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Paulo Henrique Müller da Silva

Pesquisador da Ipef

OP-CP-34

Adequação do material genético

Um plantio florestal saudável resulta em uma floresta com alta produtividade. A classificação “alta produtividade” varia de local para local, podendo ser alta com 30 m3ha-1ano-1 em condições não favoráveis, ou 60 m3ha-1ano-1 em condições mais favoráveis, de acordo com a capacidade de produção do local que é relacionada às condições de solo, de clima, de disponibilidade hídrica, etc.

Existem diversos fatores bióticos e abióticos que influenciam negativamente na saúde da floresta, sendo que alguns desses fatores podem ser minimizados com o correto manejo da floresta.

Para obter a floresta saudável, são necessários diversos cuidados, que começam no zoneamento da propriedade, na escolha do genótipo, na qualidade das mudas, no preparo de solo, no plantio, na aplicação correta dos insumos, no monitoramento das pragas e doenças, na manutenção da floresta já formada, sendo que a escolha do material genético (genótipo) é de extrema importância.

Atualmente, no Brasil, existe boa disponibilidade de genótipos, principalmente de espécies dos gêneros Eucalyptus, Corymbia e Pinus, que podem ser obtidos via sementes melhoradas de diversas procedências e origens. Para algumas espécies, existe a disponibilidade de clones que apresentam plasticidade e podem ser utilizados em diferentes regiões. Provavelmente, em curto/médio prazo, também estarão disponíveis clones geneticamente transformados.

Ainda existe uma “batalha” para liberação da transformação genética em clones de eucalipto para uso comercial no País. De um lado, os defensores, que acreditam no aumento da produtividade com menor tempo para a obtenção dos genótipos comerciais; e do outro lado, os opositores da utilização dessa ferramenta na silvicultura brasileira, por acreditarem que os organismos transformados são uma ameaça ambiental.

Essa batalha tem questões ideológicas e outras que necessitam de estudos mais aprofundados para o correto posicionamento sobre as liberações ou as restrições. Somente após, a tecnologia poderá ser disponibilizada.

A maior batalha dos transgênicos será provar que a relação custo/benefício justifica sua utilização, pois ainda é possível obter ganhos significativos de produtividade trabalhando no melhoramento clássico, como avanço das gerações, hibridação interespecífica entre diversas espécies, entre outras possibilidades.

A transformação genética deverá entrar como uma ferramenta adicional no programa de melhoramento florestal, de forma sinérgica com os trabalhos tradicionais, de modo que a conservação do germoplasma, os avanços das gerações de melhoramento e a transformação genética deverão ser realizados simultaneamente, para a obtenção dos genótipos mais aptos e a manutenção de um nível de segurança a longo prazo diante dos desafios da silvicultura.

Algumas das novas tecnologias demandam tempo para superarem a fase de desconfiança e serem implementadas em escala comercial no setor florestal brasileiro. Um exemplo é a clonagem, uma ferramenta da biotecnologia: foram necessários anos de trabalho para se chegar aos protocolos que viabilizassem comercialmente a produção de mudas de eucalipto.

Atualmente, a clonagem de eucaliptos é uma técnica amplamente difundida e disponível para pequenos e grandes produtores florestais. Independente do nível tecnológico ou da ferramenta que será utilizada, são necessários investimentos e anos de trabalho para a obtenção do material genético, pois as fases de formação da população de melhoramento, seleção inicial, cruzamento/transformação, produção das mudas, implantação de experimentos, avaliação, obtenção dos clones/eventos e avaliação em plantio piloto são fundamentais na obtenção dos genótipos adequados.

Também é necessário ampliar o conhecimento sobre os genótipos e as interações com o ambiente, sendo que os conhecimentos devem ser amplos, considerando aspectos ecológicos, fisiológicos, moleculares, entre outros, para permitir a seleção de maneira mais rápida e não empírica.

A seleção do genótipo deve ser dinâmica, e ampliar o leque de opções é uma das maneiras de se estar preparado para manter a saúde da floresta, já que o setor tem diversos desafios:

1. diferenças edafoclimáticas entre as regiões;
2. mudanças climáticas que podem gerar mais frequentemente os eventos extremos de seca ou mesmos de excesso de água;
3. aumento significativo na ocorrência de pragas e doenças ao longo dos últimos anos;
4. expansão do setor florestal em regiões não tradicionais; e
5. necessidade de aumentar a produtividade para justificar o investimento cada vez maior na implantação e condução das florestas.

Esses desafios fazem com que essa procura do genótipo adequado seja contínua, e, quanto maior o número de opções disponíveis, maiores as possibilidades de se obter o material adequado e de se estar preparado para uma mudança brusca frente aos desafios. Imaginar que o material com maior nível tecnológico seja sempre melhor é um engano, pois, possivelmente, quanto mais trabalhado o genótipo, mais específico para condições de seleção e uso.

O material mais rústico pode apresentar boa produtividade e boa resiliência também, sendo que, para algumas condições, ele é o mais adequado. Basta lembrar que alguns clones comerciais e difundidos no Brasil são “híbridos” espontâneos e/ou obtidos em seleção massal.

O que é possível afirmar é que avançamos muito na silvicultura brasileira em relação à escolha do material, mas ainda temos muito trabalho, mesmo com mais de um século de seleção de genótipos no setor florestal brasileiro.