Nos últimos anos, a agricultura e a silvicultura têm presenciado uma ampliação progressiva no uso de bioinsumos e de ativos derivados de produtos naturais como alternativas, totais ou parciais, aos insumos químicos convencionais. Esse movimento não deriva apenas de mudanças regulatórias ou de pressões sociais, mas de uma transformação mais ampla nos processos produtivos, que passam a integrar novas rotas tecnológicas para aumentar a eficiência, reduzir custos ambientais e ampliar a previsibilidade operacional.
A transição para sistemas produtivos sustentáveis tem acontecido em ritmo variado a depender do segmento, mas podemos entendê-la como um caminho apenas de ida, dada a possibilidade de trabalhar de forma mais responsável ambientalmente, mas, principalmente, pelo cenário de aumento da rentabilidade dos atores envolvidos no processo.
No caso específico do setor florestal, historicamente pautado por eficiência, escalabilidade e controle operacional, não somente essas tecnologias, mas outras tantas que estão sendo introduzidas, têm propiciado um período em que a inovação deixa de ser apenas desejável para se tornar moral e economicamente incontornável. É no ponto de inflexão descrito acima que entram os bioinsumos e os novos ativos naturais.
No setor, a busca por soluções mais sustentáveis coincide com demandas técnicas muito claras: necessidade de reduzir custos relacionados ao controle de pragas, doenças e plantas daninhas; exigências crescentes por rastreabilidade e indicadores ambientais; e a busca por novos mecanismos de ação que minimizem riscos de resistência ou perda de eficiência de moléculas tradicionais. Nesse cenário, programas biológicos surgem como complementos aos sistemas químicos, e não como substitutos imediatos.
Biofábrica do futuro para produção de insumos biológicos e naturais e
tratamento direto das estruturas vegetativas em modelos biotecológicos.

Por definição, os bioinsumos podem ser entendidos como produtos, processos ou tecnologias de base biológica, obtidos a partir de organismos vivos (micro ou macroorganismos), seus metabólitos, extratos, compostos bioativos ou materiais genéticos, empregados, principalmente, na produção agrícola e florestal e aquícola com a finalidades diversas que vão desde o crescimento vegetal até o controle de pragas e doenças.
No Brasil, a definição é estruturada pelo PNPB – Programa Nacional de Bioinsumos do MAPA e incorpora tanto produtos industrializados quanto on farm e incluem grupos técnicos como biofertilizantes e inoculantes, biocontroladores (bioinseticidas e biofungicidas, por exemplo), bioestimulantes e indutores de defesa, corretivos e condicionadores de solo de base biológica, RNAi bioindutores, endófitos aplicados como consórcios microbianos complexos e, mais recentemente, nanobioprodutos de origem biológica. Já os ativos naturais isolados constituem moléculas específicas, extraídas de organismos vivos, e que apresentam ação definida, maior estabilidade e melhor previsibilidade do que extratos brutos. Ambos têm sido considerados alternativas viáveis para reduzir o emprego de moléculas sintéticas e ampliar a diversidade de mecanismos de controle.
As opções de bioprodutos são vastas e têm crescido a cada instante uma vez que a descoberta de um organismo (ou estrutura deste), por exemplo, e/ou de sua capacidade para uso agrícola e florestal é contínua, o que aumenta a oferta e a possibilidade de adoção da tecnologia. Em que pese o aumento do interesse por soluções biológicas, a utilização desses produtos, no entanto, ainda demanda rigor técnico.
A adoção de bioinsumos requer entendimento aprofundado sobre formulação, estabilidade, interação com fatores ambientais e mecanismos de ação. Assim como ocorreu com a Inteligência Artificial no setor florestal, descrita em artigo anterior escrito igualmente por este autor, a incorporação de bioinsumos exige maturidade científico-operacional e a superação de problemas ordinários do manejo, sob pena de restringir sua eficácia prática.
Inseto submetido a um processo de infecção fúngica
letal típica do controle biológico microbiano.

Dentre os desafios para a adoção dos bioinsumos e dos produtos naturais, a instabilidade e sensibilidade dos organismos e compostos são os mais relevantes. Por serem altamente sensíveis à temperatura, luminosidade, umidade e condições edáficas, as formulações precisam assegurar maior vida útil, compatibilidades em tanque, menor sensibilidade ao pH e à dureza da água etc. – todos esses fatores comprometem a eficiência operacional em larga escala.
O desenvolvimento de ativos naturais de alta pureza tem buscado contornar parte desses desafios. Ao isolarem moléculas específicas, pesquisadores têm ampliado a previsibilidade de ação e a compatibilidade operacional. No entanto, tais tecnologias ainda dependem de investimentos robustos em escalabilidade industrial, validação multiambiental e modelagem de desempenho.
Em termos práticos, o setor florestal já utiliza bioinsumos em diferentes etapas do ciclo produtivo. Na fitossanidade, fungos antagonistas, bactérias promotoras de resistência e metabólitos antifúngicos têm sido empregados em conjunto com métodos convencionais. No campo da nutrição e fisiologia, bioestimulantes, peptídeos e compostos orgânicos têm ampliado o vigor inicial das plantas, especialmente em viveiros. No campo do manejo das plantas daninhas, é onde temos ainda o maior gargalo; mesmo com o surgimento tímido de bio-herbicidas e inibidores de germinação, as ferramentas são complexas e de baixa eficácia.
A integração dessas práticas com sistemas de aplicação mais precisos – incluindo drones, sensores ópticos e plataformas digitais – reforça a tendência de programas híbridos de manejo.
As perspectivas futuras indicam uma consolidação gradual dessa rota tecnológica. Biofábricas de nova geração, capazes de padronizar a produção com maior pureza e estabilidade, devem impulsionar o mercado. Modelos preditivos baseados em dados históricos e em séries temporais poderão auxiliar na definição das melhores janelas de aplicação. Ativos naturais isolados tendem a ampliar a previsibilidade de ação, reduzindo a variabilidade associada a extratos complexos. Por fim, sistemas múltiplos de controle – combinando agentes biológicos, ativos naturais e moléculas sintéticas – continuarão a ser a base operacional nos curto e médio prazos.
A evolução desses produtos no setor florestal seguirá condicionada à superação de limitações técnicas essenciais: padronização, escalabilidade, estabilidade e reprodutibilidade dos resultados. Assim como em outras inovações recentes, a efetividade dos bioinsumos será tanto maior quanto mais resolvidos estiverem os problemas básicos do sistema produtivo, incluindo preparo adequado de áreas, controle inicial eficaz e precisão operacional.
Bioinsumos e ativos naturais não representam uma ruptura imediata, mas uma transição ordenada e baseada na combinação entre ciência, tecnologia e manejo. À medida que o setor avança em processos de validação, integração operacional e melhoria contínua, essas tecnologias tendem a ocupar espaço relevante como ferramentas complementares no manejo florestal moderno.