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Cassiano Ricardo Schneider

Diretor de Novos Negócios da Lacan Florestal

OpCP76

Equilíbrio entre oferta e demanda de madeira? Esqueça!
Qual a pior situação para o setor de base florestal: escassez ou excesso de madeira? 
 
Isso depende, se você é produtor ou consumidor e de que momento estamos falando, de hoje ou do futuro. O que hoje é bom para um, provavelmente será ruim no futuro. E se hoje está ruim para o outro, mais à frente poderá ser excelente, se tomadas as ações corretas, no tempo certo.

Vamos começar pelos conceitos: escassez e excesso são desequilíbrios entre a oferta e a demanda, com reflexo nos preços. Equilíbrio de mercado é algo difícil de atingir e impossível de perpetuar, especialmente quando este mercado, como o florestal, é composto por inúmeros players, com interesses diversos e antagônicos, sem falar das variáveis climáticas, biológicas, macroeconômicas, tributárias, políticas, culturais etc. Resumindo o contexto: equilíbrio entre oferta e demanda de madeira é pura utopia, melhor não se preocupar com isso.

Mais importante que buscar o inalcançável equilíbrio, é compreender que nosso setor é de longo prazo, muito diferente da agropecuária, que pode rapidamente converter uma lavoura de soja em milho, em pasto ou no que quiser ou precisar. 

A flutuação de preços das commodities agrícolas é maior que a da madeira justamente por conta dessa flexibilidade entre as safras. Por outro lado, para produzir madeira, um fator implacável se coloca diante do mercado: o tempo. Assim como não se produz um uísque de doze anos em seis, não se produz uma floresta de eucaliptos em menos de cinco ou seis anos, tampouco um plantio de pinus no dobro deste período.

O timming florestal também é diferente da nossa própria indústria florestal. Vamos usar um cenário extremo, mas não incomum: uma nova indústria de celulose de fibra curta (eucalipto) leva de um a três anos para ser planejada e menos de dois anos para ser instalada. Considerando os projetos mais recentes, com capacidade nominal de 2,5 milhões de ton/ano, tem-se uma nova demanda de quase 10 milhões de metros cúbicos de madeira a cada ano, que “nasceu” depois de três a cinco anos desde sua idealização. 

Esse “bebê” faminto irá consumir anualmente cerca de 40 mil hectares, precisando de uma base florestal de quase 250 mil hectares plantados. Na melhor das hipóteses, plantando os clones certos e sem eventos adversos (estiagem, pragas, doenças), leva-se, pelo menos, sete anos até que os primeiros plantios sejam colhidos. Então, já de saída, a conta não fecha. Os projetos de novas plantas industriais com essa escala de consumo deveriam ser iniciados pela formação de sua base florestal, pelo menos sete anos antes.

Mas a realidade é bem diferente: muitas coisas, boas e ruins, acontecem em sete anos. O projeto fabril pode ser postergado, por pouco ou muito tempo, por inúmeras razões. Se atrasar um ano, “sobrarão” 10 milhões de metros cúbicos de madeira. Se atrasar dois... muita madeira irá “sobrar”. 

É nessa hora que quem compra madeira aproveita para “pechinchar”, pagando preços abaixo do break even point, também conhecido como ponto de equilíbrio. Nestas circunstâncias, as indústrias conseguem baixar seus custos de produção e melhorar sua rentabilidade, os bônus dos executivos serão maiores, mas quem plantou, esperou seis anos para ter a rentabilidade esperada e ficou no prejuízo, dificilmente plantará uma nova floresta. 

Esse “lucro adicional” e momentâneo da indústria inviabilizará novos plantios florestais. No próximo ciclo, menos madeira será ofertada pelo mercado e os preços voltarão a subir, mas a redução do volume será uma realidade inevitável. E aqui, novamente, o tempo estará contra todos. Não dá tempo de atender a essa demanda tão rapidamente.

Nesse cenário futuro, quem não for autossuficiente terá de pagar mais e ir mais longe para buscar a madeira, tentando tirar a madeira de quem já estava mais perto do produtor. Quem não puder absorver esse custo adicional de logística e elevação de preço deixará o mercado. Por outro lado, isso será um verdadeiro estímulo para que novas florestas sejam plantadas, pois, com preços de madeira mais elevados, a silvicultura torna-se mais competitiva que a agropecuária, com quem disputamos terras, cada vez mais caras e distantes. A rentabilidade financeira de projetos florestais será mais atrativa que a de outros mercados que disputam capital. 

As próprias empresas consumidoras também terão mais facilidade para aprovar a expansão de sua base florestal, pois fatores ofensores como o aumento de custos e redução de produtividade, por exemplo, podem ser compensados com a aprovação pela alta gestão de custos de madeira futura mais realistas (mais altos). 

Em outras palavras, se o preço da madeira de mercado está muito baixo, a ponto de nem remunerar o investimento do produtor, não se justifica internamente a implantação de florestas próprias que irão gerar custos de formação florestal mais altos que os preços de mercado.

O setor de base florestal no Brasil tem evoluído não só em genética, tecnologia e gestão, mas também comercialmente. Nos últimos vinte anos, inúmeras TIMO’s (Timber Investment Management Organization), que são gestoras de fundos de investimentos florestais, implantaram novas florestas comerciais e vincularam a produção da madeira ao abastecimento de grandes empresas consumidoras dessa matéria-prima, através de contratos de suprimento de madeira a longo prazo. 

Estes contratos estipulam qual será o preço a ser pago pela madeira, qual volume será entregue e em que prazo isso ocorrerá, o que é conhecido como mercado futuro. Neste cenário, há grande previsibilidade e segurança para o comprador e o vendedor, o que ajuda a estabilizar o preço. 

Por outro lado, produtores independentes não têm acesso a essa mesa de negociação e apostam no investimento em silvicultura vendendo sua madeira no mercado spot, com pagamento à vista e pronta entrega da madeira. Neste último tipo de mercado, a exposição à incerteza e ao risco pode resultar em grandes lucros, num cenário com alto preço, ou prejuízo, caso o excesso de oferta de madeira force os preços para baixo. 

Cabe destacar que, em ambos os mercados, o risco de produtividade está com o produtor e não com a empresa consumidora/compradora, portanto, é lógico pleitear um valor adicional no preço em relação à madeira produzida pela própria empresa consumidora, mas isso não ocorre de forma espontânea nem corriqueira.

Se o equilíbrio é utópico e o tempo é implacável, como se equaciona o problema entre a oferta e a demanda? A solução passa pelo entendimento de como este ciclo se repete, planejando estrategicamente, antecipando decisões de investimento, negociando contratos de longo prazo com bons clientes, diversificando o portfólio de projetos e de mercados para diluição de risco e, não menos importante, plantando florestas com padrão de excelência. Simples não é, mas é desafiador e instigante.