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José Otávio Brito

Diretor Executivo do IPEF - Instituto de Pesquisa e Estudos Florestais

Op-CP-58

Jeito brasileiro de fazer florestas
Não se pode imaginar qualquer previsão sobre o futuro do reflorestamento no Brasil sem uma mínima abordagem sobre a questão tecnológica que se encontra atrelada a essa atividade. Inegavelmente, uma elevada parcela do sucesso que o nosso País alcançou nesse campo, especialmente aquela conduzida de forma intensiva para finalidades econômicas, é por causa do desenvolvimento que alcançamos no campo da tecnologia florestal.

Isso é altamente reconhecido, inclusive, no âmbito internacional, visto o interesse despertado por outros países na busca de informações sobre o “jeito brasileiro de plantar árvores”. Se tudo isso é fato, não podemos negar que ainda nos deparamos com grandes e importantes desafios para podermos continuar numa marcha de constante evolução. 
 
Há um certo consenso de que, atualmente, os novos ganhos estão a exigir esforços muito maiores do que no passado. O leque de variáveis e influências aumentaram muito, bem como se elevaram os níveis de especificidades e exigências para se manter a atividade florestal, de forma econômica e socioambiental adequada. A visão geral do “basta plantar e colher” de longe ficou para trás, não sendo mais possível, sobretudo, imaginar colocar “tudo num mesmo balaio”. 
 
Já virou bordão a afirmativa de que estamos tendo problemas com a produtividade florestal em razão das variações climáticas, que está faltando água e que as árvores estão secando, que as pragas “estão soltas”, que estamos afunilando os plantios em torno de poucos clones, que ainda existe um gap tecnológico nas práticas silviculturais, especialmente nos quesitos mecanização e automação, etc., etc. Sim, os fatos parecem ser esses mesmos, porém há que se ter a devida cautela para ponderá-los, considerando a existência de diferentes nuances regionais. 
 
Diga-se que, ao longo dos últimos 10-15 anos, ocorreu uma certa “acomodação tecnológica” da silvicultura no Brasil. Nas regiões com tradição no plantio de árvores, muitas decisões foram tomadas no simples conceito de “se está dando certo, para que se preocupar”. Ao mesmo tempo, em se considerando as chamadas novas fronteiras de expansão das plantações, houve uma exagerada generalização de conceitos e práticas, por causa da simples e pura transferência de tecnologia das áreas tradicionais.

Hoje, reconhece-se que tais decisões não foram totalmente corretas para garantir a continuidade do mesmo grau de sucesso tradicionalmente apontado para o plantio de árvores em nosso País. Com isso, mais recentemente, percebe-se um incremento na busca por novas informações, resultados e orientações tecnológicas, que possam corrigir ou reorientar alguns aspectos da forma de se plantar árvores. Conforme comentado, há elementos mais específicos e externalidades que precisam ser mais bem estudados e conhecidos.           
 
De uma forma ampla, porém, há uma impressão de que o “calo ainda não apertou, para valer”, pois os números que se apresentam no setor, no geral, são expressivos em termos de vantagens competitivas. Isso se considerando especificamente a produção silvicultural e sem entrar no mérito da questão econômica atrelada aos processamentos e destinações dadas à madeira obtida. Mas aí vem a pergunta: E o futuro? Hummm! Bola de cristal? Não!
 
Há que se lembrar que, na década de 1960, quando possuíamos apenas 500 mil hectares de florestas plantadas e uma produtividade de 15 metros cúbicos/ha/ano, houve uma convocação geral para a busca de soluções na direção da melhoria da produtividade e da qualidade da nossa silvicultura. E uma fortíssima e positiva contribuição para isso foi emanada de ações no contexto do desenvolvimento tecnológico.

Mas é preciso lembrar que esse desenvolvimento não teria sido alcançado sem o efetivo suporte da pesquisa, que, concomitantemente, se estabeleceu de forma expressiva. Independentemente de qualquer aspecto e sem menosprezo a outros importantes fatores, foi ela quem respondeu, com altíssima eficácia, à demanda tecnológica para se produzir madeira em quantidade e com qualidade, que fez com que o Brasil se tornasse um player mundial no setor.

Evidentemente, não se pode esquecer que tudo isso estava baseado num plano político estratégico emanado do governo, com diretrizes claras e de longo prazo, devidamente acordadas com o setor privado. Por sinal, parece-nos estarmos diante de uma nova oportunidade para que tudo isso possa se repetir.   
 
A pesquisa e o desenvolvimento tecnológico no setor de florestas plantadas têm especificidades difíceis de se observarem em outras áreas da atividade econômica no Brasil. Uma delas, de altíssima e positiva relevância, é o modelo de integração e cooperativismo entre os diferentes atores que nele atuam.

Em especial, o setor detém o pioneirismo, talvez em escala mundial, na construção de uma forma diferente de produção de conhecimento, que evoluiu na aproximação dos que a geram, representados pelas universidades e institutos de pesquisa, com as necessidades daqueles que se dedicam à chamada “indústria de árvores”.

Já há décadas, o setor aboliu o chamado “modelo”, segundo o qual chegar a uma inovação demandaria uma trajetória linear: primeiro a pesquisa científica, seguida de uma etapa de desenvolvimento e depois de inovação propriamente dita, de formas distintas e não rapidamente conectadas com o segmento produtivo. 
 
Ainda hoje, o setor conta com um forte elenco de componentes estruturais dedicados à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico, que permite que os resultados obtidos sejam, na prática, rapidamente absorvidos. Contudo há que se continuar, ou mesmo incrementar, o apoio e o estímulo de ações em tais áreas, mantendo-as como importantíssimos protagonistas, sem os quais não se pode acreditar que tenhamos sucesso na solução das questões, e os desafios que estão e, certamente, continuarão a envolver o jeito brasileiro de “plantar, fazer crescer e produzir árvores”.