A pauta desta edição da Revista Opiniões, “Corrigindo a rota do setor florestal”, é esperada com grande expectativa e, certamente, se transformará em referência para as principais lideranças do setor, oferecendo reflexões e especialmente indagações que ampliem a visão das forças, riscos, oportunidades e demandas deste momento disruptivo que vivemos.
Nós plantamos árvores, transformamos a paisagem de tal forma que nossas ações jamais passam despercebidas, seja pelo vasto verde e imponência das plantações florestais, seja pelo intenso movimento, sonoridade e presença dos processos que compõem nossa cadeia de valor no cotidiano das pessoas. Apesar do incansável trabalho socioambiental que o setor tem realizado ao longo de décadas, quando confrontado, verificamos a permanência de uma posição reativa, enquanto o momento requer reflexão que possa indicar a respeito de que aquilo pode ser verdadeiro e quais as oportunidades para a evolução do setor.
Vale para qualquer segmento, mas, para o setor florestal, a dependência da natureza passou a ser percebida pela sociedade de forma ainda mais contundente. Goethe foi perfeito ao afirmar que “encontramo-nos cercados e acolhidos pela Natureza; incapazes de nos separarmos dela... Ela não tem linguagem nem discurso; mas cria línguas e corações, por meio dos quais sente e fala...”.
Dentre as mais importantes conquistas da sociedade, está a atenção e o aprofundamento acerca de todas as variáveis que compõem a equação da sustentabilidade. É consenso que, imediatamente, precisamos desenvolver e consolidar indicadores que nos ofereçam maior conhecimento sobre os limites da produção sustentável.
Aí reside o grande desafio do sistema florestal, implementar inovações que garantam comunicação proativa e envolvimento dos stakeholders, uso de indicadores aplicados e desenvolvimento de modelos que realmente promovam e gerem percepção de melhoria de vida para as pessoas, garantia de conservação e preservação ambiental, além de efetivar performance capaz de manter o sistema em absoluta evolução.
Nesse contexto, é fundamental que o setor florestal redesenhe sua cadeia de valor, redefina elos de cooperação, fortaleça bases de compliance para atuação cooperativa e, através da ativa interface que precisa construir com stakeholders representativos, desenvolva porta-vozes de credibilidade reconhecida junto à sociedade. Universidades e entidades de pesquisa precisam ter os vínculos de parceira com o setor florestal, ampliados e potencializados tanto para formação acadêmica quanto para desenvolvimento de pesquisa aplicada aos aspectos sociais, ambientais e econômicos da cadeia de valor da produção florestal.
Não menos relevante é a profunda revisão de agenda e estratégia de atuação das entidades representativas do setor no âmbito estadual e federal. O momento requer definição de prioridades, atuação cooperativa e absoluta agilidade na efetivação de ações que desmistifiquem percepções indevidas, reveja políticas que dificultam o desenvolvimento do setor e potencializem nossas vantagens comparativas enquanto fortalecem vantagens competitivas.
A tecnologia está mudando tudo. As digitalizações, sistemas de análises avançadas e inteligência artificial, nanotecnologia, genética molecular, tecnologia da informação, estão prontamente disponíveis para conquistas inimagináveis. Portanto o momento requer domínio e uso de toda inteligência disponível para geração do conhecimento necessário para transformar esse desafio num novo ciclo de prosperidade do setor florestal.
Somos um setor centenário, constituído por corporações sólidas e bem posicionadas no mercado nacional e internacional. Ao longo das dezenas de anos da construção desse exemplar segmento, quanto conhecimento se acumulou e como o setor tem utilizado tamanha base de informação? Tão grande quanto essa base é o desafio e a disposição em dividir para conquistar saltos de aprendizagem, agilidade e potencialização de retornos.
A titularidade da terra é um tema importante e carece de premente avaliação, visando a correções que potencializem o seu uso, justamente porque é a produtividade que se impõe como pilar de retorno econômico e base da inclusão social nos próximos anos. A competição que inquieta é pelo uso da terra e parece ser muito mais desafiadora.
Porém a base genética de nossas florestas plantadas é capaz de cobrir todas a condições edafoclimáticas reinantes nas fronteiras do setor florestal no País. A inteligência aplicada aos princípios de manejo da floresta plantada e seus reflexos na conservação de solos, água, fauna e flora são capazes de oferecer inovações de manejo muito superiores aos regimes desenvolvidos e aplicados até agora.
Portanto, no curto e no médio prazo, o setor pode ser capaz de ampliar significativamente sua capacidade de oferta, considerando a mesma base plantada, além de consolidar sua já reconhecida efetividade na conservação e na preservação dos serviços ambientais. Voltemos à reflexão anterior... disposição e agilidade no desenvolvimento de modelos que fortaleçam a construção e uso do big data florestal, que, certamente, oferecerá os saltos de aprendizagem e de potencialização de retornos.