Professor de Colheita e Transporte Florestal na Esalq
Op-CP-03
Existe um consenso de que o grande impulso para a intensificação do processo de mecanização da colheita florestal no Brasil ocorreu quando da abertura do mercado para a importação de máquinas, no começo da década de 90. Hoje, o setor florestal brasileiro tem, à sua disposição, os avanços tecnológicos propiciados pelos grandes fabricantes mundiais de máquinas e equipamentos, restando alguns entraves quanto aos custos de importação e à possibilidade da tomada de empréstimos para aquisição de máquinas pelos prestadores de serviços.
A integração dos sistemas de colheita com a Silvicultura continua como desafio a ser enfrentado, envolvendo espaçamentos de plantio, a intensidade de aproveitamento da biomassa florestal, tamanho da área de corte e os impactos no meio ambiente. O conceito atual de unidade de manejo compreende a área abrangida por uma microbacia, existindo estudos que estabelecem o corte máximo de 50% da sua cobertura florestal, como limite para a manutenção da sua “saúde” hidrológica, independentemente de ser corte contínuo, ou em mosaico.
Diversas pesquisas abordam a questão da compactação do solo, em função do tráfego das máquinas, o uso de óleos lubrificantes biodegradáveis, a reciclagem das partes componentes e a emissão de gases durante a fase operacional. No ciclo de vida de um harvester ou forwarder são geradas, em média, cerca de 450 toneladas de gás carbônico e 4,5 toneladas de óxido de nitrogênio, sendo esta última emissão a mais significativa, em termos de impacto ambiental.
A adequação da rede viária é outro passo muito importante para a manutenção da sustentabilidade florestal, por ser o principal elemento causador de distúrbios no ecossistema. O maior aproveitamento da biomassa florestal, motivado pela necessidade do aumento da produtividade ou produção de energia, irá requerer um maior cuidado, devido ao incremento na exportação de nutrientes e matéria orgânica.
A título ilustrativo, um trabalho desenvolvido pela Esalq concluiu que a utilização da casca de eucalipto para queima em caldeira é favorável energeticamente, pois há um saldo equivalente de 4.800 litros de óleo diesel, em 12 t de casca colhida, por hectare de floresta. Ao mesmo tempo, foram exportados, através da casca, cerca de 450 kg de cálcio e 45 kg de nitrogênio por hectare.
Quais as variáveis a serem consideradas para a tomada de decisão? O uso de galhos e folhas para produção de energia ainda não é viável economicamente, podendo ser estimulado por políticas e incentivos para substituição da queima de combustíveis fósseis e redução da emissão de gases de efeito estufa. Outro ponto envolve os presta-dores de serviços, com a responsabilidade de abastecer as fábricas com madeira.
Levantamento recente, em nove empresas florestais de grande porte, detectou que do total de 27,4 milhões de m3 consumidos anualmente, 54% (14,8 milhões de m3) foram colhidos por terceiros, ressaltando a importância de se contar com parceiros comprometidos com a qualidade das operações e a garantia de entrega de madeira na fábrica.
Apoio para obtenção de financiamentos, oferecimento de assessoria técnica, possibilidades de treinamento conjunto, pagamento de preços condizentes com o maquinário empregado e a assinatura de contratos com prazo mais longo são condições imprescindíveis para que o prestador de serviços arrisque-se em investimentos e novos maquinários.
Em uma pesquisa recente sobre terceirização, encontrou-se um harvester novo parado, justificando-se o fato por ser antieconômica a sua utilização em função do baixo preço pago pela contratante. Buscamos parceiros confiáveis, satisfeitos e permanentes, para colherem mais da metade da madeira que a empresa necessita, ou a sua substituição é uma prática exeqüível e sem grandes transtornos?
A expansão do setor florestal aumentou também a demanda por operadores de máquinas capacitados. Somente em 2005 registrou-se o plantio de 500.000 hectares de florestas, o que implica na aquisição de máquinas e na busca por mão-de-obra qualificada. Há um número muito pequeno de centros de treinamento específicos para a área florestal no Brasil e as perspectivas são de que essa demanda continuará. Como formá-los? Como avaliar o treinamento?
Ao mesmo tempo, são necessários estudos relativos à adaptação do sistema de trabalho ao indivíduo, das condições ergonômicas das máquinas utilizadas na colheita, os turnos de trabalho, as formas de pagamento e demais incentivos e o impacto da mecanização sobre a saúde e o bem-estar dos operadores. Não menos importante é a renovação da frota de caminhões no Brasil, com idade média de 18 anos, segundo dados da Coppead/CNT, principal modal responsável pelo transporte de madeira em nosso país, assim como da melhoria da nossa rede viária, atualmente em péssimo estado de conservação.
A operação deve continuar sendo atrativa economicamente, pois nela a utilização de terceiros é ainda maior do que nas outras etapas de colheita, além disto, a existência de baixos estoques de madeira nas fábricas exige de todo o sistema uma maior eficiência e pontualidade no abastecimento. Finalmente, destaca-se a expansão da área florestal em pequenas propriedades, aqui se considerando plantios em uma escala muito menor do que aqueles das empresas florestais.
Parte da madeira nelas produzida será absorvida por empresas, sendo um estoque estratégico e favorável economicamente para todos os envolvidos. Contudo, ainda existe um bom espaço para o desenvolvimento de sistemas de colheita específicos para essas áreas menores e descontínuas. Deveremos nos orientar na busca de soluções de máquinas e equipamentos de menor porte, que gerem maiores ganhos para os produtores rurais e interesse na aquisição dessa madeira, pelas empresas florestais.