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Mário Sant’Anna Junior

Diretor Executivo da Gerdau Florestal

Op-CP-19

A engenharia florestal e a evolução da sociedade

Nações e sociedades desenvolvidas têm no investimento em educação a raiz do seu sucesso. Governos e líderes de diversos segmentos da sociedade têm em mente esse fator de inquestionável importância, contudo, por vezes, ignorado. O setor florestal brasileiro é um exemplo bem-sucedido e, em meio século, passou por uma transformação que colocou o Brasil no cenário internacional em condição de competitividade.

Fontes citam que o ensino florestal de nível superior começou na Alemanha, na Academia Florestal de Tharandt, em 1811. No Brasil, o curso superior de engenharia florestal foi criado em 1960, na cidade de Viçosa, em Minas Gerais, e transferido para Curitiba no final de 1963, e, hoje,  57 instituições de ensino em engenharia florestal formam profissionais para o mercado. 

Neste ano, em que se celebram 50 anos de engenharia florestal no Brasil, será impossível enumerar as imensas contribuições desse curso como um agente social do desenvolvimento dos negócios e atividades florestais. Destacam-se um consolidado parque florestal de 6,3 milhões de hectares de florestas plantadas e 6,0 milhões de hectares de florestas naturais preservadas, o surgimento de uma indústria de base florestal de ferro-gusa, celulose e papel, de serrados, de compensados e de painéis reconstituídos, resultantes de bem-sucedidas políticas públicas do passado.

O setor tornou-se referência pelo espantoso salto em produtividade florestal, no desenvolvimento das técnicas de manejo e otimizados processos de silvicultura, colheita e beneficiamento da madeira. Importante lembrar que, num passado pouco distante, o conhecimento para implantação de projetos florestais era importado; hoje, engenheiros florestais brasileiros pertencentes a universidades, instituições de pesquisas, empresas de consultorias e da iniciativa privada suprem a demanda doméstica bem como a de outros países, prova inequívoca dessa grande transformação.

Mesmo aqueles que militam no setor não imaginariam tamanho sucesso e expansão num período tão curto de tempo. Oportuno lançar um olhar mais distante ao futuro, sugerindo onde se quer estar nos próximos 50 anos. O Brasil continuará com uma formidável e ímpar diversidade de ecossistemas, condições climáticas e regimes pluviométricos, variedade das bacias hidrográficas, relevos e extensão territorial.

O mundo continuará não abrindo mão da necessidade por madeira, e será crescente a busca por novos serviços florestais, como sequestro de carbono, qualidade e disponibilidade de água e ar. O País tem potencial de se tornar um importante fornecedor de produtos de origem florestal, para tanto necessitará superar-se em manejar florestas nativas e plantadas, manter e preservar florestas e ecossistemas de maneira sustentável, atendendo às mais rígidas demandas, tanto nos aspectos econômicos, quanto  sociais e ambientais. 

A evolução do setor florestal brasileiro estará baseada na inovação, criatividade e na governança, para continuar competitivo na arena nacional e internacional. Deverá estar ciente do maior convívio com uma sociedade mais complexa, mutante em credos, valores, padrões culturais, padrões religiosos e que clama por mudanças.

E esses fatores deverão estar presentes nas mentes dos engenheiros florestais e de suas universidades. Nesse ambiente, os esforços em explorar os limites de sustentabilidade das plantações florestais de rápido crescimento continuarão sendo priorizados, notadamente através de plantios também em pequenas e médias propriedades rurais.

Da mesma forma, a busca de um novo patamar de produtividade florestal e industrial, através da modernização dos processos e inserção de novos materiais genéticos que estão por vir. Por fim, discorridos esses pontos, salvo críticas mais apuradas, são temas de amplo domínio dos engenheiros florestais, contudo não são, a rigor, de conhecimento da sociedade.

Com raras exceções, a representatividade institucional não foi o ponto marcante do setor, ficou, por períodos da história recente, sem interlocução ativa e alijada de uma política nacional. Sua inclusão como parte do ambiente social e atuante na fundamentação de políticas públicas de incentivo à produção florestal sustentável, aplicação de esforços no fortalecimento das relações institucionais, universidades, organizações, associações e órgãos governamentais deverão demandar ainda muitos esforços e tempo. O aperfeiçoamento da educação e da informação foram propulsores desses primeiros 50 anos e serão também os fundamentos para a inteligência competitiva para o futuro.