Presidente executiva da IBÁ - Indústria Brasileira de Árvores
Op-CP-39
Os setores produtivos brasileiros terão, em 2015, um ano dos mais desafiadores, tanto no cenário econômico quanto no ambiental. De um lado, estão os ajustes que vêm sendo anunciados pela equipe econômica neste segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, intensificados nas últimas semanas com medidas que vão impactar fortemente as atividades e, pelo menos temporariamente, fragilizar a economia interna.
De outro, a manutenção dos recursos hídricos vem sendo amplamente discutida, principalmente devido à crise da água que assola boa parte do País, agravada pela escassez de chuvas. É uma realidade que se desdobra em um contexto mais amplo, global, já que 2015 terminará com a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, em Paris, a COP21, que pretende chegar a um novo acordo para combater mundialmente o aquecimento global.
Para um setor do agronegócio impactado pela crise hídrica, o desafio é ainda maior, pois inclui a necessidade de comprovar continuamente que esse importante recurso está sendo utilizado com eficiência e transformado em amplos benefícios para toda a sociedade, como matérias-primas e bens de consumo essenciais para os mais diferentes setores da economia brasileira e mundial.
Necessidade que produz um forte senso de responsabilidade assumido pela indústria de árvores plantadas, constituída por fabricantes de painéis de madeira, pisos laminados, celulose, papel, florestas energéticas e biomassa, entre outros produtos. Dos plantios florestais aos processos industriais, a água é um insumo fundamental para toda essa cadeia produtiva, que tem nas árvores plantadas sua fonte de matéria-prima.
A atuação dessa indústria se baseia no uso eficiente e sustentável da terra e de recursos naturais, por isso é permanente o comprometimento com aspectos ambientais, como a manutenção de corredores ecológicos e o cumprimento da regulamentação sobre o uso da terra. Isso inclui a proteção de florestas naturais em Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reservas Legais (RL).
Manejo florestal: Árvores plantadas são cultivadas atendendo a planos de manejo sustentável, que têm como objetivo mitigar os impactos ambientais e promover o desenvolvimento econômico e o engajamento social das comunidades vizinhas.
As práticas de manejo adotadas consideram a gestão da paisagem e levam à formação de mosaicos de vegetação, que intercalam o plantio industrial de árvores com florestas naturais em uma convivência harmoniosa, que se reflete em ganhos para diversos serviços ecossistêmicos, incluindo a biodiversidade, a produtividade e a preservação hídrica. O conceito de mosaicos florestais considera a paisagem florestal como um “quebra-cabeças” de diferentes usos do solo, trabalhando na escala de paisagens para planejar as atividades produtivas e, ao mesmo tempo, proteger os ecossistemas naturais e os serviços por eles oferecidos.
Vale lembrar que, ao conciliar desenvolvimento econômico e conservação ambiental, as árvores plantadas convivem com outras atividades econômicas e ocupam, em geral, áreas pouco adequadas à agricultura, de baixa fertilidade ou maior declividade. Ou, ainda, áreas utilizadas anteriormente, como pastagens ou cultivos agrícolas, que atingiram a exaustão do solo e são consideradas degradadas.
Assim, a estratégia dos mosaicos contribui para maximizar os potenciais de conservação de recursos como água e solo e de geração de renda das atividades econômicas realizadas, além de maximizar o retorno em áreas que não trariam desempenho adequado se utilizadas para outros tipos de cultivo. Técnicas de plantio e boas práticas operacionais também protegem os recursos hídricos e garantem o equilíbrio do ciclo hidrológico das florestas, com reflexos positivos para o clima, para a fauna e flora e também para a produtividade.
As empresas do setor de árvores plantadas cumprem o Código Florestal Brasileiro, que determina a proteção de áreas naturais às margens de cursos d’água, garantindo sua proteção. Em muitos casos, a adoção de critérios ambientais pelas empresas vai além das exigências legais. Além disso, a água captada pelas árvores plantadas volta para a atmosfera, por meio da evapotranspiração e, em seguida, com as chuvas, volta para os cursos d’água. E, nas regiões de chuvas mais intensas, os plantios florestais contribuem para o escoamento mais lento da água para rios e lençóis freáticos. Esse fenômeno, conhecido como percolação, reduz o risco de enchentes e contribui para retardar processos erosivos.
Boas práticas industriais: Entre as boas práticas adotadas pela indústria de árvores plantadas, está a do reúso dos recursos hídricos que, além de aumentar a disponibilidade de água para outras atividades, reduz os custos de produção e minimiza a carga de poluentes a serem tratados. Por isso o setor de árvores plantadas investe continuamente em formas de aprimorar a utilização desse importante recurso natural em seus processos produtivos, por meio de atualização tecnológica, gestão de efluentes e transformação de resíduos filtrados em subprodutos aproveitáveis.
Certificação: Uma das ferramentas adotadas pelas empresas do setor para demonstrar a sustentabilidade da cadeia produtiva florestal e o comprometimento do setor com as questões ambientais e sociais é a certificação florestal. Atualmente, o setor mantém 50% de seus 7,6 milhões de hectares certificados pelo Forest Stewardship Council (FSC) e pelo Programa de Certificação Florestal (Cerflor), endossado pelo Programme for the Endorsment of Forest Certification Schemes (PEFC).
Isso garante práticas bastante restritivas e específicas nos vários aspectos ligados aos recursos naturais, serviços ambientais e o engajamento de comunidades, entre outros pontos. Os princípios e critérios do FSC para recursos hídricos, por exemplo, estabelecem que as operações florestais devem reconhecer e até aumentar, quando apropriado, os valores de serviços ambientais, como recursos hídricos, além de mitigar os impactos das colheitas nas bacias hidrográficas.
Monitoramento: A solução da crise hídrica depende de boas práticas de vários setores, além de ações do governo. Para regular a oferta e a demanda desse recurso, o setor produtivo florestal vem participando de diversos programas e projetos para monitorar e avaliar as externalidades positivas e negativas de suas atividades sobre a água. As empresas do setor fazem parte de diversos comitês de bacias hidrográficas, discutindo políticas públicas com a sociedade civil, órgãos do governo e diversos usuários dos recursos hídricos e de partes interessadas integrados na paisagem.
Uma parceria que vem dando resultados há quase 30 anos é o Programa de Monitoramento Ambiental em Microbacias (Promab), entre a Universidade de São Paulo (USP), Instituto de Pesquisa e Estudos Florestais (Ipef) e empresas do setor privado. O Promab avalia os efeitos do manejo florestal sobre os recursos hídricos em microbacias experimentais, comparando microbacias gêmeas, uma com atividades de manejo florestal e outra com vegetação natural, sem intervenções de manejo.
Os resultados mostram que os indicadores monitorados permanecem na mesma faixa em ambas as microbacias. Com duas datas altamente relevantes estabelecidas pela ONU que acabam de ser comemoradas e, simbolicamente, em dias consecutivos – o Dia Mundial das Florestas, no dia 21, e o Dia Mundial da Água, no dia 22 de março –, é essencial que o agronegócio brasileiro e, particularmente, a indústria de árvores plantadas continuem demonstrando que a água utilizada por esses setores se multiplica em termos de benefícios concretos para toda a população. É fundamental que, neste momento em que precisamos de esforços de toda a sociedade para superar esta crise, argumentos simplistas e sensacionalistas não proliferem.