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Sabrina de Branco

Vice-presidente Global de Sustentabilidade no Grupo Paper Excellence

AsCP22

A sustentabilidade já morreu?
É incrível como as pessoas conseguem se empolgar com novos conceitos, tendências e nomenclaturas, mas não demonstram a mesma motivação e empolgação para colocar a mão na massa e agir quando o mundo clama por socorro. Peço desculpas por começar este artigo dessa forma, mas é necessário.
 
Não foi uma nem duas vezes que fui confrontada por líderes empresariais com frases do tipo: “a sustentabilidade já morreu, é coisa do passado”. Claro que esse tipo de frase nunca é liberado em vão, sempre vem acompanhado da justificativa de que “ESG é a bola da vez e quem não acompanhar vai ficar pra trás”. 
 
Pra trás está ficando toda uma história de pessoas e organizações que, ao longo de décadas, vêm lutando para inserir temas de grande relevância nas pautas empresariais, do governo e de instituições financeiras. Muitos anos atrás, falava-se apenas em cumprir a legislação e as condicionantes das licenças ambientais. Depois, a responsabilidade social passou a ser timidamente inserida nas organizações.

Com o tempo, começamos a entender que, para que as empresas se mantivessem saudáveis, seria exigido mais do que apenas cumprir com suas obrigações. Elas precisariam fazer algo a mais, para realmente agregar valor à sociedade e conseguir a licença social. Em 1997, surgiu o conceito Triple Botton Line, ou o Tripé da Sustentabilidade, apresentado por John Elkington, trazendo os 3Ps da sustentabilidade: profit, planet e people, ou seja: lucro, planeta e pessoas. O conceito ganhou força e apresentava a sustentabilidade dividida em três principais pilares: econômico, ambiental e social.

Então, eu pergunto: como tudo isso e muito mais, que não está sendo mencionado aqui, pode ter se tornado coisa do passado e ter sido substituído pelo novo conceito ESG? Primeiro que, por mais que tenha virado uma febre nos últimos anos, o termo ESG surgiu 18 anos atrás, a partir de um documento intitulado Who cares win, elaborado pelo Pacto Global da ONU em conjunto com o Banco Mundial, que provocou as 50 principais instituições financeiras do mundo a pensarem em formas de integrar fatores ambientais, sociais e de governança ao mercado de capitais. 

Além disso, a sigla ESG não veio substituir o conceito de sustentabilidade. O que fez com que ela ganhasse tanta visibilidade ultimamente foi a crescente preocupação do setor financeiro com as questões relacionadas ao tema, levando as instituições a incluirem em sua análise de riscos questões ambientais, sociais e de governança. Quando isso passou a fazer parte da tomada de decisões sobre investimentos, o setor empresarial se viu pressionado a implementar e demonstrar ações efetivas no que tange a esses pilares.

E o que difere o Triple Botton Line do ESG? Na verdade, os pilares sociais e ambientais foram mantidos, o que mudou foi que, ao invés de olhar para o pilar econômico, olha-se para a governança. Mas por que isso? O econômico deixou de ser importante? Jamais. As empresas dependem dos investimentos financeiros e dos lucros para se manterem vivas. O que mudou foi o olhar de quem está liderando o processo. 

Quando as instituições financeiras passaram a olhar para a sustentabilidade, e elas são o próprio pilar econômico, no caso de liberação de investimentos, o foco passou a ser garantir que as empresas cumpram com os outros dois pilares do tripé (econômico e social), para, então, terem acesso ao dinheiro. É aí que entra a governança, mostrando como cada organização está estruturada para atender a esses requisitos.

Então, de forma simplificada, ESG nada mais é do que a visão do mercado de capitais sobre a sustentabilidade. Portanto o termo ESG não é uma evolução da sustentabilidade empresarial, mas sim a própria sustentabilidade empresarial, porém trabalhada sob a perspectiva de tornar mais claro o que é necessário fazer para que as empresas consigam continuar tendo acesso aos recursos e operando no longo prazo. 

Entender e aplicar os critérios ESG é investir na sustentabilidade, ou seja, na sobrevivência do seu negócio. Atuar de acordo com esses padrões aumenta a competitividade em todos os mercados, afinal, empresas preocupadas com questões ambientais, sociais e de governança demonstram solidez, melhor reputação e resiliência.

Portanto, mais do que comparar conceitos, precisamos saber, na prática, o que precisa ser feito para atender à urgência do planeta. Não tentem matar a sustentabilidade, pois nossa existência e a dos nossos negócios dependem integralmente dela. Por isso, foco no problema e não no conceito. Foco em falar menos e fazer mais.