Presidente da SIF
Op-CP-30
O Brasil é a maior potência florestal do mundo graças às suas condições naturais de solo, de clima e de disponibilidade de áreas contíguas com vocação florestal em seu território continental. Essa vantagem comparativa é do conhecimento de muitos, mas poucos sabem que ela é fruto do acaso e do esforço individual de alguns, que se dedicaram à causa florestal de “corpo e alma”.
Méritos navarrianos à parte, o fortalecimento da silvicultura brasileira se credita ao acaso de duas políticas públicas da época do regime militar. A primeira delas é a dos incentivos fiscais ao reflorestamento, que tinha como objetivo a redução da pressão sobre as florestas nativas por parte das indústrias florestais. A segunda é a que instituiu os Programas Nacionais de Desenvolvimento (PND I e II) de apoio aos projetos das grandes indústrias de celulose e aço.
Essas políticas foram responsáveis por aumentar a área de reflorestamento de 500 mil para 6 milhões de hectares, mas, dadas as circunstancias da época, essa expansão se deu, em alguns casos, de forma empírica, desordenada e desconectada da principal força logística, que impõe que os reflorestamentos sejam implantados próximos da indústria consumidora.
Passados 25 anos dessas políticas (em 1988, a Lei 7.714/88 decretou o fim dos incentivos), apesar de a área florestal ser, aparentemente, a mesma hoje em dia, a produção de madeira mais que duplicou, graças ao avanço da produtividade em virtude da individualidade dos profissionais envolvidos com a pesquisa florestal – melhoramento genético, nutrição mineral de plantas e manejo silvicultural – e da cooperação entre as empresas, que são detentoras de equipes multidisciplinares e áreas de experimentação em pesquisas florestais, bem como as universidades e as empresas de pesquisas públicas.
Essa cooperação só foi possível devido ao empenho de institutos de pesquisas que souberam muito bem fazer essa ligação de empresas privadas com órgãos públicos. Nesses termos, a Sociedade de Investigações Florestais (SIF), ao longo de suas quatro décadas de existência, tem promovido um papel fundamental no progresso da ciência florestal e na competitividade da silvicultura brasileira.
Os primeiros reflorestamentos subsidiados alcançavam produtividades (Incremento Médio Anual aos sete anos, IMA7) médias de 20 m3/ha/ano, consideradas razoáveis numa época em que a ciência florestal engatinhava. Já no seu jubileu de ouro, a ciência propiciou um aumento para 40 m3/ha/ano.
Projeta-se para a próxima década IMA de 50, embora seja comum encontrar povoamentos de eucalipto com 60. Esse salto na produtividade é fruto das pesquisas que foram conduzidas com o esforço de renomados profissionais de universidades e empresas privadas.
No entanto se vê que os ganhos marginais propiciados pelo melhoramento genético e manejo silvicultural são limitados e estão se estabilizando, sendo que, para se manter competitivo na área florestal, há que se avançar em pesquisas aplicadas à genética (quantitativa e molecular), incluindo ganhos proporcionados pela transgenia, caracterização edafo-climática, ecofisiologia e aspectos socioambientais, entre outros.
Da mesma forma, do ponto de vista operacional, à medida que o seu custo sobe, há que se buscar alternativas operacionais mais intensivas em capital do que em trabalho, o qual caracterizava esse tipo de projeto. Nesses casos e no excesso burocrático, é onde residem os principais desafios para o progresso tecnológico do setor florestal brasileiro.
Até então, o processo de abertura do mercado internacional favorecia o crescimento da silvicultura brasileira. Entretanto o fortalecimento do setor florestal asiático e a democratização do continente africano podem colocar em xeque nossa vocação florestal, caso as lideranças do setor e o poder público não enfrentem tais desafios.
Embora a disponibilidade de recursos do Governo Federal para financiamento em pesquisa tenha aumentado nos últimos 10 anos, ainda assim, o limite é insignificante para se investigarem projetos de longo prazo e está muito aquém do que é disponibilizado por outros países.
Além dos obstáculos naturais inerentes aos projetos florestais, faltam programas estratégicos cooperativos em investigações, e, mesmo quando eles existem, a disponibilidade financeira é insuficiente e de difícil gerenciamento.
Visões medievais construídas por mitos e crendices sob a dimensão ambiental exacerbada contribuem para dificultar o avanço e os resultados das pesquisas na ciência florestal e do próprio setor. Perigosamente, tem se difundido um comportamento contrário ao uso de defensivos de toxicidade reconhecidamente quase nula e ao uso de transgênico em testes florestais.
Interferências negativas acontecem até no combate a pragas florestais por meio das técnicas de controle biológico. É o caso do percevejo bronzeado: embora tenhamos tecnologia para o combate biológico, dependemos de autorização do órgão competente para liberar o uso do parasita natural em nível de campo.
Essas limitações etnoambientalistas e os onerosos processos de licenciamento têm levado o Brasil a desperdiçar muitas oportunidades na expansão da sua indústria florestal. Somam-se a isso os excessos da legislação trabalhista que, recentemente, tem imposto a primarização do quadro de trabalhadores em detrimento da orientação natural no mundo, que é o da terceirização. Enquanto o Brasil impõe dificuldades para a expansão da produção florestal, países concorrentes subsidiam a silvicultura.
Enquanto o gigante Brasil adormece e dificulta a ação de seus empresários, os concorrentes estão liberando fartos recursos para atrair investidores florestais, ameaçando nosso esplêndido berço florestal. Para agravar o quadro de insuficiência financeira de apoio às pesquisas florestais, tem-se os efeitos burocráticos que comprometem a livre iniciativa e a criatividade exigidas em qualquer ação científica.
Os pesquisadores carecem de autonomia na condução de suas experiências. Dessa forma, para que o Brasil se mantenha na vanguarda do setor florestal, há que se investir continuamente na ciência e no desenvolvimento tecnológico. O País precisa elevar a commodity madeira em produto de qualidade nacional e transformar sua vantagem comparativa silvicultural em competitividade, antes que os potenciais concorrentes o façam.
Para isso, há que se aumentar os recursos para investimento em pesquisas, tanto em nível de poder público quanto de iniciativa privada, fortalecendo as instituições que interligam esses níveis por meio de um programa cooperativo de pesquisas focado nos principais problemas com que o setor florestal se depara.
As demandas das empresas florestais em resolver problemas técnico, científico, econômico, social e ambiental são várias, e, de forma oportuna, surgem novos problemas fortuitos ao setor. Por isso as lideranças florestais têm que agir mais proativamente junto às entidades da classe no que tange a defender o setor dos efeitos negativos dessas casualidades que dificultam a adequada dinâmica de seu crescimento.
A efetividade na transformação de vantagens comparativas em diferenciais competitivos depende, para eficácia dos projetos de pesquisa, da ação cooperativa intrassetor privado, ativa participação desse setor junto ao poder público nos níveis municipal, estadual e federal, bem como engajamento político convergente com as demandas e os princípios que fortaleçam e consolidem a sustentabilidade de um dos setores de maior relevância socioambiental do País.