Estima-se que o consumo mundial de madeira atual seja de, aproximadamente, 3 bilhões de m3 por ano. Com a população global prevista para crescer dos atuais 7 para 9 bilhões até 2050, essa demanda deverá atingir 10 bilhões de m3, de acordo com projeção do WWF. Dos dias atuais até 2050, somam-se 35 anos, período relativo a apenas cinco rotações de plantio de eucalipto no Brasil ou um ciclo de pinus no norte da Europa.
Ou seja, a sociedade terá que enfrentar o desafio de produzir volume significativamente maior de madeira nesse curto período de tempo. Como, então, abastecer a humanidade diante desse aumento expressivo de demanda por fibra? Essa pergunta deveria inquietar os produtores, os ambientalistas e a sociedade em geral. Podemos imaginar ao menos três maneiras de atender a essa demanda. A primeira, aumentando a pressão sobre as florestas nativas.
Solução inaceitável, pois está na contramão de todos os esforços de conservação dos recursos naturais. A segunda, aumentando a área dos plantios florestais simultaneamente a ganhos incrementais de produtividade. Certamente melhor que a primeira opção, embora ainda requeira disponibilidade de terras. A terceira, aumentando de forma mais intensiva a produção de madeira por área, ou seja, otimizando o uso dos recursos naturais. Esta última, que representa produzir mais com menos, parece ser a saída mais viável e desejada pela sociedade.
Atualmente, cerca de 50% da madeira consumida no mundo é proveniente de plantios florestais. Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), esse volume representa uma área de, aproximadamente, 264 milhões de hectares, o que equivale a apenas 7% da cobertura florestal do planeta. Para atender a essa expectativa de demanda futura, será preciso aumentar essa área em adicionais 250 milhões de hectares. Tecnologias que aumentem a produtividade podem diminuir essa necessidade por mais área.
O aumento da produtividade florestal é uma alavanca que remunera o produtor florestal, aumenta a competitividade do setor e reduz a pressão por mais terras. No setor agrícola, as motivações que levam à adoção de novas tecnologias são as mesmas. O produtor sabe que produzir mais com menos é uma questão de sobrevivência. Daí a adoção rápida de inovação tecnológica por parte do agricultor, com destaque para o uso de cultivares geneticamente modificadas.
Em 2004, a área plantada com Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) no Brasil totalizava 4 milhões de hectares. Hoje, essa área supera os 42 milhões. Na esfera global, a área plantada com essas culturas saltou de 63 milhões para 175 milhões de hectares nesses mesmos dez anos. Por que um aumento tão expressivo? Certamente, porque o agricultor consegue perceber no dia a dia as vantagens em se adotar plantios com essa tecnologia.
Estudos recentes da Universidade alemã de Goettingen, envolvendo produtores rurais em diferentes países, demonstram que a adoção de plantas Geneticamente Modificadas (GM) trouxe 37% de redução no consumo de pesticidas, 22% de aumento da produtividade e 68% de aumento de lucro para os agricultores. Uma tecnologia que se prova tão eficiente só não poderia ser disponibilizada se houvesse algum impedimento legal ou se não atendesse aos critérios de biossegurança ao ambiente, animais e pessoas.
No Brasil, esses critérios são regulados pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), órgão formado por cientistas renomados, das mais diversas áreas, que avaliam e, quando devidamente seguros, aprovam o uso dos OGM (plantas, animais, microrganismos e vacinas) no País, fazendo do sistema regulatório brasileiro referência mundial. Em abril de 2015, a CTNBio aprovou o uso comercial da variedade de eucalipto geneticamente modificado, que tem como característica o aumento de produtividade.
A tecnologia, desenvolvida pela FuturaGene, empresa de biotecnologia da Suzano Papel e Celulose, é pioneira no mundo e resultado de 14 anos de pesquisa e desenvolvimento. Trata-se de um clone híbrido de E.grandis x E.urophylla que recebeu, por meio da tecnologia do DNA recombinante, um gene vegetal que promove maior crescimento de biomassa. Esse gene, denominado CEL1, age na parede celular das árvores durante as fases de expansão e alongamento da célula vegetal.
Experimentos de campo plantados em diversas regiões do País, desde 2006, demonstram que esse eucalipto produz cerca de 20% a mais de madeira em comparação ao clone original não transformado. A proteína CEL1 está presente em diversas plantas, inclusive naquelas empregadas como alimento, como frutas e legumes, arroz, milho, soja e feijão, por exemplo. Em suma, o eucalipto geneticamente modificado com aumento de produtividade apresenta uma cópia funcional para a expressão dessa proteína, o que lhe confere maior crescimento.
A segurança no uso desse eucalipto foi comprovada nos diversos estudos apresentados à CTNBio, como estudos com pólen, mel e abelhas melíferas e nativas, análises de solo, de microrganismos e de artrópodes, fluxo gênico e avaliações toxicológicas, entre tantos outros. Os membros da CTNBio avaliaram os resultados e concluíram que esse eucalipto é seguro para o meio ambiente e para a saúde humana e animal. Daí aprovarem a liberação para o uso comercial.
Do ponto de vista de biossegurança, esse eucalipto é equivalente ao clone convencional que lhe deu origem. A única diferença é que a variedade geneticamente modificada produz maior volume de madeira por área. Diversos outros genes relacionados ao crescimento de árvores estão sendo estudados por empresas e instituições de pesquisa no Brasil e em todo o mundo. Alguns desses genes, a exemplo do CEL1, chegarão ao mercado, aumentando ainda mais a “caixa de ferramentas” do produtor florestal que deseje aumentar seus rendimentos de forma segura.
Além da plataforma com foco em aumento de produtividade, a FuturaGene também desenvolve pesquisas visando à obtenção de tecnologias que protejam os plantios, como o eucalipto tolerante a pragas ou a doenças. A empresa trabalha com os principais insetos que causam danos ao eucalipto, como formigas, lagartas, percevejo bronzeado, vespa da galha, entre outros. Os produtores de eucalipto conhecem bem essas pragas e sabem o potencial destruidor que elas representam.
O eucalipto do futuro, portanto, não será apenas mais produtivo. Será também mais tolerante a pragas, conferindo ao produtor economia no manejo e benefícios ao meio ambiente, ao evitar o uso de agroquímicos para garantir sua produção. O aumento de até 68% de rendimento para o agricultor que adota culturas GM é resultante de apenas duas características aprovadas para uso até o momento: tolerância a herbicidas e resistência a insetos. Fica, então, uma reflexão aos silvicultores: “por que não abrir espaço para uma tecnologia que possibilita aumento expressivo na produtividade e, consequentemente, em seu rendimento?”
Os benefícios da biotecnologia seriam exclusividade da agricultura? Certamente, não. Quando variedades de eucalipto geneticamente modificados estiverem disponíveis para o silvicultor, ele poderá escolher qual caminho seguir. A diferença entre a adoção da biotecnologia em culturas anuais e no eucalipto é que ela acontece de forma lenta e gradual no setor florestal devido ao longo ciclo de vida das árvores, que requer mais tempo para a introdução das características e teste da performance em clones adaptados a diferentes regiões.
A transformação genética de plantas abre novas possibilidades para o produtor, sendo um recurso adicional ao melhoramento tradicional, focado na seleção de bons genótipos e posterior cruzamento entre eles. A biotecnologia sempre usará cultivares com alto nível de melhoramento como plataforma de trabalho. Para se alcançar os ganhos de produtividade necessários para atender à demanda futura por madeira, será necessário investimento contínuo em desenvolvimento tecnológico e inovação científica. Nesse cenário, a modificação genética será, cada vez mais, uma ferramenta para inserir, nas culturas agrícolas e florestais, genes com características que tragam benefícios para a sociedade, de forma segura e sustentável.