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Júlio César de Castro

Gerente de Silvicultura e Suprimento de Madeira da ArcelorMittal Bioflorestas

Op-CP-47

Um breve olhar sobre os segredos
Não saberia dizer se é correto afirmar que haja “segredos” nas operações da colheita florestal. O que existe em maior ou menor escala é a aplicação dos conhecimentos, das técnicas, dos procedimentos que, em muitas das vezes, estão associados aos recursos, às condições das florestas, à capacidade de investimento e, mais recentemente (de novo), às instabilidades do mercado. 
 
O setor florestal brasileiro, como um todo, é aberto, as informações são acessíveis, as empresas normalmente disponibilizam as recentes conquistas, e é graças a isso que se alcançou o atual resultado, por exemplo, com a produtividade florestal. Sendo assim, o que teríamos seriam pequenos vazios nas fases envolvendo cada atividade e daí nas operações que culminam em diferenças significativas no processo. 
 
Então, cabe atuarmos de maneira que as oportunidades sejam identificadas e trabalhadas de forma a levar os resultados a outros níveis. E a possibilidade de melhorarmos sempre, alcançar o que antes não era possível, gera energia, motivação, que talvez possa ser um dos “segredos” que têm levado a colheita florestal a resultados que evoluem. 
 
As alterações nas operações mais recentes estão mais associadas ao desgalhamento, quando aplicável. A atividade que normalmente era feita de maneira semimecanizada (com uso de motosserras, motodesgalhadeiras, foices) passou a ser feita em algumas empresas com uso de grades hidráulicas, que exigem máquinas adicionais. Outra forma é através da formação de feixe de madeira com árvores maiores e mais pesadas, sem a copa, que são arrastados pelo skidder, que se desloca sobre a pilha de árvores baldeadas e dispostas ao longo das beiras dos talhões.
 
Como não temos, em linhas gerais, nenhum grande vazio a ser preenchido, o que nos cabe é a reanálise constante do como estamos fazendo e o que poderíamos fazer diferente para atingirmos resultado diferente. Nesse sentido, o planejamento é de suma importância. Não é sábio considerar que a colheita eficaz seja possível de se obter a partir da floresta pronta para a derrubada e operações subsequentes.

É preciso considerar alguns pontos na fase de formação da floresta, que, se não tratados, têm impactos significativos nas operações. A definição de materiais genéticos produtivos, com menos copa, boa resistência física para o manejo da árvore quando da derrubada, a definição do alinhamento, do espaçamento, da distância que será percorrida pelas máquinas, o layout dos talhões e da malha viária. O volume médio individual das árvores tem enorme interferência nas produtividades da colheita.
 
Enfim, o que não foi realizado de melhor na silvicultura certamente trará impactos na colheita, e, como algo normalmente não está no estado da arte, caberá sempre à colheita se adaptar a essa condição. A colheita tem representado na ordem de 40% do custo da madeira posta no pátio, o que nos dá a ideia de quanto é necessário atuarmos efetivamente para a manutenção dessa proporção ou, preferencialmente, pela diminuição desses custos. O planejamento precisa considerar uma série de variáveis, cujos graus de priorização podem sofrer alterações situacionais, como, por exemplo, a época das chuvas, ainda que esta tenha tido também suas variações.
 
A relação cliente-fornecedor precisa ser aplicada fortemente na colheita, de forma envolvente e participativa. Em momento que antecede o início das operações, os responsáveis precisam visitar as áreas e criar entendimento do que é necessário ser feito, identificando cada ponto e tratando cada dificuldade, de forma a se obter os melhores resultados. É importante, aqui, que se tenha o entendimento de que alguma operação possa perder, desde que o processo a empresa ganhe. Às vezes, perde-se no deslocamento do arraste da madeira, mas, em contrapartida, evita-se aplicar uma melhoria em parte de estrada (menor investimento) e/ou ainda a possibilidade de transporte dessa madeira em época de chuva.
 
Do aprendizado contínuo do processo, as maiores oportunidades têm surgido quando das realizações do microplanejamento. Nele, cada operação, considerando o que lhe trará melhor resultado, concilia os interesses, atuando como parte de um todo, focados na segurança, atendimento, custo e qualidade. Os especialistas se juntam, e é surpreendente o que tem sido alcançado, aonde temos chegado com esse trabalho. É surpreendente, mas não surpresa. A soma dos esforços pode e nos leva, de fato, mais longe.
 
Porém não é suficiente ter macro e microplanejamento. É preciso usá-los. Indicadores precisam ser construídos e acompanhados numa periodicidade em que seja possível perceber desvios, a menor ou a maior que as metas, em menor intervalo de tempo para que as devidas correções de rumo sejam tomadas. As máquinas de colheita, principalmente pelo custo de aquisição, não nos permite tão facilmente atualização do parque. Vez por outra, é possível atualizar alguns implementos durante a vida útil da máquina base.

Os custos não são sempre convidativos nesse sentido.  Das mudanças mais recentes e que trouxeram melhores resultados, temos aumentos nos tamanhos das garras traçadoras, ainda que, com custos consideráveis, nos permita, em alguns dimensionamentos de produção, optar por troca de equipamento maior e mais produtivo.
 
Mas não podemos nos permitir pensar que estamos chegando ao limite das capacidades. É certo que, com os recursos atuais, ainda temos muito que andar, muito a fazer. Há ainda o quanto podemos anexar ao que já temos para atingir outros patamares. A começar pela mão de obra, respeitadas todas as regras associadas, temos uma oportunidade considerável. Há grande dificuldade em se obter operadores treinados.

Os treinamentos ocorrem, em sua grande maioria, dentro das empresas, e o aprendizado, a evolução se fazem na medida em que trabalham nas operações. Há demanda de profissionais capacitados, e o mercado não oferta. Esse cenário pode ser equacionado com centros de treinamentos virtuais, com estruturas específicas a serem produzidas pelas universidades, por exemplo. É muito caro treinar mão de obra em equipamentos que, a priori, normalmente, existem nas empresas para atender às produções necessárias.
 
Conhecer o que ocorre em tempo real com cada máquina, no sistema rodante, no motor e em implementos tem levado ao desenvolvimento de softwares que nos trazem indicadores importantes para o monitoramento do que, de fato, está ocorrendo. É necessária uma gestão muito próxima para que resultados melhores sejam atingidos e mantidos. O mercado tem oferecido algumas opções, e temos tido avanços, que têm estimulado o interesse do uso pelas empresas. 
 
Alguns sistemas têm sido desenvolvidos para dar menor variabilidade no tamanho das peças traçadas, o que é de grande importância em alguns usos da madeira. Os resultados ainda não foram satisfatórios. É impensável atingir e querer continuar atingindo cada vez degraus mais altos de produtividades, de custos, de qualidade, sem considerar o uso da tecnologia. A tecnologia tem capacidade de atuar melhorando significativamente o parque de máquinas atual e com muito mais expressão para o desenvolvimento de futuros modelos.
 
Longo caminho foi percorrido, mas, dadas as possibilidades, quem sabe teremos, no futuro, a mesma comparação que hoje, quando o fazemos com colheitas realizadas com uso de motosserra? 
 
Fica a pergunta!