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Edson Leonardo Martini

Diretor Executivo da Komatsu

Op-CP-62

A evolução do plantio mecanizado
Segundo dados mais recentes, o setor de florestas plantadas detém 9 milhões de hectares de florestas cultivadas, gera uma receita bruta total de R$ 97,4 bilhões, representa 1,2% do PIB e emprega direta e indiretamente cerca de 3,75 milhões de brasileiros. Em 2019, o consumo de madeira de florestas plantadas para fins industriais foi de 210,3 milhões de m³.

A cadeia de valor da atividade florestal ligada às florestas plantadas é impressionante e irá se tornar ainda mais importante com o desenvolvimento da bioeconomia. A árvore e seus subprodutos podem servir de matéria-prima para a fabricação de cerca de 5 mil produtos. O histórico do setor florestal brasileiro de florestas plantadas é digno de orgulho, pois, em apenas 70 anos, saímos do nada para uma das indústrias mais competitivas do mundo.

Com grandes ganhos de produtividade e avanços sociais nos anos 1980 e 1990, começamos a andar de lado a partir de meados da década de 2000-2010.  Talvez isso tenha a ver com as indagações do Dr. Nelson Barbosa Leite, “A silvicultura e a encrenca batendo na porta”, publicadas no blog comunidadesilvicultura, no Facebook, em 03/12/2020, em que questiona a silvicultura das planilhas que não está enxergando o risco de um desastre iminente.
 
Antes de iniciar a escrever este artigo, como sempre, fui dar uma olhada naquilo que está publicado a respeito. E, aí, talvez não para minha surpresa, mas para a confirmação de uma expectativa: quando falamos em mecanização, há um abismo entre colheita e silvicultura. Isso medido em artigos e revistas disponíveis para acesso via web.

Isso me intrigou, pois não podemos dizer ou achar que não temos mecanização na silvicultura; na verdade, temos, mas, talvez, num nível de desenvolvimento mais primário do que o da colheita da madeira. Mas a verdade é que não temos quase nada na praça, publicado recentemente, sobre mecanização da silvicultura.

Como são as dificuldades que nos movem, provavelmente, o maquinário de colheita tenha evoluído mais porque as condições operacionais dos países escandinavos os levaram a procurarem soluções que tornassem a vida das pessoas um pouco melhor há 50 anos. Algo semelhante aconteceu aqui no Brasil, nos meados de 1980, quando o trabalho de um motosserrista consumia 3 Kcal por dia. Descascamento com machete e carregamento “no braço”.

Trabalho extenuante, com alto risco de acidentes. A mecanização foi inevitável. O mesmo deve acontecer com a silvicultura. É só visitar o campo e verificar as condições de trabalho. Por maior conforto que se queira proporcionar, o uso das roupas pesadas e necessárias (EPIs) sob o sol escaldante de 40 oC torna o trabalho extenuante.

Ainda pior quando são requeridas vestimentas de plástico para aplicação de produtos químicos. Enfim, temos que encontrar uma solução para isso, pois não é trabalho para se fazer manualmente. Então, quando mergulhamos na análise para as alternativas para a mecanização da silvicultura, nos deparamos com alguns dilemas: dos 9 milhões de hectares plantados de que dispomos, a maior parte se destina a processos industriais destrutivos (cavacos, polpa, carvão), onde a qualidade da tora é secundária. Isso desvaloriza o produto madeira, e, então, começamos a enxergar as restrições de custos, pois, com baixo valor agregado, o custo de produção, necessariamente, deve ser baixo.

Nesse caso, as condições de emprego no Brasil têm sido favoráveis, pois, com taxa de desemprego da ordem de 14%, só falta mão de obra em regiões de densidade populacional muito baixa. Mas, ano após ano, o custo de produção de madeira (INCAF-Ibá) vem subindo acima da inflação, o que, para os exportadores, foi compensado pela taxa de câmbio favorável. Mas, em reais, o custo de produção subiu 45% acima da inflação no período 2000-2016 e mais 15% no período 2016-2019.

Num prazo mais longo, o crescimento do País irá deslocar a mão de obra da silvicultura para atividades mais leves. Já vimos isso entre 2013 e 2014, quando a taxa de desemprego bateu em 6%. Outro fator intrigante é que, apesar de o nível de desemprego estar alto, o rendimento médio continua subindo, conforme indicam as pesquisas do IBGE sobre salários pagos.
 
Essa tendência é confirmada pelos números apresentados no Relatório Ibá 2020, em que a remuneração per capita dos funcionários com emprego direto cresceu 21,5% no período 2017-2019. O que podemos deduzir pelos dados do IBGE é que há uma evolução constante do custo de mão de obra desde meados de 2016.

Cedo ou tarde, chegará à floresta. Então, todas as tecnologias a serem apresentadas irão competir com o custo atual do plantio manual ou semimecanizado, que, em função do ambiente econômico, ainda é baixo. O mesmo ambiente econômico onera muito os equipamentos importados em virtude da taxa de câmbio. Então, se cria aí uma dicotomia que é a de se apostar ou não em tecnologias que poderão, no futuro próximo, trazer os benefícios esperados de produtividade, qualidade e controle de custos. Mesmo que, no momento, não sejam tão atrativas economicamente, poderão evitar “a encrenca batendo na porta” logo ali adiante.
 
É evidente que há uma evolução tecnológica das máquinas agrícolas, florestais ou de construção, que também são usadas nas atividades florestais. Há um aumento considerável de ICT (Information and Communications Technology) embarcada. Quase todos os fabricantes dispõem de sistemas de telemetria, que enviam informações da máquina e da operação para alguma central de controle do cliente. Assim, a operação pode ser acompanhada diuturnamente, aumentando a eficiência operacional e evitando paradas não planejadas.

Com a integração com tecnologias de posicionamento geográfico (GPS) e mapeamento digital, máquinas para o plantio podem operar em um modo automático chamado auto steering, em que o operador somente acompanha o andamento do plantio e faz as manobras de retorno, enquanto a máquina segue as linhas do sulco de solo preparado, que foram previamente mapeadas na operação de subsolagem a partir de uma mapa de alinhamento desenhado no planejamento do plantio.
 
Também é necessário dar uma olhada nas questões técnicas que envolvem uma solução para o plantio mecanizado. Dependendo das condições operacionais, os equipamentos disponíveis não poderão ser utilizados para qualquer condição devido a limitações técnicas do design, ou de potência ou dos próprios limites técnicos de operação das máquinas, como a declividade.
 
Essas são as dificuldades que terão que ser superadas e indicam que, talvez, a solução para a mecanização do plantio não seja um único modelo de máquina ou sistema, mas um conjunto que se adapte melhor a cada condição operacional. A exemplo do desenvolvimento dos sistemas de colheita, demos os primeiros passos; agora, é preciso acreditar, e seguirmos adiante, utilizando a sinergia de conhecimento entre fabricantes e clientes para que, juntos, cheguemos ao objetivo de termos um plantio mecanizado confiável e competitivo.