Consultor de Tecnologia Florestal da Suzano Papel e Celulose
Op-CP-14
Busca-se o potencial produtivo do solo, muito embora, vez ou outra, sem conhecer suas limitações. Nessa busca, as práticas de manejo do solo têm-se mostrado importantes. Muito importantes. O manejo do solo tem-se destacado na obtenção de altas produtividades. Não obstante tenha sofrido uma mudança radical firmando-se como prática sustentável e de conservação, o preparo do solo na silvicultura enfrenta inúmeras dificuldades, principalmente decorrentes da evolução de outras práticas da silvicultura e da colheita.
Decorrem, principalmente, da grande quantidade de resíduos deixada na área após a colheita e da presença de tocos remanescentes em áreas de terceiro ciclo, para citar algumas. Manter o preparo do solo dentro do conceito de cultivo mínimo e garantir a qualidade da operação é um desafio que requer conhecimentos sobre o solo, sobre equipamentos e sobre o processo. Soluções precisam ser pensadas e novos critérios precisam ser estabelecidos, para que a qualidade do preparo seja garantida.
A busca de soluções óbvias e até fáceis para superar as dificuldades encontradas não tem sido um caminho interessante. Muito menos viável. Pode até representar perda de produtividade. Perspectivas existem, mas precisam ser encaradas sob novos conceitos ou sob a adequação de conceitos já firmados. Há 20 anos, o cultivo mínimo desbancou o cultivo intensivo como técnica de manejo de resíduo e preparo de solo na silvicultura.
Desde então, adequações e buscas por tecnologia têm sido uma constante. Porém, conceitualmente, muito pouco mudou: o equipamento básico de preparo é o mesmo e o volume de solo preparado evolui pouco. Exceto em solos coesos, onde o volume preparo é maior. Contudo, não temos certeza se seja suficiente para aquela condição.
Há certa unanimidade quanto ao atendimento às necessidades impostas. Planejamento é importante. Gestão tecnológica ainda mais. O preparo de solo deve merecê-los. Simplesmente não se pode errar em preparo do solo. É importante que se tenha consciência da necessidade de análises prévias que contemplem cultura antecessora, tipo de solo, capacidade de retenção de água, fertilidade, textura, estrutura, profundidade e camadas compactadas.
Também importante é considerar os resíduos presentes na área e os tocos. Parece muito óbvio, mas certamente nem todo preparo é feito com base nessas análises. O simples fato de se utilizar a mesma tecnologia de preparo em Latossolos e Argissolos já evidencia o que foi dito. A regulagem do equipamento e sua capacidade de realizar as operações para as quais foi desenvolvido também é motivo de análise.
Equipamentos desenvolvidos para realizar operações conjugadas - tal como o preparo do solo e a adubação – nem sempre é a melhor opção. A presença de resíduos limita a aplicação do adubo, embora possa não limitar o volume de solo mobilizado. A presença de tocos limita o volume de solo mobilizado. E é um desastre para a aplicação do adubo.
Melhor, então, seria desvincular as operações e não insistir na busca de qualidade com as operações conjugadas. Em áreas de tocos, como outro exemplo de busca fácil da solução, é preciso fazer o preparo em cova – e é até possível mecanizar - mobilizando menor volume de solo. Porém, deve-se estar ciente de que a redução no volume mobilizado pode implicar em perda de produtividade.
Antes de se buscar perspectivas para o preparo do solo, é fundamental que se tenha claro o que se pretende com a operação. Por exemplo, com operações conjugadas, que associam preparo de solo e adubação, situação que é muito comum. Pode-se agradar a um e descontentar a outro. Ou desagradar a ambos. Parece certo que custa menos conjugar operações. Menos fácil é entender que o custo pode ser maior.
O conceito mais recentemente incorporado na prática de preparo de solo é o de precisão. Embora muito mais aplicado às atividades como adubação, controle de plantas daninhas e colheita, para citar algumas, a perspectiva de aplicação na atividade de preparo do solo é boa. Pode-se monitorar e registrar a profundidade de preparo em toda a área.
Sem dúvida alguma, o conceito de precisão é fundamental para melhorar o controle de qualidade das operações e dar maior clareza às decisões operacionais e técnicas, assim como, nortear os programas de P&D. Porém, devemos estar atentos ao fato de que, dentre todas as operações que têm reflexo direto na produtividade, o preparo de solo é a única que não pode ser refeita. Não sem que se tenha um custo altíssimo.
Significa simplesmente refazer tudo. Nesse negócio chamado de preparo do solo, não é difícil entender que o fundamental é não errar. Temos que evoluir no conceito do preparo do solo e buscar soluções que permitam acompanhar a evolução das outras atividades que lhe causam impactos, tal como a colheita. Temos que repensar as operações conjugadas, no sentido de termos claro se ela própria não é o maior limitante à obtenção da qualidade no preparo do solo.
Equipamentos especializados podem ser mais eficientes e dar melhores resultados do que equipamentos generalistas. O conceito de precisão deve possibilitar a garantia da qualidade e não apenas o seu registro. Há que se buscar estabelecer níveis críticos para volume de solo mobilizado. Finalmente, melhorar o preparo de solo passa também por melhorar atividades que lhe estão associadas e que compõem a silvicultura e o manejo.
Atividades não vinculadas a grandes investimentos – máquinas e equipamentos – como na colheita. Compare-se como se planta e como se colhe. A qualidade parece mais comum na colheita. Parece lógico pensar que investir mais em como se planta seja necessário para se ter mais qualidade que, nesse caso, significa mais produtividade.