Todos aqueles que, de alguma forma, estão envolvidos com a silvicultura empresarial no Brasil, sejam eles empresários, investidores, executivos, administradores, técnicos ou gestores, têm se perguntado como poderemos continuarproduzindo e competindo numa atividade cada vez mais complexa, multifacetada e com restrições de toda ordem, que vão das dificuldades impostas para a obtenção de licenças ambientais, da interpretação e da aplicação da legislação e, em especial, daquelas definidoras das relações de trabalho e da posse da terra, das invasões às vezes toleradas por instituições públicas, além da confusão e prazos para a regularização fundiária.
Não bastasse esse emaranhado de burocracias e exigências, esse segmento do chamado “agronegócio” é percebido pela sociedade como concentrador de renda e potencialmente danoso ao meio ambiente, apesar de ter uma história, embora relativamente curta, de grande sucesso, além de ser um exemplo no cumprimento das suas obrigações legais e, não raras vezes, transcender na criação de valor.
Nascida da iniciativa pública nos anos 1960, com a criação da política de incentivos fiscais, caracteriza-se, principalmente, pela ocupação de grandes extensões de terra, com vinculação verticalizada à indústria de base florestal. Outra característica facilmente perceptível é a monocultura, além de gozar, em alguns casos, de isenções fiscais. Essa é justamente a sua força e também a sua fraqueza.
Força proporcionada pelo ganho de escala e pela competência técnica, inegavelmente adquirida, e fraqueza pela incapacidade de ser percebida pela sociedade como um modelo inclusivo que proporciona geração e distribuição de renda. Por sorte, desde o seu nascimento, a valorização da competência técnica obtida pelo desenvolvimento de uma perfeita simbiose entre as principais instituições de ensino e pesquisa do País e as empresas de base florestal sempre foi uma prioridade.
Dessa importante parceria, resultou a consolidação de uma tecnologia aplicada, genuinamente nacional, que permitiu o estabelecimento de metodologias de seleção e melhoramento genético, manejo, nutrição e gestão florestal, que, aliados às nossas excelentes condições de clima e disponibilidade de terras, proporcionaram as condições ideais e necessárias para a consolidação e perenização da atividade.
Nos últimos quarenta anos, a produtividade das florestas plantadas mais que triplicou, garantindo uma posição privilegiada, elevada competitividade, com consequente ocupação de espaços importantes nos mercados nacional e internacional. Obviamente que, sozinho, esse excelente crescimento da produtividade não garantiu a ocupação de mercado que tivemos, mas, certamente, foi o principal instrumento de alavancagem.
Apesar de os horizontes da produtividade florestal ainda serem promissores, especialmente com as perspectivas das pesquisas em biotecnologia, parece que, sozinha, não mais será suficiente para nos garantir uma posição de destaque. Nos dias atuais, não basta possuir grande competência técnica florestal para sobreviver nesse negócio.
É também necessário que a produtividade da mão de obra seja igualmente competente, além de ser socialmente aceita, e aí está um dos principais desequilíbrios existentes na atualidade, que são o descasamento dos interesses da sociedade e os do empreendedor em silvicultura.
Para complicar um pouco mais, ocorreu que, a partir dos anos 1990, no Brasil, com uma maior abertura da nossa economia aos mercados internacionais e, na última década, com a valorização real e crescente do salário mínimo, foi desencadeada uma forte elevação dos custos de produção, devido, principalmente, à sua característica de atividade desenvolvida com o emprego intensivo de mão de obra.
Também é fato que a silvicultura empresarial, invariavelmente, é confundida na consciência coletiva da sociedade urbana atual e pelos meios de comunicação de massa como uma atividade predatória, muitas vezes danosa ao meio ambiente, detentora de latifúndios, promotora da miséria rural e da expulsão em massa do homem do campo.
Ocorre que, numa sociedade democrática, a imagem percebida coletivamente resulta no reconhecimento e na importância a ser dada por essa sociedade para a existência de determinada atividade. Sem isso, as dificuldades tornam-se crescentes, elevando os custos, até a sua inviabilização, pela imposição de restrições pelos órgãos reguladores e certificadores do plano de manejo.
Essa imagem distorcida que a sociedade tem da silvicultura torna-se quase incompreensível, uma vez que o setor é, talvez, o único agente econômico que é submetido regularmente aos mais rigorosos mecanismos de licenciamento e que cumpre, integralmente, as legislações, especialmente aquelas de caráter ambiental e trabalhista, além de investir maciçamente em pesquisas relacionadas à sustentabilidade.
Parece claro que, se quisermos continuar participando e contribuindo para o desenvolvimento nacional, precisamos encontrar uma nova forma de agir.
O modelo ideal a ser buscado precisa, em primeiro lugar, ser economicamente INCLUSIVO, no sentido de possibilitar o aumento das oportunidades para os agentes locais, contribuindo, de forma significativa, para a geração de empregos, do crescimento e da distribuição da renda.
Não é mais possível ocupar grandes extensões de terra, às vezes a quase totalidade das terras agricultáveis em determinadas microrregiões, sem oferecer oportunidades compensatórias. Um exemplo claro do oferecimento de oportunidades, já explorado pelas indústrias de base florestal, são os programas de fomento que caminham no sentido da redução da verticalização e do aumento da participação dos negócios e dos comércios locais.
A percepção dos benefícios gerados por essas políticas é demorada, devido às características da silvicultura, que são de maturação de longo prazo; entretanto, após consolidadas as mudanças, tornam-se ciclos importantes e duradouros.
Em segundo lugar, precisa ser tecnicamente INOVADOR. Parece ser consenso entre os atores das indústrias de base florestal que o principal fator de competividade é a produtividade florestal. E essa produtividade foi obtida graças à competência técnica adquirida através de investimentos de longo prazo contínuos e constantes.
Obviamente, é necessário ser competente e inovador em todas as áreas do conhecimento, indo da logística ao financeiro. Entretanto foco aqui apenas a produtividade florestal por ser esta uma exclusividade da silvicultura.
A continuidade da existência de um diferencial competitivo é fortemente dependente da promoção de um ambiente favorável ao desenvolvimento da criatividade e da inovação, e isso precisa ser garantido. Em terceiro lugar, é necessário cultivar a ÉTICA como valor absoluto nas relações, indistintamente, com todos os públicos e interesses.
Por razões de sua própria gênese, a silvicultura está intrinsecamente associada ao conceito de sustentabilidade, de forma que é fundamental ter em suas práticas, além da transparência e da honestidade, a conservação e a preservação dos recursos naturais e culturais como parte integrante e indissociável.
Sintetizando, o futuro exige dos agentes econômicos, sejam eles públicos ou privados, razões claras e objetivas para a sua existência. Essas razões devem atender aos interesses das pessoas como indivíduos e da sociedade em seu conjunto. Aqueles que não perceberem a tempo, provavelmente não sobreviverão.