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Armando José Storni Santiago

Presidente do IPEF

Op-CP-30

Desenvolvimento tecnológico: a base da competitividade

Nos idos de 1964, foram dados passos decisivos com a Esalq/USP numa ação de sinergismo entre antigos colegas, diretores de empresas e o Prof. Helládio do Amaral Mello, então catedrático da citada escola, culminando na criação do IPEF - Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais, em 1968. O IPEF foi fundado pelas empresas Champion, Madeirit, Rigesa, Leon Feffer, Duratex e a Esalq/USP.

Dos fundadores, a Champion (atual International Paper) foi a primeira a assumir a presidência, na época, desse projeto vitorioso que, no próximo ano, comemora 45 anos de existência. Desde a década de 1960, o IPEF com as grandes empresas do setor florestal vêm contribuindo para garantir a competitividade do setor de florestas plantadas no Brasil, que, até então, realizava os plantios das florestas, principalmente de Pinus e Eucalyptus, baseando-se em informações importadas do exterior e incipientes estudos das universidades, institutos e centros de pesquisas espalhados pelos diferentes estados brasileiros, principalmente das regiões Sul e Sudeste.

Devido à falta de conhecimento e de tecnologia em florestas plantadas, foram criadas inúmeras parcerias entre as empresas privadas, universidades e institutos de pesquisa nacionais e internacionais, nas quais foram estruturados os programas de melhoramento genético clássico, para testar e selecionar as espécies mais adaptadas às condições edafo-climáticas de cada região, seguida da seleção das melhores procedências e famílias de cada espécie.

Da mesma forma, foram iniciadas as pesquisas de manejo florestal para determinar a melhor forma de preparo do solo, adubação, espaçamento, controle de ervas daninhas, controle de pragas e doenças, bem como a idade ótima de corte, entre muitas outras linhas de pesquisa. Um dos pontos de destaque do IPEF são seus programas cooperativos, os quais procuram otimizar os recursos financeiros, materiais e humanos das empresas associadas e os representantes dos institutos de pesquisa e universidade.


O IPEF tem, atualmente, vários programas cooperativos, como o Programa Temático de Silvicultura e Manejo (PTSM), Programa de Proteção Florestal (PROTEF), Programa Tolerância de Eucalyptus Clonais aos Estresses Hídrico e Térmico (TECHS), Programa Cooperativo em Certificação Florestal (PCCF), entre outros. Com o nível de sofisticação das pesquisas atuais, não é possível a realização do desenvolvimento tecnológico de forma isolada, e a parceria com universidades, institutos de pesquisas, bem como entre as próprias empresas do setor privado, se torna fundamental.

E, devido à amplitude das pesquisas realizadas, é comum a associação das empresas com diversos institutos de pesquisa, como o próprio IPEF, a Sociedade de Investigações Florestais (SIF), o Instituto Florestal (IF), o Instituto Estadual de Florestas (IEF), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), a International Union of Forestry Research Organizations (IUFRO), o Tropical Forest Research Centre (CSIRO), a Forest Productivity Cooperative (FPC), entre outros.

Como resultado de todo esse esforço e investimento em pesquisa, a produtividade média das florestas plantadas praticamente triplicou no Brasil, saindo de um patamar de 12 a 15 m3/ha/ano, na década de 60, para os atuais 40 m3/ha/ano. Não apenas a produtividade evolui ao longo dessas décadas, mas tivemos avanços significativos em qualidade para os mais diversos usos da madeira, como celulose e papel, energia e produtos sólidos.

Com isso, o setor florestal brasileiro se tornou referência mundial em florestas plantadas, principalmente de Pinus e Eucalyptus, atraindo investimentos de diversas empresas nacionais e multinacionais, transformando o Brasil, por exemplo, de país importador de celulose em maior exportador de celulose de fibra curta do mundo.

Entretanto, para o Brasil manter sua competitividade e sua posição de liderança no cenário mundial, será necessário, novamente, uma ação conjunta entre o setor público e o privado, para o setor florestal brasileiro estabelecer um novo patamar de produtividade, qualidade e custos de produção de fibras, bem como do produto final.

Como primeiro desafio, antes mesmo de pensarmos em aumento de produtividade, devemos nos preocupar em como manter nossa produtividade florestal atual, frente aos danos que nossas florestas plantadas no Brasil vêm sofrendo nos últimos anos, principalmente devido ao aparecimento de novas pragas, como a vespa da galha e o percevejo bronzeado, e a fatores abióticos, como o estresse hídrico e os danos por vento, que também tem afetado a produtividade das florestas no Brasil.

Outro ponto preocupante é em relação ao custo e à disponibilidade de mão de obra para as operações florestais. Com o crescimento da economia brasileira, estão sendo geradas muitas oportunidades de emprego, e, como vem acontecendo ao longo dos anos, há uma migração da mão de obra do campo para os centros urbanos, dificultando e onerando a manutenção dessa mão de obra no campo. E a única forma de equacionar essa questão é por meio da intensificação da mecanização das operações florestais.

Nesse sentido, há necessidade de desenvolvimento de equipamentos florestais propriamente ditos e não apenas adaptações de máquinas agrícolas para o setor florestal. Mais uma vez a parceria entre as empresas florestais, os fornecedores de equipamentos e as universidades/institutos de pesquisa é fundamental para avançarmos nesse quesito.

Aliado a essas questões, um dos fatores que têm levado a perda de competitividade no cenário global é a falta da proteção da propriedade intelectual gerada pelo País. O depósito de patentes e a proteção de cultivares no Brasil ainda estão muito aquém do que deveriam ser, permitindo aos nossos concorrentes o acesso irrestrito a tudo que levamos décadas para desenvolver, de forma fácil e a custo zero.

E ainda correndo o risco de as empresas brasileiras terem que pagar royalties por algo que elas mesmas desenvolveram. É necessária uma mudança radical na forma como gerimos nosso capital intelectual. No tocante às políticas governamentais, evoluímos muito nos últimos anos com leis que estimulam o investimento em pesquisa, mas ainda há muito que melhorar.

O acesso a linhas de financiamento voltadas à pesquisa, principalmente quando se trata de projetos de alto risco e alto investimento, em que a contrapartida do governo é crucial para a viabilização da pesquisa, é extremamente morosa, pouco transparente e restritiva, dificultando o acesso a tais recursos. Por fim, para mantermos a competitividade do setor florestal brasileiro, a gestão da inovação tecnológica é uma cultura que precisa ser estabelecida rapidamente.

De forma a acelerar e direcionar desenvolvimento tecnológico de ruptura e incremental, redesenhando processos, gerando novos produtos e novos negócios. Por meio dessas ações, poderemos garantir os ganhos conquistados no passado e os ganhos futuros para nos mantermos na posição atual e consolidar o setor florestal brasileiro, como a plataforma de fibras para a América Latina e para o mundo.