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Anderson Lins Machado e Victor Augusto Soares Bertin

Diretor Florestal e Gerente de Planejamento Florestal, respectivamente, ambos da Dexco

OpCP76

Acho que está faltando madeira! Temos madeira para todo mundo?
O consumo de madeira para fins industriais no Brasil cresceu, em média, 3% ao ano na última década, conforme as divulgações da Ibá (Indústria Brasileira de Árvores). Em 2019, esse crescimento foi ainda mais expressivo, atingindo o pico de 15%, o que começou a refletir diretamente no preço da madeira em pé. Com a perspectiva de maiores investimentos e expansões das capacidades fabris, é natural esperarmos um aumento ainda maior na demanda por madeira. Assim, surge a pergunta: o setor florestal no país está preparado para atender a essa demanda?
 
Pouco após a pandemia, vivenciamos a primeira fase de investimentos das empresas do setor de celulose e papel, e tivemos ainda a boa surpresa da maior utilização da madeira como fonte de energia para biomassa. 
 
Ambas as tendências seguem o aumento de demanda projetado pela FAO, de 37% até 2050, e o nosso país está se destacando como grande canteiro de obras de novos investimentos do setor florestal.

Em 2022, a empresa Malinovski realizou um levantamento dos investimentos até 2028, projetando uma necessidade de madeira de aproximadamente 30 milhões de m³ por ano, o que demandaria uma área plantada adicional de 950 mil hectares.

Em abril deste ano, recebemos com alegria as notícias de novos investimentos dos nossos colegas de grandes empresas florestais do Rio Grande do Sul a Minas Gerais, que somam cifras na ordem de 100 bilhões de reais. E essas notícias nos levam a pensar: estamos entrando na segunda fase de investimentos no setor ou será apenas a continuação da fase anterior?

Para entender melhor o cenário atual, nosso time resolveu ampliar as projeções para esse momento. Os novos investimentos chegam com novas necessidades de produção de aproximadamente 30 milhões de m³ ao ano, com inícios de produção em anos variados, que, quando somados aos levantados pela Malinovski, totalizam 1,9 milhões de hectares.

Nessa nova projeção, é importante considerar o tempo de cultivo das árvores. Diferentemente do período entre o anúncio da construção de uma nova fábrica e o início das suas operações, que leva em torno de dois a três anos, empreendimentos florestais requerem um horizonte mais longo, pois dependem do cultivo do eucalipto, que levará de seis a sete anos. Mas a estratégia de antecipação do cultivo das florestas não tem ocorrido. Na maioria das vezes, quando acontece o anúncio de um novo investimento industrial, os players do setor florestal correm em um ritmo alucinado para ampliarem a sua base florestal. 

Outro ponto a ser levado em consideração é a localização dessas unidades industriais e florestais e a capacitação profissional. O setor avança para regiões menos produtivas e, o mais preocupante, sem ampliar a formação de profissionais capacitados e engajados no mesmo ritmo dos projetos industriais. Talvez tenha faltado investimento de parte desses bilhões na formação dos atuais e futuros profissionais que irão assegurar essa nova base florestal do presente, avançando para o futuro.

Mas, o que nos leva a afirmar que estamos passando por uma fase de déficit de madeira? Vamos olhar para o passado para projetar o futuro. Por muito tempo, tivemos certa estabilidade no setor e naquele período a indústria de base florestal trabalhou abaixo da capacidade total, momento em que tivemos grandes excedentes de florestas.

O período é lembrado também pela estabilidade no preço da madeira (a 40 R$/m³), onde ocorreram muitos movimentos de venda da terra para reduzir o imobilizado e comprar madeira no mercado. Além disso, algumas empresas florestais reduziram o investimento em floresta (manejo), o que resultou na queda de produtividade.

Embora a produtividade deva estar alinhada aos níveis de crescimento das expansões, observamos o comportamento oposto. Paramos no tempo, permanecendo no mesmo patamar a uma taxa média de 0 a 1% ao ano, influenciada pelos impactos das baixas precipitações (quando comparamos com a normal climatológica), variações em temperaturas e expansão para áreas em que não se tinha tanto conhecimento sobre o comportamento dos materiais genéticos.

Curiosamente, nesta nova melodia dos dias atuais, todas as notas de expansão foram tocadas juntas: vemos expansões e novas fábricas, com a indústria trabalhando mais próxima ao full capacity e novas teclas sendo pressionadas como o aumento de biomassa para energia. Concluímos que este novo acorde se transformou em um descompasso entre oferta e demanda. E que isso já se refletiu no crescente preço de madeira e na corrida por áreas mais próximas às indústrias (a famosa redução do raio médio). 

Além disso, quando falamos de um suprimento de madeira consistente, cada empresa toma uma estratégia diferente. Na Dexco, por exemplo, adotamos uma abordagem mais conservadora, buscando garantir a autossuficiência. Sempre fizemos investimentos em florestas pensando no longo prazo.

Realizamos alguns movimentos de venda ao mercado, quando temos oportunidades e excedentes, mas sempre com a segurança e o cuidado com o futuro. Nesse jogo complexo, não existe certo ou errado nem respostas definitivas, apenas decisões importantes que precisam ser tomadas, administrando suas consequências.

Por fim, concluímos que, considerando a falta de sincronia entre projetos industriais e os ciclos de produção florestal, não conseguimos antecipar a convergência de todos os movimentos do mercado, e que não observamos com o preço da madeira o mesmo comportamento de outras culturas como o gado e a soja, que retornaram a patamares pré-pandemia. 

Fica evidente que a equação atual não está balanceada. Acreditamos que o suprimento de madeira já está em colapso e que nos próximos dois a três anos enfrentaremos uma crise ainda mais forte. A intensidade dessa crise está totalmente relacionada com a demanda de celulose no mercado, podendo permanecer no patamar atual ou se agravar ainda mais se o seu preço continuar subindo como está acontecendo neste ano. Porém, esses novos patamares de preço valorizam o setor florestal, as pessoas que nele trabalham, nossos produtores, fornecedores e parceiros, o que nos deixa mais competitivos com relação a outras culturas. 

O consenso é claro: o momento de plantar é agora. Ou deveria ter sido ontem?
2025 e 2026 nos darão uma pista!