Inicio este artigo arriscando a dizer que o setor de florestas plantadas no Mercosul representa uma das áreas mais promissoras para o desenvolvimento econômico e sustentável no mundo. Com o aumento da demanda por produtos madeireiros, celulósicos e energéticos, as florestas plantadas não só desempenham um papel fundamental na geração de empregos e renda, mas também contribuem para a recuperação ambiental. No entanto, essa trajetória ascendente não é isenta de desafios.
O setor enfrenta uma série de desafios que precisam ser superados para que possa se modernizar e se tornar ainda mais eficiente e competitivo. Dentre os países do Mercosul, se destacam a Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, não somente pela quantidade de áreas plantadas, principalmente com pinus e eucalipto, mas também pelo desenvolvimento das indústrias de base florestal e pelo potencial de fortalecimento nas relações comerciais e de desenvolvimento do setor.
O Brasil concentra a maior parte das florestas plantadas, com grandes áreas dedicadas a plantios de eucalipto e pinus que totalizam 9,5 milhões de hectares. A Argentina possui extensas áreas de florestas plantadas com essas mesmas espécies, que totalizam 1,1 milhão de hectares. O Uruguai tem apresentado um crescimento expressivo na área de florestas plantadas, e, segundo os dados mais recentes, a área plantada é de aproximadamente 950 mil hectares. O Paraguai tem tido um protagonismo forte nos últimos anos, chegando a 200 mil hectares de florestas plantadas e com projeções elevadas de expansão desta base florestal.
Nestes quatro países, temos um total de 11,75 milhões de hectares de florestas plantadas com pinus e eucalipto, um grande bloco de florestas produtivas que poderiam gerar um fortalecimento do setor, porém há muitos desafios que precisam ser superados para que possamos ter uma maior sinergia na comercialização e no desenvolvimento do setor neste bloco.
Um dos principais desafios é a complexidade burocrática, que é um dos principais obstáculos à modernização dos processos produtivos nas florestas plantadas. A complexidade das regulamentações e as exigências de licenciamento podem atrasar projetos e aumentar os custos operacionais das empresas. No Mercosul, cada país possui sua própria legislação e suas próprias normas, o que gera um ambiente regulatório confuso e fragmentado. Essa fragmentação normativa gera insegurança jurídica e inibe investimentos. É fundamental que os governos do Mercosul busquem simplificar e harmonizar a legislação.
As mudanças climáticas representam um desafio significativo para a sustentabilidade das florestas plantadas. Eventos climáticos extremos, como secas prolongadas e tempestades intensas, podem afetar a produtividade e a saúde das florestas. O aprimoramento das práticas de manejo florestal é crucial e demanda que os gestores florestais adotem práticas de adaptação e mitigação cada vez mais sofisticadas. Isso inclui a escolha de espécies mais resilientes e a implementação de técnicas de manejo que considerem a variabilidade climática.
A pesquisa e o desenvolvimento de variedades de árvores que sejam mais adaptáveis a diferentes condições climáticas também são essenciais para garantir a viabilidade das florestas plantadas. Esta vasta diversidade de condições edafoclimáticas traz uma grande oportunidade para os grupos de pesquisas que deveriam ser mais integrados para que os resultados e experiências de cada país sejam compartilhados. Também a troca de materiais genéticos que estão em diferentes condições edafoclimáticas das regiões destes países geraria uma grande oportunidade de aumentar a variabilidade genética e a busca de maior plasticidade de novos clones.
Outro desafio significativo é a necessidade de capacitação e qualificação da mão de obra envolvida no setor. À medida que as tecnologias avançam, é fundamental que os trabalhadores sejam treinados para operar novas ferramentas. Programas de educação e capacitação, em parceria com universidades e instituições de pesquisa, são essenciais para garantir que a força de trabalho esteja preparada para os desafios do futuro.
Além disso, muitas pessoas com baixo nível de formação educacional estão à procura de um emprego formal e de qualidade, sendo o setor florestal capaz de gerar esta oportunidade para esse público e contribuir fortemente para a melhoria da qualidade de vida de muita gente.
Nós não podemos esquecer dos desafios logísticos que impactam diretamente sua competitividade e expansão. Esses desafios são complexos e interligados, envolvendo desde a falta de infraestrutura adequada, como rodovias, ferrovias e portos, até a gestão de cadeias de suprimentos. A qualidade das estradas, a falta de modais integrados e a distância entre os centros de produção e os mercados finais aumentam os custos de transporte e limitam a competitividade dos produtos. As diferentes regulamentações dos países membros do Mercosul em relação ao transporte de cargas e às normas técnicas dificultam a integração logística.
Apesar dos desafios mencionados, existem diversas oportunidades para a modernização dos processos produtivos no setor. Um dos principais caminhos é o desenvolvimento de parcerias entre setor público e privado, que pode propiciar um ambiente mais favorável para a inovação e modernização dos processos produtivos. Programas de incentivo e fomento à pesquisa podem impulsionar a adoção de novas técnicas de cultivo e manejo, beneficiando todos os atores da cadeia produtiva. A capacitação de profissionais e a disseminação de conhecimento com a promoção de workshops podem auxiliar na formação de mão de obra qualificada, capaz de contribuir com o setor.
A digitalização dos processos burocráticos pode representar um avanço significativo. A implementação de plataformas online para a emissão de licenças, autorizações e registros pode reduzir significativamente o tempo necessário para a formalização, beneficiando tanto as empresas quanto as entidades reguladoras. A transparência nesse processo também é fundamental para garantir a confiança da sociedade e do mercado, tornando o ambiente de negócios mais atrativo e coeso. Afinal, um setor com regras claras e bem-definidas tende a promover investimentos, inovações e um aumento na competitividade, criando um ambiente mais favorável ao investimento.
É fundamental investir na melhoria da infraestrutura de transporte, como a construção e a manutenção de rodovias, ferrovias e portos, de maneira que haja integração de modais entre os países e que haja cooperação entre os países membros para harmonizar as regulamentações e facilitar o fluxo de produtos florestais. Com a união de esforços entre governos, empresas e sociedade civil, é possível vislumbrar um futuro em que as florestas plantadas no Mercosul sejam sinônimo de desenvolvimento econômico, proteção ambiental e responsabilidade social.