Historicamente, a participação do Brasil no comércio internacional de produtos de madeira é pouco representativa. Os principais produtos de madeira exportados pelo Brasil são madeira serrada, compensado, molduras (wood frames), pisos e portas. Ao longo das últimas décadas, observa-se um aumento substancial dos produtos baseados em madeira oriunda de florestas plantadas, sobretudo pínus (e, mais recentemente, eucalipto), em detrimento daqueles produzidos a partir de florestas nativas, notadamente madeira tropical.
As exportações brasileiras de produtos de madeira apresentaram um comportamento extremamente positivo até 2007, quando alcançaram USD 3,3 bilhões. Em 2008, a partir da crise do subprime nos EUA e da concomitante desvalorização da moeda americana, os volumes de produtos de madeira exportados pelo Brasil caíram para níveis inferiores a USD 2 bilhões nos anos subsequentes (figura1).
A partir da crise do subprime, a indústria da madeira no Brasil sofreu uma importante transformação, pelo menos no tocante ao direcionamento da produção. A retomada do crescimento da economia brasileira entre 2010 e 2014, sobretudo do segmento da construção civil, permitiu que a indústria da madeira mantivesse suas operações, mesmo com a forte redução das exportações.
No caso do compensado de pínus, por exemplo, o mercado doméstico absorvia não mais que 20% da produção nacional até antes da crise do subprime. Pouco tempo depois, já em 2012, o mercado doméstico chegou a demandar mais da metade do volume produzido no País.
Impacto do Câmbio: A indústria da madeira brasileira manteve seu desempenho atrelado à demanda do mercado doméstico até meados de 2014. A partir de então, na contramão do cenário mundial, a economia brasileira começou a sofrer um processo de deterioração, o que desencadeou uma contínua desvalorização do real (figura 2).
Os primeiros sinais do enfraquecimento da economia brasileira observados em 2014, aliados à desvalorização do real e o gradativo reaquecimento do mercado americano, sobretudo da indústria da construção civil, permitiram uma rápida retomada das exportações pela indústria da madeira.
Madeira Serrada de Pínus: A recuperação das exportações brasileiras de madeira serrada de pínus nos últimos anos foi surpreendente, saltando de 1 milhão de m3 em 2014 para 2,3 milhões de m3 em 2017, o que, em valor, representou USD 467 milhões (figura 3).
Em que pese o aumento das exportações de madeira serrada, o preço médio em valores correntes diminuiu nos últimos anos para o mesmo patamar do período pré-“crise do subprime” (vide figura 4), o que vem na contramão do verificado em nível mundial, principalmente nos EUA e na Europa. As exportações brasileiras de madeira serrada de pínus são muito concentradas, e EUA, juntamente com México e China, respondem atualmente por 70% do total. Não menos importante é o mercado do Oriente Médio, representado principalmente pela Arábia Saudita e os Emirados Árabes.
Compensado de pínus: No caso do compensado de pínus, a retomada das exportações não foi tão vigorosa como a da madeira serrada, porém se tem mostrado bastante positiva. Em 2013, antes do início do processo de desvalorização do real, o volume de compensado de pínus exportado pelo Brasil alcançou 1,1 milhão de m3, saltando para pouco mais de 2 milhões de m3 em 2017 (figura 5). Da mesma forma que ocorreu com a madeira serrada, na medida em que o volume exportado de compensado de pínus aumentou nos últimos anos e o real se desvalorizou frente à moeda americana, o preço médio, em valores correntes, caiu significativamente, atingindo o mesmo patamar verificado há mais de 10 anos (figura 6).
O crescimento das exportações brasileiras de compensado de pínus nos últimos anos se deve à forte penetração no mercado americano e mexicano. Desde 2014, o volume de compensado de pínus importado do Brasil pelos EUA cresceu mais de 500%, enquanto, no caso do México, foi ainda maior, quase 1.000%. No mesmo período, o volume importado pela Europa aumentou apenas 3%. Mesmo assim, atualmente, a Europa representada 44% do destino das exportações brasileiras de compensado de pínus, seguido pelos EUA (30%) e o México (8%).
E a sustentabilidade das exportações? Atualmente, a exportação é a única saída para a indústria de madeira do Brasil, na medida em que as perspectivas de crescimento do mercado doméstico são pouco promissoras, pelo menos no curto prazo. Porém a performance da indústria da madeira no mercado externo não pode ficar calcada exclusivamente no câmbio.
A ampliação da participação do Brasil no mercado internacional passa, necessariamente, por uma maior competitividade, tanto da indústria da madeira propriamente dita como do País em si. No caso da indústria da madeira, a competitividade depende de investimentos para melhorar a produtividade, enquanto a competitividade do País deve estar associada a ganhos de eficiência para redução do “custo Brasil” (infraestrutura, logística, carga tributária, etc.).
A elevada concentração de mercado das exportações brasileiras de produtos de madeira é também um fator de risco e pode comprometer sua sustentabilidade. Embora a concentração de mercado proporcione vantagens, sobretudo na redução dos custos de venda, por outro lado, uma eventual crise em um determinado país importador com uma participação importante pode provocar uma redução acentuada nas exportações. No passado recente, isso já ocorreu com o Brasil, por exemplo, nos EUA.
Outro tema não menos importante, que já está afetando a sustentabilidade das exportações brasileiras de produtos de madeira, é a limitada oferta de matéria-prima (tora). Num primeiro momento, isso tem repercutido no preço e, consequentemente, na rentabilidade do negócio. Inclusive importantes regiões produtoras de matéria-prima não têm sido capazes de atender à demanda imposta pela indústria da madeira, o que gradativamente tem forçado muitos produtores a fragmentar sua capacidade de produção. Isso aumenta os custos de produção e diminui a competitividade.
A sustentabilidade das exportações da indústria de madeira não depende só dela, mas também de todos os stakeholders da cadeia produtiva e beneficiados (direta ou indiretamente) por ela. Por isso, empresas e suas entidades de classe, prestadores de serviços (armadores, transportadoras, terminais portuários, entre outros) e setor público, nas suas diferentes esferas (municipal, estadual e federal), têm que tratar com seriedade o tema, dada a perspectiva nada favorável quanto à sustentabilidade das exportações brasileiras de produtos de madeira no médio e longo prazo.