Assessor de Comunicação Corporativa e Relações Institucionais da Cenibra – Celulose Nipo-Brasileira
A sustentabilidade é conceituada pela ONU como “a satisfação das necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir as próprias necessidades”. Esse conceito não deve se limitar à óptica antropocêntrica, mas se alargar para além da raça humana, de forma a considerar as demais formas de vida.
Sempre nos passaram a ideia de que, a partir do Mercantilismo, passando pela Revolução Industrial, a sociedade passou a consumir excessivamente bens, de forma que a natureza não seria capaz de repor, conduzindo-nos à autodestruição. Fica subentendido que, antes disso, como, por exemplo, na América, antes da chegada de Colombo, existia a sustentabilidade.
Será mesmo? Em sua obra “1492”, Iturralde (2014) traz relatos sobre os reinos pré-colombianos da América, constatando que diversos povos numerosos, como os astecas, incas, caribes e tupinambás viviam precariamente. Tomando o exemplo do reino asteca, apesar de alguma inovação na agricultura, como a irrigação, suas técnicas de cultivo eram bem primitivas, pois não conheciam a roda e o arado, nem haviam domesticado outros animais que não fossem o cachorro e o peru; raramente tiveram consciência ou oportunidade de armazenar alimentos. O crescimento desproporcional da população em relação aos recursos existentes levava à necessidade de novas terras férteis para o cultivo. Os acordos comerciais raramente existiam, faltava-lhes o arcabouço jurídico, e, assim, quase tudo terminava em guerras sangrentas.
As grandes fomes registradas pelos historiadores ocorreram em razão das grandes catástrofes naturais, como secas e inundações; pragas como as formigas e lagartas; emprego de técnicas inapropriadas de cultivo; uso de queimadas com o esgotamento do solo. Assim, os maias perdiam até duas em cinco colheitas, e os incas, até três em cinco colheitas. Outros autores relatam que a base alimentar era muito estreita, com uma dieta deficiente em proteínas.
Ainda, conforme registros de historiadores do século XVI, o homem americano estava exposto a diversas causas de enfermidades. Havia um grande número de plantas potencialmente tóxicas, inclusive alimentos básicos, como a mandioca e o feijão, que continham substâncias tóxicas somente degradadas pelo cozimento. Nas áreas tropicais e subtropicais, havia vários insetos, artrópodes e répteis venenosos. Confirmou-se, posteriormente, que a parasitação por carrapatos, mutucas, percevejos, piolhos e ácaros servia de vetor para enfermidades. Quem não se lembra do Jeca Tatu, personagem de Monteiro Lobato, da obra Cidades Mortas, 1919, sempre anêmico, acometido pelo nematódeo Necator americanus? Como encontrar sustentabilidade nesse contexto?
Até a década de 1970, o Brasil importava quase um terço de seu alimento, as terras agricultáveis estavam todas ocupadas. Somente com um vigoroso e amplo trabalho de pesquisa e desenvolvimento, especialmente em manejo de solos tropicais, até então inférteis, essa realidade foi revertida. Hoje, somos um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo.
Recordo-me de 1986, quando comecei minha vida profissional como especialista em solos e nutrição de plantas, numa fábrica de celulose e papel, no Vale do Paraíba-SP, terra natal de Monteiro Lobato. Nosso desafio era grande rumo à sustentabilidade: eliminação das causas da erosão, especialmente a queimada para limpeza de área, descompactação e reposição de nutrientes do solo, controle de plantas invasoras e de pragas e insetos, além do melhoramento genético de plantas. Esse esforço era de todo um setor, que sempre trocava experiências, com o apoio dos institutos de pesquisas (IPEF, SIF, Fupef, Embrapa e outros). Já na década de 1990, havíamos dado passos largos em direção à estabilidade e ao aumento da produção, permitindo uma vigorosa expansão das fábricas de celulose.
De lá para cá, obtivemos grandes avanços no manejo dos solos tropicais e, hoje, temos as melhores plantações agrícolas e florestais do mundo. Contudo o ambiente dos negócios, o compliance, o ambiente civilizacional ainda precisa de mais aperfeiçoamentos.
Assim, concluo, parafraseando o filósofo Ortega y Gasset, “a sustentabilidade é o resultado de um esforço. Só se mantém uma civilização se muitos dão sua colaboração ao esforço”. Devemos continuar investindo na educação das novas gerações, com a consciência plena de que a vida no planeta depende de nossos esforços.