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Vanderley Porfírio-da-Silva

Chefe Adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Florestas

Op-CP-59

A importância da estratégia
"A iLPF utiliza muitos dos atributos de uma floresta, cria diversidade em seu ambiente, produz serviços ambientais e agrega valor aos produtos, protegendo o negócio, inclusive, de possíveis adversidades do mercado. Ao produzir multiprodutos florestais, a iLPF pode atrair outros segmentos da cadeia produtiva, oportunizando mais valor à madeira.E, talvez, aí esteja a importância da estratégia de integração lavoura-pecuária-floresta para o setor florestal."

A importância estratégica da iLPF está, a cada ano, mais evidente. Em 2006, a Revista Opiniões (Jun-Ago-2006) publicou a opinião de que os setores pecuário e florestal deveriam se associar para garantir a competitividade do agronegócio brasileiro, artigo no qual discutia potenciais vantagens e gargalos existentes. Naquela oportunidade, a pecuária nacional já havia se tornado a responsável pela maior fatia do mercado mundial de carnes e encontrava-se "em xeque", especialmente pelo potencial de emissão de gases de efeito estufa (GEEs).

No entanto já se vislumbrava a importância da integração de árvores e pastagens numa estratégia para a mitigação da emissão de GEEs na bovinocultura, que utiliza considerável área no território nacional e que estabeleceria um novo paradigma para a agregação de renda e qualidade aos pecuaristas. Em 2010, surge o Plano ABC, que tem na iLPF uma das estratégias para a economia de baixa emissão de carbono na agricultura; em 2103, é instituída a Política Nacional de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (Lei nº 12.805, de 29/04/2013), reforçando ainda mais a importância estratégica da iLPF.

Novamente, a Revista Opiniões publica, na edição número 35 (Mar-Maio 2014), a opinião que traz uma perspectiva da iLPF na cadeia produtiva da madeira, bem como chamava a atenção para a importância do estabelecimento de estratégia nacional para o desenvolvimento sustentável do agronegócio no século XXI, oferecendo a iLPF como alternativa importante e que requereria inovação na gestão do espaço rural, pois introduz um novo paradigma ao modelo de negócio vigente nos setores agropecuário e florestal.  No ano seguinte, a edição 40 da Revista Opiniões (Jun-Ago 2015) é dedicada integralmente à estratégia iLPF, trazendo ampliado o conceito da iLPF em distintos cenários do território brasileiro.
 
Obviamente que tais artigos expressavam uma realidade latente nos meios científico e tecnológico, que foram alavancados com planos setoriais e políticas públicas que propiciaram a difusão dos conceitos inerentes à iLPF; além, é claro da capacidade inovadora do agro brasileiro, ao ponto de empresas de insumos, máquinas e implementos, pesquisa agropecuária, cooperativa de produtores, agente financeiro e de certificação se associarem, criando a Associação Rede iLPF, que busca acelerar a adoção das tecnologias de iLPF.

Tal difusão facilitou, por exemplo, para que a pecuária brasileira inovasse. A pecuária nacional mudou de status: de potencial poluidora para potencial mitigadora dos gases de efeito estufa (GEEs). E, entre as tecnologias inovadoras que a pecuária adota, está a iLPF, com a presença de árvores, sem as quais o protocolo "Carne Carbono Neutro", estabelecido pela Embrapa em 2015, e a consequente criação da Associação Brasileira de Produtores de Carne Carbono Neutro (ABCCN), em 2019, não seriam possíveis. 
 
Essa inovação é decorrente da presença da árvore fora da floresta, ou seja, na pastagem. Se considerarmos que o setor florestal vai além da produção de celulose e da madeira processada, da floresta de regime único, de empresas cuja "análise de seu negócio é na ponta da indústria", teremos diversas oportunidades para as florestas multiprodutos, para as árvores nas pastagens, e, portanto, para a iLPF. E, talvez, aí esteja a importância da estratégia de integração lavoura-pecuária-floresta para o setor florestal.  
 
Por utilizar muitos dos atributos de uma floresta, a iLPF cria diversidade em seu ambiente, produz serviços ambientais e agrega valor aos seus produtos, protegendo o negócio, inclusive, de possíveis adversidades do mercado. Caso o mercado não esteja bom e/ou o recurso não seja necessário de imediato, as árvores na iLPF, quando adequadamente manejadas, podem continuar crescendo, produzindo serviços ambientais e agregando valor ao produto. Será importante para produzir madeiras que possam substituir as madeiras extraídas de florestas naturais, que se tornarão cada vez mais escassas e de acesso limitado.

Outra importância da iLPF para o negócio florestal é que, ao produzir multiprodutos florestais, pode atrair outros segmentos da cadeia produtiva, oportunizando mais valor à madeira.  Mesmo quando a iLPF é orientada para a produção de biomassa, as faixas plantadas com árvores são relativamente estreitas, e a incidência de radiação solar é mais equitativa para os indivíduos que, praticamente, se comportam como árvores de bordadura com efeito sobre a volumetria total, em especial na primeira tora de cada árvore.
 
As áreas dedicadas às lavouras e pastagens no País são vastas (mais de 95% da área destinada para uso agropecuário) e possuem potencial para incrementar a oferta de madeira, especialmente pela inclusão de espécies madeireiras que são pouco utilizadas nos plantios comerciais tradicionais, mas possuem elevado valor.  A produção da matéria-prima florestal, por si mesma, pode se tornar um fim econômico para quem faz a gestão de sistemas de iLPF, portanto é possível que surjam formas mais competitivas de produzir madeira plantada. A iLPF poderá cooperar para uma gradual transição para o modelo em que áreas produtoras de matéria-prima florestal se profissionalizem como negócios independentes.
 
Essa interseção dos setores agropecuário e florestal, representada pela iLPF, permite que conceitos estabelecidos se combinem, produzam sinergia e promovam a emergência de um novo paradigma para a produção sustentável. Particularmente ao setor florestal, todos os seus produtos poderão se apropriar da perspectiva de serem originados em sistemas de produção onde a conformidade e a compliance, inclusive com outras cadeias produtivas, estarão intrínsecas na forma de produzir a matéria-prima. O exemplo atual, mais emblemático, dessa interseção, parece dissonante, mas é real, é o do marca-conceito "Carne Carbono Neutro", improvável sem o componente florestal nas pastagens brasileiras. 
 
Para finalizar esta opinião, é necessário dizer: é recíproca a importância do setor florestal para com a estratégia de integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF).