negócios, de forma a permitir a redução de custo e o aumento de produtividade. Podem, ainda, auxiliar na otimização da aplicação de pesticidas, herbicidas e agrotóxicos, inaugurando uma nova fase da produção agrícola, com maior eficiência e maior consciência no consumo de produtos químicos.

É considerada uma tecnologia impulsionadora de desenvolvimento. Dentre as principais técnicas e ferramentas, destacam-se: Sistemas de Informação Geográfica (SIG), Cartografia Digital, Sensoriamento Remoto, Sistema de Posicionamento Global (GPS), Topografia Georreferenciada e Aerofotogrametria (VANTs e tripulados).
 
No Brasil, as primeiras técnicas foram introduzidas na década de 1980, por esforços do Prof. Jorge Xavier da Silva (UFRJ). Ele inspirou vários grupos no desenvolvimento de tecnologias associadas, desde a criação de laboratórios de geoprocessamento à criação do grupo de geoprocessamento e sensoriamento remoto do INPE, em 1984.

No setor florestal, foi introduzida no final na década de 1990. Uma das pioneiras foi a extinta Aracruz, que investiu pesado para integração do Sistema de Informação Geográfico com o Sistema de Informação Florestal e com o Sistema ERP. As principais podem-se citar:
• Gestão da base florestal: mapeamento do uso do solo, edição e geração de mapas, monitoramento das ocorrências florestais, obtenção do modelo digital do terreno, geração dos mapas de declividade, curvas de nível, mapeamento 3D, retalhonamento e otimização e precisão submétrica na construção de estradas florestais.
• Gestão ambiental: suporte na gestão de bacias hidrográficas, monitoramento de áreas de conservação e preservação e análise temporal da ocupação do solo.
• Silvicultura: implementação da silvicultura de precisão, monitoramento de matocompetição, identificação de falhas e mortalidade, alinhamento de plantio e monitoramento de pragas e doença.
• Inventário Florestal: acompanhamento do crescimento dos plantios, aplicação de geoestatística para estratificação dos povoamentos, geração de índices, cálculo de biomassa e avaliação de resíduos de colheita.
• Colheita: programação do caminhamento dos equipamentos, buscando maior eficiência das máquinas e redução do consumo de diesel e controle das operações florestais e otimização da distância de baldeio.
• Segurança Patrimonial: monitoramento de áreas de risco e invasão de áreas, levantamento e avaliação de incêndios.
Para tanto, a combinação dos produtos a serem obtidos é fundamental para implementação do uso da tecnologia, devido aos custos envolvidos em cada método. Uma das principais dúvidas está entre a aquisição de imagens de orbitais ou o uso de drones. Abaixo, um breve resumo das duas ferramentas.
 
Imagens de Satélite: A tendência atual consolida a disponibilização de novos satélites para uso civil, com sensores de altíssima resolução espectral (capacidade dos sensores do satélite de imagear várias faixas de largura do comprimento de onda do espectro eletromagnético), espacial (resoluções inferiores a 1 m) e temporal (a frequência que passa no mesmo lugar). 
 
Na linha do Sensoriamento Remoto, um importante passo foi o desenvolvimento de sensores hiperespectrais junto com software para análise, que oferecem inúmeras possibilidades no mapeamento de florestas plantadas, avaliação de vegetação, áreas degradadas, aplicação de índices de vegetação, mapeamento geológico e pedológico de detalhe e de exploração mineral. 
 
As principais aplicações do uso de imagens de satélite são: atualização e manutenção do cadastro florestal; levantamento de uso e ocupação do solo; monitoramento ambiental; aplicação de índices de vegetação (NDVI p.e.); atualização de perímetros e usos; levantamento de processos e dinâmicas de uso e ocupação do solo, por meio de análise temporal de imagens e gestão patrimonial.
 
O uso de imagens orbitais ainda é uma opção mais econômica na maioria dos casos. Atualmente, resoluções iguais ou acima de 10 metros podem ser obtidas de forma gratuita (satélites como série Landsat, mais recente Sentinel, dentre outros). Esse tipo de satélite oferece imageamento de extensas e contínuas áreas e sensores multiespectrais com grande variabilidade espectral. Porém apresenta média ou baixa resolução temporal e espacial, presença de nuvens e custo alto no caso de imagens de alta resolução.
 
As imagens de satélite com maiores resoluções espaciais, multiespectrais e resoluções espaciais abaixo de 3 metros apresentam custo em função das resoluções que podem oscilar entre R$ 5 a mais de R$ 50/km2, considerando sempre uma área mínima de contratação não inferior a 25 km2. 
 
Já as imagens de satélite com sensores ativos (radar e LIDAR) permitem, dentre outras coisas, obter representações digitais do relevo terrestre, não sofrem interferências das nuvens e de biomassa, e podem ultrapassar valores os R$ 2/ha (R$ 200/km2), no caso de sensores radar em satélites; e entre R$ 10 e R$ 30/ha no caso de sensores instalados em aeronaves (LIDAR).
 
 
 
Drones: A resolução média das imagens de drone está em torno de 5 a 10 cm, mas pode chegar a 1 cm, em função da altura de voo, podendo gerar produtos mais especializados, com alto grau de detalhe, além de voar abaixo das nuvens. Em contrapartida, os drones utilizam sensores com pouca variabilidade espectral, normalmente RGB (cor natural), podendo também ser acopladas câmeras com infravermelho e sensores do sistema LIDAR. A escala de mapeamento é pequena, e há restrições de voo por condições climáticas adversas (chuva e vento). 
 
Atualmente, as principais aplicações dos drones são: contagem de plantas (censo); avaliações de sobrevivência; localização de falhas; diâmetro de copa; verificação de espaçamento; levantamento de matocompetição; uniformidade; atualização de limites de talhão; visualização de resíduos; monitoramento de áreas invadidas, litígios entre outros e índices de vegetação detalhados, a nível de planta.
 
Os custos do voo com drone oscilam entre R$ 10 a R$ 15/ha, incluindo o levantamento de campo, geoprocessamento e mosaicagem das imagens. Adicional a eles, o custo de processamento das imagens para gerar os diferentes produtos varia entre R$ 3 a R$ 15/ha, dependendo do tipo de produto gerado. 
 
           
O processamento das imagens requer computadores de alta performance, softwares especializados, equipe treinada. Atualmente, no mercado, existem várias empresas especializadas prestando esse tipo de serviço. Por todos esses aspectos, a Gestão de Ativos Florestais depende desde aplicações básicas das ferramentas de geotecnologias até aplicações mais elaboradas.

Contudo a implementação dessas ferramentas ainda esbarra no alto investimento que requerem, pois, mesmo com o avanço tecnológico e consequentemente redução do nível de investimento e custos incorridos, ainda apresenta retornos pouco convidativos. A combinação e a valoração dos produtos intangíveis e a consideração dos custos evitados são imprescindíveis para viabilizar a adoção de tais tecnologias.