Trabalho no setor florestal há muitos anos e aprendi muito, nesse período, a ser silvicultor testando ideias e conhecimentos acadêmicos para encontrar o melhor manejo florestal para pínus e eucaliptos. No início dos anos 1980, não tínhamos muitas ferramentas tecnológicas que nos apoiasse em nossas análises. Somente a troca de conhecimento entre os profissionais da área e muitas visitas às florestas nos davam suporte para seguirmos adiante com novos protocolos de manejo e introdução de novos materiais genéticos.
Mais tarde, as tecnologias foram chegando cada vez mais rápido e cada vez mais sofisticadas, mostrando um outro ângulo de visão para problemas novos e antigos. Todo esse conhecimento aumentou significativamente o nosso entendimento sobre a árvore e sua interação com o ambiente.
Há pouco tempo, fui a um seminário em São Paulo-SP chamado “Agrônomo digital”, que ocorreu no prédio da InovaBra, um centro de encontro de startups do Grupo Bradesco. Lá conheci um novo mundo que ainda não tinha visto tão de perto, um monte de pessoas com pensamento livre, inteligentes, inovadoras e corajosas que se reuniam para desenvolver programas digitais que poderiam ajudar todos os sistemas produtivos do Brasil. Logo ao subir pelo elevador, que parava a cada andar, pude ver um layout em cada um, montado propositalmente para facilitar a liberdade da criatividade, e muitos jovens se acomodavam confortavelmente com seus PCs cobertos de adesivos para desenvolver produtos que poderiam tornar melhor a vida das pessoas.
No seminário, me sentindo um peixe fora d’água, porque era o único que estava com caneta e papel na mão, vi muitas coisas interessantes sendo apresentadas, como as possíveis futuras soluções para o agronegócio. Mas também registrei uma preocupação de quase todos os apresentadores com as pessoas que iriam usar essas ferramentas e não somente com a tecnologia e o resultado que ela poderia trazer. Percebi, então, que, junto com esse tsunami de tecnologia, precisava vir também uma carga importante de inclusão das pessoas nesse novo mundo. A pergunta que me fiz na ocasião foi: estamos preparados para isso? Nossas organizações e nossos líderes estavam atentos a essa mudança?
Entendi que não estávamos preparados para isso e tivemos que nos organizar, criando programas específicos que preparasse essas pessoas para esse novo normal. Não podíamos entender que nosso trabalhador não seria capaz de absorver esse novo conhecimento, mas tínhamos certeza de que ainda não estava pronto para ele. Dessa forma, fomos em busca de alternativas desenhadas para obter esse engajamento da maneira mais natural possível.
Criamos o primeiro programa chamado “Nossa Gente”, que teve o objetivo de dar um propósito a todos os trabalhadores, fosse ele ajudante de silvicultura, operador de harvester, operador de drone, motorista de caminhões pesados ou especialista em Big Data. A dinâmica desse projeto era entender a demanda real de cada um, se aproximando dessas pessoas, criando uma via para que, tratando cada um de forma diferente, permitisse que elas se sentissem apoiadas em sua trajetória dentro empresa e, dessa forma, participarem de qualquer mudança que viesse a ocorrer.
Criamos também o programa “Trilha de Carreira”, que, através de um mapeamento detalhado dos cargos e funções da empresa, fornecesse a cada um a possibilidade de crescer ou, pelo menos, se colocar em condições de seguir uma trilha que desejar. Nesse programa, criamos a figura do padrinho, que era escolhido pelos trabalhadores para dar apoio em sua trajetória, orientando-os sobre os processos de treinamentos necessários para cada função e o passo a passo dentro da trilha. Esse atendimento customizado seria necessário para que não houvesse nenhum problema de comunicação para aqueles que tivessem interesse em se movimentar dentro da organização. Eram oferecidos cursos existentes no canal da empresa ou orientações para cursos fora da empresa.
Ampliamos o programa “Renovar”, que fornece treinamentos específicos para que as pessoas pudessem ter os conhecimentos e as habilidades necessários para o próximo passo de sua trajetória dentro da empresa. E, dessa forma, deixamos entrar toda tecnologia que se apresentasse como criadora de valor para nossa atividade. Começamos com a criação de um plano diretor de tecnologia, realização de eventos como Innovation Day, Tech week, montamos o IRIS, centro de inteligência e informações florestais, e criamos uma coordenação de competitividade responsável por essa gestão de entradas de tecnologia, assim como os treinamentos necessários para sua implantação.
Tivemos contatos com várias startups e fizemos muitos desenvolvimentos interessantes, provas de conceito, desenvolvimento de ferramentas focadas nos segmentos de imagem hiperespectral, conectividade, telemetria, sensoriamento de máquinas, digitalização de informações, automação de ciclos produtivos, dinâmica operacional, medições de performance em tempo real, conhecimento biológico da planta, climatologia e outras.
Toda essa tecnologia abriu enormes oportunidades para melhoria do nosso trabalho, mas também mostrou que estávamos certos em preparar antecipadamente nosso time para que fosse incluído nesse futuro que apenas estava começando. O resultado? O fruto da fusão entre o conhecimento do negócio, as startups que querem destinar todo seu conhecimento e criatividade para gerar um produto em que acreditam mais do que tudo e um ambiente receptor dentro da organização; não tinha como dar errado, e estamos seguindo firmes nesse caminho.