Consultor Independente em Área Florestal Madeireira
Op-CP-29
Não é novidade que as florestas plantadas no Brasil apresentam produtividade e precocidade inigualáveis. A cada ano, há relatos sobre novos materiais genéticos ou novas técnicas, que permitem atingir novos patamares em produtividade e em qualidade. As florestas plantadas, compostas principalmente dos gêneros Eucalyptus e Pinus, são manejadas, em geral, de maneiras distintas.
Os eucaliptos são manejados basicamente para celulose, painéis, carvão ou lenha; ínfima porção é manejada para produzir toras para serrarias, laminadoras ou usinas de preservação. Os plantios de pinus são, em geral, manejados para produzir toras destinadas a serrarias ou laminadoras, sendo que os resíduos são destinados a celulose, painéis ou energia. Tanto os eucaliptos como os pinus são adequados para uso em construção civil.
No Brasil, em geral, a madeira é usada na construção civil apenas em vigamentos de telhados, assoalhos, batentes, portas e janelas, além de formas de concreto e escoramento durante obras em alvenaria. Nos estados do Sul, algumas empresas se dedicam ao ramo de construções em madeira, adotando cada uma seu próprio sistema. Nos demais estados, o uso de madeira na construção de casas é, aparentemente, declinante, não sendo permitido seu financiamento, e, em muitos casos, a construção é proibida.
Pode-se dizer que uma das razões para esse fraco desempenho é que não existe a adoção de um sistema construtivo adequado; assim, praticamente cada engenheiro, arquiteto ou carpinteiro desenvolve seu próprio projeto, incluindo o dimensionamento das peças e o desenho das uniões, devendo, muitas vezes, encomendar diretamente nas serrarias peças de madeira com bitolas diferenciadas, redundando em altos custos e grandes prazos para a construção.
Um sistema construtivo adequado é fundamental para construir com segurança e a custos competitivos. É o que ocorre, por exemplo, nos EUA e no Canadá, onde mais de 90% das casas e, atualmente, edifícios de até cinco pisos são construídos em madeira.
Lá é usado um sistema construtivo baseado em peças padronizadas de pequenas dimensões, portanto apropriado a madeiras de jovens florestas plantadas. Além disso, sua estrutura simples dispensa mão de obra especializada em fazer recortes e encaixes, o que permite construções rápidas, seguras, a preços acessíveis.
Esse sistema, desenvolvido na década de 1830, nos Estados Unidos, denominado balloon, foi posteriormente melhorado, transformando-se no platform, e tem sido adotado por vários países, incluindo Nova Zelândia, Austrália, Suécia, Finlândia e, atualmente, até pela China.
Esse sistema foi criado exatamente em uma época em que se escasseavam mão de obra especializada e grandes árvores, necessárias à produção de grandes vigas ou colunas usadas nas construções tradicionais. Exemplo do sistema platform é um conjunto de salas construído totalmente com madeira de eucalipto, em 1994, por técnicos do IPT no Instituto de Eletrotécnica e Energia, campus da USP, São Paulo.
Outro sistema foi desenvolvido recentemente na Europa: trata-se do CLT (Cross Laminated Timber), com o qual foi construído, em Londres, um edifício de apartamentos de nove pisos, com grande economia de materiais e de mão de obra. As paredes e outras peças estruturais foram produzidas e pré-cortadas na Áustria e transportadas até o local da construção em contêineres.
Vários países altamente desenvolvidos, como Canadá e Suécia, estão colocando, a cada dia, menos restrições a construções residenciais e comerciais em madeira. Os eucaliptos e os pinus, com várias espécies cultivadas no País, produzem madeiras de propriedades físicas e mecânicas bastante variadas e adequadas a diversos usos na construção civil, como vigas estruturais, pisos, portas, janelas, lambris, forros, guarnições e outros detalhes decorativos.
A escolha de espécies para plantio para a construção civil deve levar em consideração as condições ambientais do local onde serão feitas as culturas. Além de crescimento, é importante que os fustes tenham boa forma, e as propriedades físicas sejam adequadas aos usos pretendidos.
Assim, devem ser conhecidas as características físicas das madeiras dos materiais genéticos a serem cultivados. Dessas propriedades, destacam-se: densidade, estabilidade dimensional, coloração e outros aspectos visuais para usos aparentes, tais como forros, lambris, portas e janelas. Podemos, então, concluir que o modesto uso de madeira na construção civil no Brasil ocorre não por falta de madeira, de florestas plantadas ou nativas, mas por impedimentos de uso, em razão de legislações anacrônicas e falta de adoção de um sistema construtivo simples e efetivo.