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Jefferson Bueno Mendes

Diretor da Pöyry Consultoria

OpCP45

Estratégias de investimento
Um negócio chamado floresta é um tema extremamente oportuno para ser discutido no momento, considerando o contexto da indústria brasileira de base florestal e a importância de refletirmos sobre os investimentos necessários para continuarmos o crescimento virtuoso verificado nos últimos 15 anos, período durante o qual nossas exportações cresceram a aproximadamente 8% ao ano.
 
Sem dúvida, a temática “investimento” é estratégica para o setor florestal e para a economia do País, uma vez que essa indústria contribui de forma significativa para a balança comercial do Brasil. Para cada, aproximadamente, R$ 10 que exportamos, somente importamos R$ 2, provendo um saldo comercial regular de, aproximadamente, 80%. 
 
Globalmente, somos o principal produtor de celulose de fibra curta e de carvão vegetal, o 9º de papel e o 8º  de painéis reconstituídos. Outro indicador da importância da posição brasileira no ranking global da indústria de base florestal é a relação entre a nossa contribuição para o suprimento global de madeira plantada (17%) e a nossa contribuição para a área de florestas intensivamente manejadas (3%). 
 
Como chegamos a essa posição? A estratégia adotada pelo Brasil, a partir de meados da década de 1960, foi plantar florestas através de uma política de incentivos fiscais. O quadro "A evolução do negócio florestal brasileiro", sintetiza a dinâmica decorrente dessa estratégia. A pergunta é: e agora?
 
Antes de apresentarmos nossa visão quanto a uma possível estratégia de investimentos, é importante destacar mais alguns pontos do contexto de nossa indústria de base florestal, especificamente no que se refere aos seus principais desafios estruturais, que são:
• altos custos de logística de importação e de exportação; 
• custo crescente de produção florestal (silvicultura, colheita e transporte); 
• perda gradativa de produtividade florestal;
• política setorial incipiente; 
• alto custo da terra; e
• e alta taxa de integração floresta-indústria.
 
Fica claro que esses desafios demandam investimentos, uma vez que se constituem barreiras significativas para a eficácia e o crescimento da nossa indústria. Desses desafios, os que estão nas mãos do setor são os florestais (custo e produtividade) e o de modelo silvicultural (integrado x mercado). Os demais dependem de outros atores, governamentais e empresariais.
 
Neste momento, poderiamos questionar: E quanto ao tamanho da área florestal? Não precisamos de mais investimentos em “plantios florestais”? Considerando o contexto geral, não acredito que novos plantios florestais sejam uma prioridade. Uma conta relativamente simples a partir de dados disponíveis nos mostra que há, no mínimo, 600 mil hectares de plantios florestais, criando pouco ou nenhum valor para o setor. Esse número pode chegar a quase um milhão de hectares se somente considerarmos plantios com baixo valor agregado.
 
Portanto, ao meu ver, a prioridade estratégica do setor não é investir mais em florestas, mas sim em novos projetos industriais. Certamente, há alguns clusters que demandam investimentos em mais plantios florestais, mas, estrutural e estrategicamente falando, a prioridade deve ser em novos investimentos industriais, com foco nos clusters onde há excedentes florestais expressivos, como em Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Tocantins. Pontualmente, há também “excedentes estratégicos” que demandam investimentos industriais nos estados do Paraná, Santa Catarina e São Paulo.
 
Considerando nosso perfil silvicultural atual e nossa competitividade nos mercados internacionais, no curto prazo, deveríamos priorizar investimentos nos segmentos de celulose, inclusive solúvel, sólidos engenheirados e na geração de energia a biomassa. 
Mais a médio e longo prazos, o foco dos investimentos industriais deveria se voltar para os mercados emergentes  de lignina, bio-óleos, bioquímicos, nanocelulose e compostos (biomateriais + megamateriais).
 
Para concluir, é importante destacar as condições necessárias para viabilizar os investimentos industriais. Acredito que, entre os principais desafios, não estão os recursos financeiros, que podem ser obtidos tanto das fontes tradicionais quanto de investidores institucionais e estratégicos. Penso que os principais gargalos também não são os recursos financeiros, mas sim a nossa incipiente política setorial, a nossa limitada infraestrutura para exportações e o nosso limitado desenvolvimento tecnológico relativo à nova indústria.