Gerente de Planejamento, Qualidade e Meio Ambiente e Supervisor de Qualidade da WestRock, respectivamente
Em ambientes de negócios altamente competitivos, como é o caso do setor florestal, aliar produtividade à qualidade não é uma equação fácil, mas tem um papel essencial para a garantia do sucesso e da longevidade das operações.
As organizações estão sempre procurando maneiras de aumentar a produtividade, simplificar as operações e reduzir custos. Quando falamos de produtividade no setor florestal, temos diversos exemplos de sucesso, os quais demonstram o quanto pensamos no curto, médio e longo prazo.
As florestas plantadas do Brasil são as mais produtivas do mundo, resultado dos intensos investimentos em pesquisa e tecnologia, bem como da excelência do manejo florestal sustentável. Quando se trata de operações florestais, temos atingido ganhos exponenciais, seja pelas melhorias dos processos produtivos e/ou pelo uso de novas tecnologias. Isso posiciona o setor florestal brasileiro na vanguarda quando o assunto é sustentabilidade.
No entanto, um aspecto muitas vezes negligenciado é a qualidade no sentido amplo. A vitalidade de qualquer negócio só pode ser conquistada quando todas as suas atividades estiverem submetidas a fluxos contínuos de melhoria, trazendo como alicerce os aspectos sociais, ambientais e econômicos.
A busca pela produtividade sem levar em consideração o pilar qualidade pode trazer alguns ganhos de curto prazo, mas serão rapidamente consumidos no médio e longo prazo, impactando sobremaneira a sustentabilidade.
No setor florestal, a qualidade é uma fronteira a ser explorada e expandida. Trabalhar com qualidade dentro dessa atividade produtiva implica atuar de forma transversal na estrutura funcional da empresa, desenvolvendo conceitos, métodos e ferramentas de coleta, ampliação da base de dados, potencialização de sessões de aprendizagem e evolução da cultura de inovação e melhoria contínua.
Nesse caminho, é válido desenvolver e engajar os times operacionais que estão envolvidos ou participam do processo construtivo, entendendo que essas atividades se transformam e evoluem conforme as necessidades de seu tempo. Na WestRock, excelência é um dos nossos valores. Somos determinados por atingir altos níveis de desempenho – para nós mesmos e para nossos clientes, investidores e comunidades. Enxergamos a qualidade como um meio para alcançarmos a excelência.
É o resultado de ações repetidas que se alinham com nossos valores e objetivos. Entendemos que a excelência não pode ser alcançada de forma instantânea, mas sim requer um compromisso constante com a melhoria contínua, a qual exige muito planejamento, execução, disciplina, entendimento da cadeira de valor, desenvolvimento de ferramentas e sistemas, uso de tecnologias, repensar processos e, principalmente, desenvolvimento de pessoas para criar uma cultura de qualidade onde cada um entenda seu papel e assuma sua responsabilidade.
Desenvolvimento de pessoas sempre foi e continuará sendo o grande desafio das organizações. Afinal, o que são organizações senão um conjunto de pessoas com um objetivo em comum? Nesse ambiente de negócios cada vez mais complexo, a qualidade exige uma cultura organizacional de trabalho em equipe, colaboração, apoio mútuo, foco no cliente, atuação transversal, visão de rede e de cadeia de valor.
A busca pelo aprimoramento da qualidade não pode ser somente da área de qualidade, mas sim um esforço coletivo, que permite a distribuição das responsabilidades por toda a organização, capacitando os funcionários a se apropriarem da qualidade, potencializando, assim, os resultados do negócio.
No setor florestal, há, ainda, diferentes modelos e estratégias de implementação da qualidade nas operações. A visão da área de qualidade da WestRock, por exemplo, é de descentralização. Para tal, desatrelamos a área de qualidade do controle de qualidade propriamente dito.
A área de qualidade é o segmento alavancador da cultura de inovação e melhoria contínua, com objetivo principal de apoiar as áreas operacionais com indicadores, sessões de aprendizagem, provas de conceito (POC), fóruns de discussão ex situ e in situ, busca de novas tecnologias e ferramentas, novos processos, identificando lacunas e conectando as operações, em busca da excelência no manejo florestal.
Já o controle de qualidade constitui-se um componente das operações florestais, os quais fazem uso das prescrições técnicas para corrigir os desvios de imediato, bem como sugerir melhorias nos processos produtivos. Em linha com nossos comportamentos, ao explicarmos o porquê e alinharmos os objetivos, aumentamos o comprometimento e empoderamos aqueles que estão no dia a dia executando as operações florestais.
Não se pode ignorar a relevância do uso de tecnologias que geram e/ou potencializam impactos positivos, diretos ou indiretos, nos pilares da sustentabilidade. Os resultados obtidos pela aplicação tecnológica da empresa materializam interfaces, fortalecem relacionamentos funcionais e ampliam capacidade de geração do conhecimento necessário à recorrente evolução da produtividade no sentido amplo; manutenção do balanço de retorno social, ambiental e econômico.
Bons exemplos disso são as tecnologias já consolidadas e que se integraram, oferecendo gestão e operação remotas, por meio de imagens aéreas ou outro tipo de sensor (realidade aumentada, realidade virtual, radares embarcados em satélites, aviões, drones ou monitoramento automatizado de operações de preparo de solos e adubação).
Todos esses resultados não são observáveis apenas no aumento de produtividade e no pilar econômico. Para além disso, eles agregam nas esferas sociais e ambientais. Nossa área de qualidade também tem papel no desenvolvimento dos profissionais da operação e partes interessadas, buscando meios mais envolventes e atraentes de engajá-los, fortalecendo, assim, a cultura e conquistando novos aliados. Isso significa não somente ir ao gemba, promover e receber feedback contínuo, mas também engajar todos os níveis de liderança da empresa para suportar essa jornada.
Os profissionais à frente dessa área precisam, cada vez mais, desenvolver um perfil nexialista, ou seja, estimular a capacidade de integrar conhecimentos e habilidades de diferentes áreas e disciplinas, objetivando resolver problemas complexos e interconectados em prol da excelência.
Diante de um cenário onde a competição por terras é crescente, outro grande desafio da área de qualidade da WestRock é potencializar a produtividade do nosso material genético, o mais produtivo do mundo para Pinus taeda e Eucalyptus dunnii. Esse é um trabalho que integra diferentes setores da empresa, bem como institutos de pesquisas e universidades. Portanto, também é papel da qualidade atuar transversalmente, com visão de rede, conectando os pontos a partir de todo o conhecimento adquirido por meio dos indicadores, gerados pelo controle de qualidade.
Motivados pela eficiência e evolução de nossos pilares de sustentabilidade, avançamos no posicionamento de que a qualidade florestal precisa abranger e fortalecer as interfaces entre todos os segmentos operacionais. Não é o objetivo apenas lançar mão da velha retórica de que a qualidade vai agregar valor ao processo, mas sim persistir na busca por melhoria contínua, evitando desperdícios e alcançando um grau de excelência de produtos ou serviço que deve ir além da expectativa do cliente.
Tomando como base a experiência da WestRock, parece altamente recomendável desenvolver um conceito e uma plataforma que sustente e amplie a coleta de dados e a capacidade de processamento para geração de indicadores quantitativos e qualitativos. Essa plataforma também precisa garantir sessões de aprendizagem operacional, desenvolvimento de planos de ação e gestão de não conformidades, oportunidades de melhoria e inovação. O desafio é buscar a objetividade e a eficácia, reduzindo o nível de complexidade, implementar processos totalmente digitais, os mais automatizados possíveis, priorizando sempre proporcionar a melhor experiência para o usuário final.
Em nosso caso particular, desenvolver o sistema de gestão da qualidade foi imprescindível para sucesso na mudança de cultura. Aproveitar a expertise de todos, do nível operacional ao gerencial, a fim de garantir que o BBP (Business Blueprint) fosse aderente às necessidades do negócio, à experiência do usuário e capaz de abranger todas as áreas, foi um dos marcos na nossa estratégia de qualidade.
Além disso, é preciso dispor de um ambiente maduro para tratar as não conformidades e ocorrências de cada área, a qual colabora na definição de recursos, responsáveis e prazos. Para tal, contamos com suporte da alta liderança e dispomos de fóruns de qualidade estruturados, onde se discutem as ações para adequar e melhorar os processos produtivos. Também é preciso ter consistência na coleta de dados que integra o processo de envolvimento, engajamento e desenvolvimento das pessoas, trabalhando em três níveis:
•Nível 1 - Operação: responsável pelo controle de qualidade no dia a dia, em suas respectivas etapas de processo;
•Nível 2 - Equipe de qualidade: responsável por realizar auditorias e direcionar recursos onde se tem maior demanda, atuando também para ajudar a implementar melhorias, novos indicadores, buscar novas tecnologias, realizar análises e ajudar na correção de desvios;
•Nível 3 - Cliente interno: é quem homologa todo o trabalho, na medida em que este é o próximo elo do processo monitorado e que participa com a mesma abordagem do nível 2. Especificamente nesse caso, o sistema e a sua arquitetura de processos devem estar preparados e ser capazes de atender a essas demandas, de forma intuitiva.
Manter as equipes que compõem os três níveis bem alinhadas é imprescindível para ter um processo de padronização de coleta de dados quantitativos e, principalmente, para a interpretação e a avaliação dos dados qualitativos.
Assim, alinhado a todo esse processo de qualidade, é preciso uma liderança atuante, que suporte a execução da estratégia, buscando, de forma contínua e ativa, melhorar a segurança das pessoas, aumentar a qualidade de vida no trabalho, a eficiência operacional e a produtividade, além de reduzir impactos ao meio ambiente, de desperdícios, de retrabalhos e de custos, sempre contando com a contribuição da visão estratégica da área de qualidade, para maximizar os retornos sociais, ambientais e econômicos.