Líder Científico do PCMAF - Programa Cooperativo sobre Mecanização e Automação Florestal do IPEF - Instituto de Pesquisas e Est
Coautora: Beatriz Balista, Coordenadora Executiva do PCMAF - Programa Cooperativo sobre Mecanização e Automação Florestal do IPEF - Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais
A silvicultura brasileira ocupa papel de destaque na produção global de madeira, sustentada por níveis de produtividade notoriamente superiores à média mundial. O setor tem como base os gêneros Eucalyptus e Pinus, cultivados de forma intensiva e com elevado rigor técnico. Ainda assim, manter e ampliar esses índices produtivos não é tarefa simples. Enfrenta-se um cenário de desafios crescentes, especialmente no que se refere à produtividade operacional no campo, à escassez de mão de obra e à necessidade de evolução tecnológica.
Nesse contexto, a mecanização florestal assume papel central na busca por eficiência, segurança e sustentabilidade no setor.
Apesar dos avanços consolidados na mecanização da colheita florestal, é na silvicultura – com suas operações de preparo de solo, plantio, irrigação, adubação e tratos culturais – que se concentram os maiores gargalos.
Os dados mais recentes do Levantamento do Nível de Mecanização na Silvicultura 2024/2025, realizado pelo IPEF – Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais, indicam que o setor tem avançado, mas de forma desigual e ainda distante do potencial observado em outras fases do ciclo florestal.
A edição do levantamento, lançado neste mês durante o Congresso de Plantações Florestais - 2025, aponta que, embora haja crescimento da área mecanizada, persistem desafios significativos quanto à uniformidade da adoção tecnológica entre as empresas florestais. Para acessá-lo, clique na imagem em destaque na página seguinte.
O índice médio de mecanização de operações como plantio, por exemplo, ainda está aquém do necessário para garantir produtividade elevada com qualidade técnica. Tal lacuna se intensifica em regiões com topografia acidentada ou em empresas com menor capacidade de investimento.
Além das limitações técnicas, há fatores estruturais que afetam diretamente a expansão da mecanização: a escassez de mão de obra qualificada e a dificuldade de retenção de operadores no campo. A migração populacional para centros urbanos, somada à exigência física das funções operacionais, compromete a atratividade dessas atividades.
A mecanização, nesse cenário, representa não apenas uma alternativa tecnológica, mas uma estratégia fundamental para a manutenção das operações silviculturais, reduzindo a dependência de uma força de trabalho cada vez mais escassa.
Tecnologias aplicadas vêm sendo progressivamente incorporadas. O uso de plantadoras automáticas, sistemas de irrigação com acionamento remoto e sensores para detecção de falhas de plantio e crescimento é cada vez mais comum, nas empresas florestais.
Tais inovações, amplamente avaliadas em parceria com instituições de ensino e pesquisa, empresas prestadoras de serviços, fabricantes de máquinas e equipamento, que se conectam ao IPEF, têm demonstrado impactos concretos na produtividade e na qualidade das operações. A automação, embora ainda em fase inicial de adoção em muitas empresas, surge como um vetor promissor de transformação do setor, principalmente na área de produção de mudas.
Contudo, a inserção de tecnologia exige mais do que aquisição de máquinas, equipamentos, sensores e sistemas de monitoramento e controles modernos. É essencial desenvolver metodologias de avaliação operacional, promover formação técnica continuada das novas gerações e adaptar processos às realidades regionais. A diversidade de condições edafoclimáticas, topográficas e socioeconômicas do Brasil demanda soluções específicas, modulares e escaláveis.
A análise dos dados do Levantamento do Nível de Mecanização na Silvicultura 2024/2025 também trouxe inovações importantes, como a mensuração do uso de drones no monitoramento silvicultural e a criação de um indicador específico para o nível de mecanização do combate a incêndios.
Essas abordagens ampliam o entendimento da mecanização como um sistema que não se restringe ao plantio, mas abrange o cuidado, a vigilância e a proteção do ativo florestal ao longo de todo o ciclo produtivo.
O avanço da mecanização deve ser entendido como um processo sistêmico e contínuo, que exige planejamento estratégico, gestão por indicadores e articulação entre ciência, técnica e operação, além de envolver as empresas florestais, as empresas prestadoras de serviços e a academia.
O mapeamento periódico do nível de mecanização tem-se mostrado uma ferramenta poderosa de diagnóstico e apoio à tomada de decisão, fornecendo às empresas subsídios para avaliar suas práticas e direcionar investimentos de forma mais precisa e fundamentada.
A produtividade florestal no Brasil é, sem dúvida, referência global. No entanto, sua manutenção e expansão sustentável dependerão, cada vez mais, de decisões operacionais bem embasadas, da modernização dos processos e da adoção inteligente de tecnologias.
A mecanização não é um fim em si mesma, mas um meio estruturante para garantir qualidade, segurança e competitividade ao setor florestal brasileiro — que precisa ser, acima de tudo, eficiente e resiliente para continuar sendo referência mundial.
ACESSE (Copie e cole) - LEVANTAMENTO DO NÍVEL DE MECANIZAÇÃO NA SILVICULTURA:
https://www.ipef.br/publicacoes/nivel-de-mecanizacao-2024-2025/