Gerente de P & D Industrial na Irani Papel e Embalagem
OpCP65
Uma das principais e mais discutidas características da madeira é a densidade, utilizada como parâmetro de controle, independentemente do setor. A literatura a define de forma simples: relação entre massa e volume. No entanto, o que observamos é uma importância ao longo da cadeia produtiva muito maior do que sua simples definição.
Diversos fatores podem influenciar no desenvolvimento da densidade, causando impactos nos processos relacionados à produtividade, qualidade e custos. Como exemplos, temos a espécie da árvore, o manejo utilizado durante seu cultivo e a idade de corte.
Quando utilizada para produção de celulose e papel, a madeira precisa atender a uma série de requisitos, de acordo com o produto final desejado. Muitas vezes, isso significa justamente o uso de uma madeira com maior densidade, visando obter, além de uma maior produtividade, fibras mais resistentes e em condições de serem trabalhadas mecanicamente durante o processo de refinação.
Madeiras mais densas dentro de uma mesma espécie e idade remetem a fibras mais robustas, com paredes mais espessas e lúmens com diâmetros menores, oriundas de períodos e fases específicas de crescimento das árvores ou de fatores relacionados ao clima, manejo ou outras intempéries.
Considerando que nessas condições temos fibras mais “fortes” e indicadas para papéis que precisam de uma resistência específica, como o rasgo, por exemplo, é natural buscarmos cada vez mais esse tipo de matéria-prima durante a produção de celulose, pois, além de resistência, também teremos um maior rendimento, com mais madeira para um mesmo volume nos digestores, obtendo aumento de produtividade durante o processo de cozimento.
Por outro lado, quando a especificação principal de um papel não depende de fibras tão robustas, as condições citadas acima acabam agindo como um fator negativo e sendo um limitante para o ganho de rendimento.
O uso de madeiras mais densas, nesse caso, faz com que essa sua característica compita com a real necessidade do produto final.
Além das questões já citadas, temos também o limitante custo, uma vez que a porção mais densa da árvore geralmente está localizada em sua base, onde o diâmetro é maior e também apresenta maiores proporções de madeira adulta. Essas características acabam sendo um atrativo para a comercialização da madeira como material sólido, em forma de toretes, que, na maioria das vezes, traz uma geração de receita maior.
Considerando que a densidade tem impacto tanto nas características do produto final como no processo produtivo, conhecer e monitorar a qualidade da madeira antes de ser processada se torna um fator preponderante para prevenir variações ou possibilitar ajustes no decorrer de sua fabricação.
Dessa forma, evitam-se perdas e consequente aumento dos custos. Em situações em que mais de um tipo de produto é fabricado, até mesmo trocas de fabricação antecipadas podem ser realizadas para evitar perdas desnecessárias. Para fazer esse monitoramento, é indicado fazer coletas de amostras representativas na floresta previamente ao período de corte e realizar análises em laboratórios específicos para obter as informações necessárias para a fábrica segregar e usar essa madeira, de forma a reduzir os impactos nos processos subsequentes.
Ensaios correlacionando valores de densidade com as principais especificações do produto final também são ferramentas importantes, já que permitem esse ajuste na receita de madeira e possibilitam descobrir qual seria a madeira ideal para o produto que está sendo fabricado. Estruturar um laboratório para determinação da densidade dentro da fábrica também é uma ótima alternativa, uma vez que os equipamentos necessários são relativamente simples, e, geralmente, já existe um local destinado a análises diversas dentro das empresas.
De forma geral, é preciso conhecer a fundo as principais características e especificações do produto final que são impactadas pela densidade, além de monitorar a madeira antes de ela ser processada e consumida e ajustar as condições de fabricação para contornar os desvios. Essas são algumas das diretrizes importantes que podem ser adotadas para um processo produtivo rentável.