Professora de Silvicultura Tropical da Unesp-Botucatu
Op-CP-07
Existe hoje um consenso de que não é possível conservar-se a biodiversidade apenas com a proteção de áreas críticas. A restauração ecológica é, portanto, um componente primordial de programas de conservação e manejo sustentável dos recursos, envolvendo todas as instâncias do poder público e da iniciativa privada. A restauração ecológica tem sido definida, atualmente, como a ciência e a prática de iniciar e estimular a recuperação da integridade ecológica de um ecossistema.
Ou seja, é como assistir à reconstrução de um conjunto integrado, balanceado e adaptativo de organismos, com estrutura, diversidade e organização funcional, comparáveis aos habitats e ecossistemas naturais da região, e capaz de se autoperpetuar. O que deve fazer a restauração ecológica, particularmente importante nos dias de hoje, não é apenas reparar danos ambientais, mas também melhorar as condições de vida de toda a humanidade.
Embora os benefícios da restauração para a conservação da biodiversidade sejam óbvios, em muitos casos, a sua importância para a renovação de oportunidades econômicas, para o rejuvenescimento de práticas culturais tradicionais e para o redirecionamento das aspirações das comunidades locais, nem sempre é levada em conta. Neste contexto, os métodos de restauração devem buscar benefícios ótimos, aliando uma máxima conservação da biodiversidade a maiores benefícios financeiros e sociais, dentro das limitações tecnológicas e de recursos disponíveis.
Para se chegar a estes objetivos, vários caminhos alternativos podem ser traçados, o que, nem sempre, é fácil de se implementar. Os sistemas tradicionais de produção, que visam à maximização da produtividade, em geral, baseiam-se na diminuição da biodiversidade, privilegiando sempre as espécies ou as variedades mais produtivas, eliminando-se qualquer tipo de competição com as mesmas.
Por outro lado, pelo consenso no meio científico, sobre a relação existente entre biodiversidade e sustentabilidade dos ecossistemas, os métodos de restauração visam, em geral, a maximização da biodiversidade. É necessário, portanto, o rompimento com alguns paradigmas e a busca por modelos alternativos de restauração, que possibilitem conciliar ambos os objetivos.
Nas últimas décadas, as pesquisas sobre recuperação e reabilitação de áreas e ecossistemas degradados têm evoluído muito no Brasil. À medida em que o conhecimento sobre a estrutura e o funcionamento das florestas tropicais avança, muitos conceitos ecológicos são incorporados às práticas, contribuindo para o desenvolvimento de novos paradigmas na restauração.
Entretanto, tais avanços pouco têm contribuído para um aumento significativo da superfície de florestas no país, conforme mostram as estatísticas recentes, indicando que as limitações para que a restauração ocorra de forma significativa, são de ordem muito mais econômica e social, do que técnica. Para que a restauração ocorra, no Brasil, em uma escala mais próxima àquela necessária, tornam-se fundamentais modelos com menor custo de implantação e possibilidade de algum nível de benefícios diretos ao produtor, que sejam aplicáveis a uma maior diversidade de situações socioeconômicas.
A definição dos objetivos da restauração, no momento de seu planejamento, deve envolver questões ligadas aos valores da sociedade, incluindo aspectos éticos, estéticos e culturais. Nossa abordagem é que a ciência possa contribuir no desenvolvimento de um cardápio variado de opções e de modelos de restauração, que possam ser adotados em pequenas, médias ou grandes propriedades rurais, dependendo dos muitos fatores já mencionados, com baixo custo de implantação, e que sejam capazes de incorporar a dimensão socioeconômica no seu planejamento e definição dos objetivos. Nossas pesquisas têm indicado algumas alternativas promissoras.
Uma delas é um sistema de semeadura direta no campo, com espécies arbóreas nativas de rápido crescimento, associado a técnicas de cultivo mínimo do solo. Com custos de implantação menores que plantios convencionais, é possível se ter, em sete anos, uma cobertura florestal uniforme e já estratificada, com densidade, altura e cobertura de copas, comparáveis aos melhores plantios convencionais por mudas, com regeneração natural de 48 espécies lenhosas, provenientes das áreas de entorno.
Logicamente, a aplicabilidade deste sistema depende da existência de fontes de propágulos nas áreas de entorno, para que a colonização futura possa ocorrer, aumentando, assim, a sua complexidade estrutural. Outras opções também podem ser indicadas para alguns casos, como sistemas agroflorestais seqüenciais, que, em nossas experiências, indicaram possibilitar o pagamento dos custos de implantação da floresta, em cerca de quatro anos, com possibilidade de ganhos marginais adicionais no futuro.
Além disso, grupos de espécies florestais com valor econômico podem ser combinados com diferentes desenhos, e manejados num sistema de cortes seletivos, permitindo o uso da madeira, ao mesmo tempo em que a regeneração natural da vegetação nativa é estimulada. Cabe ressaltar que as alternativas mais adequadas para cada situação devem ser escolhidas levando-se em conta também o contexto da paisagem de entorno e as condições locais do sítio.
As características da paisagem local irão influir, por exemplo, nas taxas de recolonização das áreas em restauração por outros organismos, bem como nos fluxos de sedimentos e fatores de impacto. Além disso, o grau de degradação em que se encontra a área, bem como fatores adicionais de estresse e condições locais do sítio serão importantes na definição das espécies a serem introduzidas, bem como da seqüência de atividades escolhidas.