O desafio das mudanças climáticas torna-se cada vez mais premente para a humanidade. O último relatório do IPCC, publicado no início de 2022, expõe de forma clara a vulnerabilidade da sociedade humana e da biodiversidade aos impactos decorrentes da alteração do clima e enfatiza a urgência e importância da implementação célere de medidas de adaptação e mitigação.
Mediante esse cenário, as empresas, por meio de ações estruturadas, podem e devem atuar com compromissos públicos e relevantes. Ainda que entidades governamentais tenham papel de destaque na formulação de políticas públicas que visem limitar o aumento da temperatura global em até 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais, as ações de adaptação invariavelmente passam pelo setor privado.
A COP26 evidenciou a relevância do tema para a sociedade. A participação direta de representantes brasileiros de empresas e organizações da sociedade civil deixou clara a oportunidade que o País tem de assumir papel protagonista no esforço global de adaptação às mudanças climáticas.
Nesse contexto, a indústria de base florestal do Brasil se coloca como parte fundamental para a solução. Para atingir o compromisso assumido em sua NDC (Contribuição Nacionalmente Definida), de reduzir em 50% suas emissões de gases do efeito estufa até 2030, não bastará apenas seguir pelo indispensável caminho da diminuição de emissões, mas também intensificar os processos que removem carbono da atmosfera.
A silvicultura brasileira tem um longo histórico de desenvolvimento tecnológico, assegurando patamares de produtividade e eficiência que se destacam em nível global, especialmente no setor de plantações florestais.
Além de contribuir diretamente com as remoções de carbono da atmosfera decorrentes do crescimento das florestas comerciais, a manutenção de áreas de conservação e a restauração de áreas degradadas evitam novas emissões por mudanças no uso do solo, colaborando também com mais remoções e estocagem de carbono.
Como parte das iniciativas de mitigação dos impactos trazidos pelas mudanças climáticas aos quais o setor pode ser exposto, os programas de melhoramento genético conduzidos pelas empresas vêm trazendo resultados que viabilizam mais remoções de carbono na mesma extensão de área plantada e com utilização mais eficaz dos recursos naturais como água e solo.
O longo histórico de parceria entre a indústria florestal e a comunidade científica, por meio de universidades e institutos de pesquisa, vem possibilitando a geração de conhecimento que, além de servir de base para o desenvolvimento de novos materiais genéticos, tem um grande potencial de fornecer informações específicas para as condições do manejo florestal no Brasil, que podem resultar em inventários de estoques e fluxos de carbono mais aprimorados nas empresas.
A tecnologia empregada ao longo da cadeia produtiva nas operações florestais e industriais permite a produção de matéria-prima, energia e produtos de fontes renováveis. Adicionalmente, também como linhas de atuação concretas de contribuição para a redução de emissões, buscamos sempre evoluir em adequações estruturais nos nossos processos, focando em tecnologias de ecoeficiência e estabelecendo compromissos convergentes com esse propósito.
De maneira geral, a silvicultura, como fonte da matéria-prima base das nossas fábricas de painéis, acaba sendo o fator mais relevante do nosso balanço de carbono em termos de remoções. Na Dexco, relatamos nosso balanço a partir de 2020 e, desde então, em números absolutos, removemos mais carbono do que emitimos para a atmosfera. A relevância das florestas nesse balanço é tão significativa que compensa as emissões de carbono da corporação em sua totalidade, abrangendo todas as unidades responsáveis pela fabricação dos produtos Duratex, Durafloor, Deca, Hydra, Portinari e Ceusa.
Além das remoções de carbono da atmosfera por meio do crescimento das florestas plantadas e manutenção das áreas de conservação, o setor de pisos e painéis de madeira reconstituída contribui ainda com a estocagem de carbono em seus produtos. Por normalmente serem utilizados durante vários anos até sua destinação final, o carbono que foi removido pela floresta ao longo de seu ciclo não retorna imediatamente pela atmosfera.
Tal estoque, categorizado no pool de HWP, sigla em inglês para Harvested wood products, ainda não pode ser reportado nos inventários e balanços das empresas que seguem os padrões de relato amplamente reconhecidos para essa finalidade, como o GHG Protocol e a ISO 14064.
No entanto o momento representa uma grande oportunidade para o setor, uma vez que ambos os padrões estão, atualmente, passando por um processo de revisão, em que as partes interessadas podem contribuir para a evolução desses mecanismos. Por mais que a importância do assunto esteja sendo gradualmente reconhecida pela sociedade, a transição para uma economia de baixo carbono passa por mecanismos de incentivo financeiro, sobretudo para pequenos produtores. Para isso, o decreto recentemente publicado no Brasil que introduz no arcabouço legal o conceito de créditos de carbono pode ser considerado o primeiro passo para a estruturação de um mercado regulado no País.
Ainda nesse sentido, as discussões previstas para a COP27, a ser realizada no Egito, em novembro, serão fundamentais para a plena implementação dos artigos 6.2 e 6.4 do Acordo de Paris, que tratam das negociações de certificados de remoções entre países para o cumprimento de suas NDCs, bem como entre organizações para a compensação de suas emissões. É fundamental para o setor que esses regramentos considerem o impacto positivo trazido pelas plantações florestais em termos de remoções de carbono e que sejam consideradas como contribuições adicionais para a transição para uma economia de baixo carbono.
A problemática das mudanças climáticas está posta diante da sociedade, e o desafio é complexo. Cabe ao setor florestal brasileiro se engajar nas discussões sobre o tema, particularmente em relação ao reconhecimento das remoções de florestas plantadas, buscando evitar a criação de regras e mecanismos que criem barreiras adicionais para tanto.
O Brasil tem um grande potencial para estar na liderança global do combate às alterações do clima, e a indústria de base florestal possui plena capacidade para estar na vanguarda das discussões, por meio de conhecimento técnico e práticas de manejo responsável. É preciso aproveitar a oportunidade de demonstrar o papel imprescindível e a relevância do setor na construção e na implementação de estratégias para a minimização dos impactos adversos trazidos por essas mudanças e contribuir para que, na medida do possível, consigamos alterar a trajetória das emissões globais e viver em ambientes mais saudáveis e sustentáveis.