Presidente da Veracel Celulose
Op-CP-17
A crise financeira que balançou o mundo encontrou um Brasil diferente. É verdade. Até porque o setor de celulose também contribuiu para que o país se tornasse menos vulnerável às intempéries econômicas do que já foi no passado. A crise pode até estar de saída, mas o cenário ainda é restritivo. Além disso, nesse episódio, há importantes ensinamentos que apontam oportunidades de melhoria desafiadoras, tanto para a iniciativa privada quanto para o governo. Quais são os alicerces desse setor no Brasil? Como isso contribui para a resistência e a superação desse negócio em momentos de crise?
O setor de celulose brasileiro é um caso de sucesso das políticas públicas de longo prazo, que vislumbraram não só um forte elemento para equilibrar a balança comercial, mas também uma fórmula de levar o impacto socioambiental e econômico gerado pelo negócio às localidades nas quais estão sediadas suas empresas, para criar uma cadeia produtiva capaz de transformar positivamente a realidade da região onde atuam.
Desde o Plano de Metas de Juscelino Kubitschek, na década de 50, o setor sempre fez parte das pautas estratégicas do governo federal. Assim, sempre gerou resultados que justificassem esse cuidado. Êxito completo não é, pois há um longo caminho a ser trilhado, mas vale um destaque: quantos empreendimentos podem ostentar a ousada relação de 30 milhões de toneladas de dióxido de carbono (tCO2) de estoque para 300 mil tCO2 de emissões (base 2007) em suas operações?
E esse dado se refere apenas à Veracel, alinhado ao Documento de Posicionamento sobre as Negociações de Mudanças Climáticas e Ações do Governo Brasileiro (Aliança Brasileira pelo Clima – Setembro de 2009), no qual se destaca a matriz energética limpa do Brasil e sua contribuição para a concentração de gases causadores do efeito estufa, que é extremamente baixa em relação à maioria dos países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Nesse contexto, o desmatamento pesa contra o Brasil, e a experiência dos plantios comerciais faz frente a esse desafio com o manejo florestal responsável e a preservação ambiental. Desde quando os portugueses começaram a explorar o pau-brasil na Costa do Descobrimento, não há registro de uma única atividade econômica que tenha investido tanto em recuperação da Mata Atlântica quanto o setor de celulose.
Somente a Veracel, em proporção de um para um com o plantio comercial, mantém 104 mil hectares de área protegida para a preservação ambiental. Desses, mais de 3 mil hectares eram pasto, onde hoje há uma vegetação de cerca de um metro de altura, composta por espécies nativas que quase desapareceram.
Essa regeneração vai unir importantes fragmentos de mata nativa e criar corredores ecológicos. É a cultura do eucalipto que está viabilizando essa transformação. Quem sabe as próximas gerações conhecerão algo que nós mesmos não tivemos a oportunidade de ver? Apesar da demonstração de vitalidade e potencial do setor nacional, o mercado é quem dita as regras, e a crise colocou as empresas de celulose à prova.
Na Europa, o fechamento de unidades produtivas de papel confirmou o auge da crise, freou os projetos de expansão e forçou a redução de investimentos e atividades. Um remédio amargo, quando a expectativa era expandir a produção brasileira e gerar mais empregos e impostos. Diante de medidas tão drásticas, para colocar em operação novas linhas de produção de celulose, é necessário primeiro identificar sinais sólidos de recuperação da economia mundial.
Ao entrar no último trimestre do ano, a palavra de ordem ainda é cautela. O que não significa inércia nem pessimismo. Tudo leva a crer que 2010 será diferente. Para citar um fruto profícuo desse cenário, a criação da Fibria abre um novo capítulo na história da indústria brasileira. Por fim, é importante registrar que a crise financeira é um dos itens na agenda do setor de celulose.
Apesar do alinhamento com as estratégias de desenvolvimento e das contribuições econômicas e socioambientais do negócio, há um espaço importante a ser preenchido. Já se tornou um clichê, mas é necessário insistir: mesmo com a evolução apresentada na produção já alcançada pelo país, ainda falta equalizar as políticas públicas e o amparo da legislação; falta dinamizar os procedimentos legais e administrativos relacionados ao setor; falta avançar nas discussões; sair dos debates ideológicos e do conflito pouco construtivo para estabelecer um ambiente favorável ao desenvolvimento sustentável ? se não imune ? e fortalecido contra eventuais crises. São as ações que geram os resultados.