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Ana Paula Pulito e José Carlos Arthur Junior

Coordenadora e Vice-Coordenador Técnico do PTSM do IPEF

Op-CP-14

Manejo de resíduos florestais

A silvicultura brasileira tem conseguido importantes avanços científicos e tecnológicos, refletindo crescentes níveis de produtividade, em ampliação das áreas de preservação permanente, em restauração e no uso de métodos de colheita florestal menos nocivos ao ambiente. A adoção do cultivo mínimo foi um dos avanços mais expressivos.

O preparo do solo consistia no cultivo intensivo, baseado no amplo revolvimento das camadas superficiais, com incorporação total ou parcial dos resíduos culturais, e até a queima era comum. Nesse contexto, em 1995, criou-se o atual Programa Temático de Silvicultura e Manejo - PTSM. Esse é um dos vários programas temáticos do IPEF, cujo enfoque foi o de estabelecer práticas mais adequadas à realidade florestal.

Dessa iniciativa, resultaram inúmeros avanços, como o desenvolvimento de pesquisas e tecnologias para a consolidação do cultivo mínimo. Esse cultivo prevê a realização de um preparo localizado apenas na linha ou na cova de plantio. Neste método, a maior parte dos resíduos culturais é mantida sobre a superfície do solo.

As principais vantagens são:

a. manter ou melhorar as características físicas do solo;
b. reduzir as perdas de nutrientes do ecossistema;
c. manter ou elevar a atividade biológica do solo;
d. manter ou elevar a fertilidade do solo;
e. reduzir a infestação de plantas invasoras;
f. reduzir as despesas de implantação e reforma de povoamentos florestais, e
g. aumentar a eficiência operacional das atividades de campo.

São considerados resíduos florestais todos os materiais orgânicos que sobram na floresta após a colheita. Podemos citar os resíduos lenhosos - sobras de madeira, com ou sem casca, os galhos grossos e finos, as folhas, os tocos, as raízes, a serapilheira e a casca. A geração de energia de biomassa vegetal deve ser vista com ressalva, pois a aparente energia barata renovável pode custar caro ao meio ambiente.

A maioria dos solos ocorrentes nas regiões tropical e subtropical apresenta avançado estágio de intemperização, com teores de macro e micronutrientes, considerados baixos ou muito baixos, com grandes implicações sobre o potencial produtivo. Assim, o cultivo sucessivo por várias rotações de espécies florestais com grande capacidade de extração de nutrientes tem grande impacto sobre as pequenas reservas nutricionais dos solos, resultando em quedas de qualidade dos sítios.

O equilíbrio entre entradas e saídas de nutrientes é estratégico para a manutenção da produtividade. Assim, é essencial que sejam repostos os nutrientes exportados em produtos florestais, por meio das fertilizações. Os resíduos vegetais podem causar alguns transtornos operacionais, como: o rendimento e a qualidade operacional do preparo de solo podem ficar aquém do almejado e o combate às formigas é dificultado, pois os resíduos camuflam seus ninhos.

Para possibilitar ou agilizar o preparo de solo e outras atividades silviculturais, é necessário abaixar, afastar ou picar os montes de galhos, ponteiros e cascas dispostas sobre o solo, evitando o embuchamento. Esse efeito pode ser conseguido com o rolo-faca, o picador de resíduos ou o limpa-trilho. Pode-se também adotar o princípio de convivência com os resíduos, com o objetivo de economizar operações e de reduzir danos ao solo, utilizando-se hastes retráteis em subsoladores e discos cortantes.

O rebaixamento dos tocos, após a colheita, pode ser feito com os chamados rala-toco ou em parceria com os trabalhadores locais, que fazem o rebaixamento com motosserra, em troca do toco remanescente para fazer carvão ou em outra atividade. Outra alternativa é treinar os operadores das colhedoras para fazer o corte mais próximo ao solo, apesar do desgaste das peças de corte, devido ao atrito com o solo.  

Uma nova trituradora de resíduos vem sendo testada e é capaz de fazer a trituração de resíduos na entrelinha de plantio e rebaixar os tocos. Testes de campo mostraram resultados muito satisfatórios. A trituração dos resíduos trouxe vários ganhos subseqüentes, entre eles o aumento do rendimento das operações - preparo de solo, plantio, irrigação, etc, e redução do índice de acidentes e afastamentos de funcionários.

Apesar de se realizar mais uma atividade, os ganhos compensam, pois não se restringem apenas às atividades subseqüentes, outros são: aceleração da decomposição de resíduos lenhosos - devido à fragmentação, e o ganho de produtividade ao final do ciclo. Esse ganho de produtividade justifica-se pelo fato de que as atividades ganharam qualidade, ou seja, são realizadas com maior uniformidade. Analisando-se todo o contexto da produção de florestas, é fundamental manejar corretamente os resíduos em prol da sustentabilidade florestal e do desenvolvimento tecnológico.