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Germano Aguiar Vieira

Diretor Florestal da Eldorado

As-CP-20

Um plano para o futuro
Falamos em sustentabilidade desde 1972, portanto há quase 50 anos. Em 1974, quando estava escolhendo o meu futuro acadêmico, optei pela engenharia florestal exatamente por essa razão, queria entender sobre ecologia para preservar a natureza e poder ajudar o planeta.

Não foi bem isso o que aconteceu porque, naquela época, o Brasil despertava para o agronegócio de larga escala, e toda minha vida profissional foi gerenciando grandes projetos florestais. Entendi, com o passar do tempo, que sustentabilidade tinha um significado plural e complexo, envolvia interações entre várias comunidades vivas, fatores que ainda não controlamos e outros que sequer conhecemos.

Uma vez li a definição da ONU sobre essa palavra: “sustentabilidade é suprir as necessidades dos seres humanos sem comprometer a capacidade do planeta para atender às futuras gerações”. Vi também uma centena de outros conceitos e citações de vários pensadores em todo o mundo, que avalio como bem interessantes.
 
O químico alemão Michael Braungart diz que sustentabilidade é um termo ultrapassado e que os homens devem ser uma oportunidade para o planeta e não um fardo. Entendi nessa citação de Braungart que não podemos aumentar indefinidamente o uso da terra, mantendo-a viva o suficiente para nos atender, mas sim garantir sua exuberância.

Philippe Stark, designer francês, diz que o conceito de propriedade pode desaparecer e ser substituído por uma economia de aluguel, alguém que toma emprestado algo tem a responsabilidade de devolver nas mesmas condições que tomou. Afirma ainda que a reciclagem não é a solução, ela foi inventada para que pudéssemos continuar consumindo com consciência tranquila.

O homem atual, agrupado em suas comunidades, mede seu desenvolvimento e sua saúde com o PIB – Produto Interno Bruto, e isso não tem limites a seus olhos. Outra medida mais inteligente deve ser criada para darmos longevidade à natureza, que, de fato, sustenta a vida. Para mim, sustentabilidade pode ser definida como um plano com uma razoável visão do futuro, norteada por uma complexa rede de condicionantes, crenças e anseios de que o ser humano não abre mão.

De um modo geral, sou otimista e acredito que vamos encontrar uma governança para esse desafio, criando um modelo onde teremos um maior comprometimento das lideranças, medir de forma sistemática e eficaz os impactos das atividades humanas, investir em conhecimento científico para que possamos mitigar todos os efeitos negativos desses impactos, ter transparência nas relações com as partes, anexar o conceito de sustentabilidade em tudo que produzimos e criar um mecanismo de educação institucional para que esse conceito se torne um valor para todos.

Pois, como disse Pitágoras, “Eduque a criança para que não seja necessário punir os adultos”. Mas vamos trazer o conceito de sustentabilidade para nosso ambiente, o agronegócio, que tem papel fundamental nessa dinâmica de uso racional dos recursos naturais e que, para produzir nossos preciosos produtos, precisamos produzir com mais inteligência e menor consumo da natureza.

A agricultura mundial consome anualmente cerca de 200 milhões de toneladas de adubo e de maneira crescente, para produzir mais alimentos para que todo mundo coma o mínimo para sobreviver dignamente. Esses insumos tão necessários são inesgotáveis no planeta Terra? Até quando será permitido utilizarmos esses recursos para produzir florestas?

A mesma pergunta é válida para uso da água e de outros recursos naturais. E as alterações ambientais que vêm acontecendo em nosso planeta que não entendemos direito, como elevação da temperatura, mudança no regime das chuvas e desastres naturais? Sempre que me pergunto sobre sustentabilidade florestal, tento entender até quando meus olhos alcançam e me dão pistas do que preciso fazer hoje para poder continuar produzindo de maneira razoável.

Logo vêm todos esses temores quanto às mudanças climáticas, ao aumento da temperatura, à precipitação, ao uso de fertilizantes, agroquímicos, à conservação do solo e da biodiversidade. Qual o melhor manejo florestal que devo utilizar para fazer frente a essas adversidades diante de cenários que poderão acontecer?
 
Há pouco tempo, fizemos um estudo no MS sobre Manejo de Eucalipto e Mudanças Climáticas, com auxílio de profissionais da FBDS - Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável, utilizando modelagens mundialmente aceitas pela comunidade científica; queríamos entender quais alterações ambientais estão por vir, para criar uma trilha técnica a ser inserida em nosso manejo florestal, visando garantir níveis de produtividades sustentáveis. Ressalvando que se trata de modelos teóricos e que não são garantias irrefutáveis da verdade, o que nós encontramos não foram boas notícias.

Isso fez com que ajustássemos o nosso modelo de pesquisa florestal para uma visão menos otimista em termos de produtividade florestal e criar um modelo de produção mais adequado diante do que vimos. Utilizamos duas modelagens (Miroc e Hadgen) e analisamos temperatura, precipitação, ETo e déficit hídrico. Abaixo, como exemplo do trabalho, mostramos um gráfico com comparações de déficit hídrico nos períodos avaliados.
 
Com as informações recebidas, percebemos que precisávamos estabelecer rapidamente materiais genéticos que conseguiriam suportar esse novo ambiente, aumentar nosso conhecimento da dinâmica da planta e nos preparar para os possíveis aumentos de incidência de pragas e doenças. Estamos seguindo em frente com essa estratégia.
 
Como conclusão dessa curta análise sobre sustentabilidade, posso dizer que ainda não entendemos direito a abrangência desse conceito e não temos todas as respostas para vários sinais que estamos recebendo. Sabemos que muito trabalho duro está por vir para mantermos as produtividades atuais, mas estou confiante que o setor florestal brasileiro sempre foi pioneiro em dar respostas positivas frente a seus dilemas e acredito que continuaremos assim.