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Máximo Pacheco

Presidente da International Paper do Brasil

Op-CP-17

Otimismo, mas com cautela

A explosão da pior crise econômica dos últimos 70 anos trouxe mudanças ainda mais surpreendentes e profundas do que a queda de pesos-pesados, como os bancos de investimentos Lehman Brothers e Merrill Lynch. Um ano após a crise, a configuração econômica do mundo está repleta de novidades ? recebidas com boas-vindas por uns, temidas por outros e vistas com ressalvas e certo grau de desconfiança por muitos.

A China transformou-se na maior nação exportadora do mundo, superando a Alemanha e deixando os Estados Unidos em terceiro lugar. Os países emergentes cresceram ainda mais aos olhos de investidores. Brasil, China e Rússia se tornaram credores do FMI. De forma lenta e gradual, países como Alemanha e França se recuperam da crise e já mostram sinais de crescimento após meses de recessão.

Apesar de funcionarem como uma injeção de ânimo, esses acontecimentos devem ser recebidos com prudência. Se, no geral, o cenário é de recuperação, acredito que é necessário adicionar um elemento a todo esse otimismo: a boa e velha cautela. A economia levará certo tempo para retornar ao patamar anterior, e a possibilidade do aumento do desemprego, com o consequente corte de consumo, ainda representa ameaça.

No que diz respeito ao setor de papel e celulose no Brasil, o cenário não é diferente. Dados preliminares de julho indicam sinais de melhora no setor. A produção de celulose cresceu 3,7% em relação a junho, e, no acumulado de janeiro a julho de 2009, foi 0,7% superior aos volumes do mesmo período do ano passado. Quanto ao papel, a produção nacional cresceu 3,3% em julho, em comparação ao mês anterior, com destaque para os resultados dos segmentos de papéis de embalagem e de papel para imprimir e escrever.

No entanto, enfrentamos um primeiro trimestre difícil, com alterações no comportamento dos segmentos. O mercado doméstico, por exemplo, apresentou uma redução de 3% no consumo de papel não revestido, no primeiro semestre de 2009 em comparação a 2008, e houve aumento de importação em função do escoamento da produção de outros países para a América Latina.

No acumulado, a produção ainda não chegou aos patamares de 2008, mas a diferença tem diminuído a cada mês. Nos dois primeiros trimestres, as exportações de papel cresceram. Esse aumento não foi acompanhado pela receita, em função dos preços reduzidos. Entretanto, os resultados devem se mostrar mais positivos nos próximos meses.

Vale ressaltar que o superávit da balança do setor de celulose e papel foi de US$ 2 bilhões - 12% do resultado total da balança comercial brasileira. Além disso, o fato de o setor de papel ser um dos mais competitivos segmentos da indústria brasileira no mercado internacional também contribui para uma visão otimista dos meses que estão por vir.

O Brasil possui importantes diferenciais em relação aos concorrentes globais: 100% da produção nacional de papel têm como matéria-prima árvores provenientes de florestas plantadas e renováveis, além de certificadas por órgãos reconhecidos internacionalmente, como o Cerflor, homologado pelo Programme for the Endorsement of Forest Certification - PEFC, o que significa que são manejadas de acordo com os mais rigorosos critérios de sustentabilidade.

Além disso, em razão de fortes investimentos em P&D, o país se tornou líder no uso de eucalipto e de pínus, principais espécies usadas para a produção de papel. Atualmente, essas plantações originam, respectivamente, cerca de 41m³ e 35m³ anuais de madeira por hectare. A alta produtividade garante menor demanda por novas áreas. Como resultado, os espaços cultivados abrangem apenas 0,2% das terras agricultáveis do território brasileiro.

Calcula-se que a conjuntura econômica para os próximos meses seja positiva, e a retomada, em ritmo lento e gradual, continue a acontecer. Mas é importante continuar
a agir de modo responsável. Não é possível controlar condições externas, mas podemos administrar nossos custos, usar os recursos disponíveis com disciplina e preparar nossas empresas e profissionais para condições complexas e desafiadoras.

Independentemente do clima e das condições de mercado, algumas lições empresariais devem permanecer, como a ética, a transparência, o respeito às pessoas e o desenvolvimento sustentável. O cumprimento dessas regras é o que torna empresas perenes e resistentes a turbulências. Com a casa arrumada, seguindo as leis da economia e usando o bom senso, fica mais fácil enfrentar a crise. No primeiro ano da eclosão da maior crise das últimas décadas, é bom não se esquecer disso.